“Projeto traz sucessão à minha propriedade”

Vale do Taquari

“Projeto traz sucessão à minha propriedade”

A Cooperativa Dália Alimentos de Encantado entregou ontem à tarde o 3º condomínio associativo de leite. Composto por 13 produtores de Forquetinha, Arroio do Meio, Travesseiro e Progresso, recebeu investimento de R$ 5 milhões. Proposta alia tecnologia, eficiência e produção em escala.

“Projeto traz sucessão à minha propriedade”
Vale do Taquari

O produtor Nelson Nicolai, de Forquetinha, 62, abandonou a atividade leiteira por falta de mão de obra há cinco anos. “Minha mulher ficou doente e sozinho ficou impossível continuar. Vendi as 20 vacas e fui morar na cidade.”

Com o modelo associativo integrado por mais 12 famílias de Forquetinha, Travesseiro, Arroio do Meio e Progresso, Nicolai retoma a produção, dessa vez em uma estrutura que une tecnologia, eficiência, qualidade e escala. “Só o cooperativismo faz isso. Aqui minha propriedade voltou a ter sucessão e eu pude recomeçar a fazer o que eu gosto, produzir alimento.”

Para Nicolai, nesse modelo, a neta Sabrina de 9 anos poderá dar continuidade à tradição da família em produzir leite, sem a obrigação de ficar na propriedade. Ela terá a possibilidade de ter um emprego na cidade, com garantia de folgas e férias e ao mesmo tempo manter uma renda alternativa aqui no condomínio, destaca.

O filho Ivan, 38, é o mais jovem associado do grupo. Alojará 36 animais. Sem incentivos e com a infraestrutura precária, calcula um investimento de R$ 500 mil para atender as exigências do mercado. “Estava decidido a parar. A rotina é muito árdua e o lucro cada vez menor. Produzir de forma coletiva é a saída, um modelo empregado na Europa a décadas.” Durante o estágio na Alemanha, atuou na criação de gado leiteiro e suínos por 18 meses.

Eloir Lohmann, de Arroio do Meio, preside o grupo e fala da praticidade do sistema de ordenha operado por três robôs. Elimina o trabalho braçal, garante o máximo de eficiência, ameniza a falta de mão de obra e conseguimos produzir em escala, comenta.

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Investimento de R$ 100 milhões

Durante a inauguração do complexo ontem à tarde, Gilberto Piccinini, presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, destacou que nos últimos anos a cooperativa aplicou mais de R$ 100 milhões no parque industrial e projetos tecnológicos do segmento leite.

Destaca o pioneirismo e a auto-estima do produtor. “Buscamos desenvolver a atividade de forma empresarial, com tecnologia e o máximo de eficiência. Ao mesmo tempo incentivamos as famílias a mudar sua cultura e trabalhar de forma coletiva, unidos.”

Para o secretário da SDR, Tarcisio Minetto, os condomínios associativos surgem como alternativa ao gargalo da ausência de sucessores, baixa produtividade e qualidade. Com a nova modalidade, os produtores diluem custos de produção e obtêm maior produtividade, resume.

O gerente da Delaval, responsável pela instalação dos robôs, Rafael Garcia, destaca que a tecnologia facilita a vida do produtor. “Nada substitui a união dos associados. Esses robôs são apenas ferramentas e sem o comando do homem nada pode ser feito.”

No estado, desde 2013, foram instalados 11 equipamentos, sendo nove pela Dália e dois de forma particular.

Inclusão social

Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, presidente-executivo da Dália Alimentos, criticou a ausência de projetos por parte dos governos estadual e federal para incentivar a adoção desses modelos. Cita o esforço da cooperativa e dos municípios envolvidos em promover a inclusão social e aumentar a renda das famílias. “Temos 13 produtores, que multiplicados por uma média de quatro integrantes por família, conseguimos reunir 52 pessoas.”

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado, Lauro Baum, a robotização incrementa a produção e facilita a vida do produtor, mas não considera o sistema uma tendência no setor pelo alto investimento. “É uma alternativa quando feita de forma coletiva e ajuda a manter a produção, tendo em vista que a maioria das nossas propriedades não tem sucessão.”

Nos próximos meses, será inaugurado o último condomínio, em construção Candelária. Além disso, a cooperativa projeta investir R$ 95 milhões na construção de um frigorífico de aves, fábrica de ração, farinhas e incubatório em Arroio do Meio.

Para Piccinini (d), a Cosuel tem a missão de levar tecnologia e eficiência aos produtores

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Valor adicionado cresce

Para o prefeito em exercício, Áureo Scherer, o empreendimento mostra o crescimento do setor primário. Também reforça o avanço das políticas de incentivo para manter os jovens no campo. Das 900 propriedades, 10% têm sucessão garantida.

Destaca os incentivos concedidos a vários projetos da cooperativa nos últimos anos (fábrica de leite em pó, supermercado, condomínio leiteiro e o complexo avícola). “Em valores soma R$ 3 milhões com serviços de máquinas e compra de áreas.”

O setor primário representa 14,86% na economia, com uma movimentação financeira de R$ 126,7 milhões, em 2015. Na cadeia leiteira, são 460 produtores. A produção chega a 24 milhões de litros.

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