Geólogo avalia vestígios de povos antigos

Vale do Taquari

Geólogo avalia vestígios de povos antigos

Profissional veio de São Paulo até a região para verificar artefatos arqueológicos

Geólogo avalia vestígios de povos antigos
Vale do Taquari

O pesquisador e geólogo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o lajeadense Paulo Roberto Martini, voltou à região em agosto para uma pesquisa de campo em Arroio do Meio. Ele já retornou, na semana passada, para as instalações do Inpe em São José dos Campos (SP) com diversos artefatos feitos com pedra polida e lascada, típico dos antigos caçadores.

Parte do material, como pontas de flecha de fina artesania, foi encontrada às margens do Rio Forqueta, e também nos roçados do bairro Forqueta e localidades vizinhas, como Linha Cairu, em Arroio do Meio. Os artefatos polidos são comuns, explica Martini, se comparados com outros descritos na literatura científica tradicional como pré-colombianos ou tupis-guaranis.

“Os lascados, entretanto, são bem diferenciados. Não só pelo fino artesanato de lapidação, mas principalmente pelo design do esculturamento. Permitem colocar a região como berço de linhagens muito mais antigas”, acredita o geólogo.

Segundo Martini, o objetivo da pesquisa é demonstrar que os locais verificados em Arroio do Meio foram revisitados por diferentes paleo-povoamentos, muito antes da chegada dos primeiros colonos. Ele explica que os padrões de lascamento apontam para a presença de uma cultura que permite correlação com outra, africana, bem mais antiga e distante.

“O tipo de lascamento é semelhante ao africano. A cultura do entalhamento é a mesma. Ela saiu da África entre os anos de 12.000 e 4.000 anos antes do presente, e estava ali em Arroio do Meio. Descobrir como isso ocorreu é um bom desafio para a ciência”, provoca. De acordo com ele, há semelhanças também com artefatos encontrados na África Oriental, que datam de 1,4 milhão de anos.

Alguns objetos encontrados pelo pesquisador foram levados ao Inpe, em São José dos Campos (SP)

Alguns objetos encontrados pelo pesquisador foram levados ao Inpe, em São José dos Campos (SP)

“Artesões eram muito habilidosos”

O geólogo atenta para a correlação dos objetos encontrados com outros instrumentos em silex da cultura umbu, datada geralmente de 3 mil antes do presente arqueológico. “O artefato lascado em silex é muito bem trabalhado, uma verdadeira obra de arte. Os artesões locais eram muito habilidosos”, avalia.

Martini cita que as pontas de flexas com o suporte de calcedônias também são “finas obras de arte”. Segundo ele, o silex e as calcedônias demonstram que os sítios estudados foram ocupados – repetidamente – desde alguns milhares de anos pelos nativos. Mas são os instrumentos lascados, entretanto, que sustentam a tese sobre uma cultura ainda mais antiga que a umbu.

Saiba mais

Silex é uma rocha dura, composta de calcedônia e opala. Pode ser de cor ruiva, parda ou negra. Em termos populares, é a pederneira, uma pedra capaz de produzir centelhas ou faíscas se percutida entre si ou pelo ferro. Em virtude dessa capacidade recebeu, também, o nome de pedra-de-fogo. Foi utilizada nos séculos XVII e XVIII em peças de artilharia, como mosquetes, pistolas e bacamartes.

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