Falta de pediatras dificulta atendimento

Lajeado

Falta de pediatras dificulta atendimento

Insuficiência de especialistas obriga a consultas de crianças com clínicos-gerais

Falta de pediatras dificulta atendimento
Lajeado

A fila se formava por volta das 9h de ontem no posto de saúde do bairro Universitário. Dois terços das pessoas eram pais com crianças de colo. A resposta do atendente era semelhante para todos: não tem pediatra. Enquanto alguns recorriam a outras unidades da cidade, a maioria era encaminhada à UPA, que conta com atendimentos de clínicos-gerais.

Foi o caso do produtor rural Everton da Silva que precisou de um médico para o filho no fim de semana. Feridas na boca do nenê se formaram e a febre causou preocupação. Ao levá-lo no posto de saúde, não recebeu o atendimento pediátrico por não haver especialista.

O pai recorreu à UPA, mas não obteve um diagnóstico satisfatório. “Foi muito superficial, pois receitaram apenas paracetamol. Tive de mostrar onde seriam as prováveis causas, porque ele mal tocou no meu filho.”

A principal preocupação foi na segunda tentativa de consulta na mesma unidade de saúde. Conforme Silva, a médica que o atendeu acabou por receitar um medicamento para adulto, mas voltou atrás. “Ela estava com dúvidas na hora da receita. Ainda bem que percebeu antes e suspendeu a medicação”, conta.

Uma mãe que não quis se identificar afirmou que não é a primeira vez que necessita de atendimento pediátrico sem obter o serviço. Na última vez, o atendimento foi de clínico-geral. Ele receitou antibióticos para a filha. Ao terminar o tratamento, os sintomas voltaram. “Quando consegui um pediatra, ele disse que foram poucos dias de uso do remédio, o que causou resistência e minha filha teve que tomar medicação ainda mais forte por conta do erro”, desabafa.

Sem previsão para novas contratações

De acordo com o secretário de Saúde, Glademir Schwingel, do total de pacientes que procuram a UPA, 25% são crianças. A rede municipal conta com quatro médicos pediatras, que se revezam nos postos, atendendo uma população de 78,4 mil habitantes.

Schwingel afirma que no bairro São Cristóvão o atendimento é diário, pelo menos em um turno, e no bairro Universitário existe a possibilidade de consultas na clínica-escola da Univates.

O secretário descartou a possibilidade de novas contratações. “Não há plano para novas contratações. Até porque há escassez desse profissional no mercado. Mas, dentro do que o município se propõe, os pediatras estão dando conta da demanda.”

Schwingel enfatiza que nem todos os atendimentos às crianças devem ser feitos exclusivamente por pediatras. “São necessários e fundamentais no atendimento às crianças, mas é preciso entender que em casos comuns podem ser atendidos por clínicos-gerais.”

Situação semelhante no país

Em 2014, o Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) afirmou que a escassez dessa especialidade era preocupante e seguia uma tendência nacional.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o problema começou faz 14 anos, com a criação do Programa Saúde da Família, do governo federal. Ficou definido que as crianças seriam atendidas pelo médico da família, e não mais por pediatras. Isso desestimulou a busca dos recém-formados pela especialidade.

A Organização Mundial da saúde (OMS) recomenda um médico para cada mil habitantes. No Brasil, há 17 pediatras para cada cem mil pessoas. No estado, há 2.779 médicos pediatras registrados (um para cada 400 habitantes). Em Lajeado, conforme o Cremers, há um pediatra para cada 275 moradores.

Os números não condizem com a situação vivida por milhares de famílias no RS. A explicação vem do próprio Conselho de Medicina: muitos registrados não seguem a profissão ou migram para especificações avançadas, que têm melhor remuneração.

A falta desses profissionais chegou a virar caso de Justiça na cidade. Há dois anos, pais inconformados com a falta de pediatras no pronto atendimento da Unimed, no Hospital Bruno Born (HBB), ingressaram com ação no Ministério Público (MP). Estavam contrariados com a decisão de atender somente casos de urgência e emergência. A falta de pediatra fez com que uma mães procurasse ainda a Polícia Civil para registrar o caso.

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