Com olhar firme no tradicionalismo gaúcho e no desenvolvimento social, o Centro de Culturas Tradicionalistas (CCT) Querência Amada apresenta novidade à comunidade. Na sexta-feira à noite, a atividade em prol da Semana Farroupilha contou com missa gaudéria, celebrada pelos padres Eduardo Schuster e Iuri Hummes. O evento, realizado no galpão da entidade, no loteamento Morada do Sol, também comemora os seis anos de existência do grupo.
A grande atração foi o teatro de sombras, coordenado por Antônio Lopes, 58, conhecido como “tio Tony”. A encenação por trás de uma cortina branca mostrou em imagens a importância da família e da manutenção dos costumes. Depois da atividade, foi servido jantar típico gaúcho, preparado em fogão campeiro. O cardápio não podia ser diferente: vaca atolada, feijoada, osso de porco e batata-doce.
Para Lopes, a peça Sombras de um Pai retrata a atual geração que se perde em meio à tecnologia e às inúmeras distrações que desagregam as famílias. “Surgiu da necessidade de falar sobre a família, pelo teatro social, utilizando a técnica milenar que é o teatro com sombras. Utilizamos essa técnica para abordar os valores da família, que estão alterados.”
O teatro contrasta o conflito de valores instaurado pelas gerações. Novos comportamentos em relação a drogas e sexo, comparados aos costumes antigos, também foram relacionados.
A peça foi definida e elaborada em dois dias, após reunião no Centro Cultural 25 de Julho. Na data do encontro, Lopes escreveu o roteiro e no dia seguinte reuniu 11 atores para formar o elenco. O teatro social tem o objetivo de alcançar famílias, semear conceitos e despertar a reflexão em comunidades carentes. “Nossa essência maior é levar a arte onde há conflito para tentar empoderar as pessoas e trabalhar o indivíduo para que ele perceba sua importância na sociedade.” O trabalho é realizado desde o ano passado quando foram encenadas duas apresentações. Uma foi realizada no CCT e a outra na Associação Pró-Desenvolvimento de Languiru.

Teatro de sombras aborda o conflito de gerações. Na história, pai tenta manter laços familiares diante da ruptura dos valores da sociedade
Diversidade no conceito tradicionalista
O patrão do CCT, Alencar Rodrigues dos Santos, 50, destaca a importância da estância tradicionalista na formação comunitária. O diferencial e também o desafio da instituição é manter a cultura gaúcha, somada com outras atividades. “Abrimos alas para outras culturas. Também temos parceria com a associação de bairros que está se formando e com instituições religiosas, porque é importante o crédulo religioso. O CCT é aberto para todo mundo, acolhemos a todos que nos procuram.”
A realização de eventos é o foco para expandir o quadro social. Todos os meses é realizada alguma atividade. A mais atrativa é o Festival de Carreteiro, realizado em outubro. A iniciativa reúne seis tipos da comida gaudéria, preparadas em panelas de ferro, no fogo de chão. Hoje o Querência Amada conta com 140 casais associados, que têm direito a realizar festas como casamento, aniversário, formatura e confirmação.
Fundador celebra
O CCT Querência Amada é o resultado do sonho do ex-funcionário público José Hélio da Silva, 66. Em janeiro de 2010, decidiu fundar a instituição no loteamento 8. O planejamento contava com identidade estética única, marcada pela aproximação aos costumes, ferramentas e celebrações tradicionais para o gaúcho. Junto com a proposta, decidiu incrementar com outras culturas, proporcionando o desenvolvimento do setor.
O galpão tem áreas para bailes e apresentações musicais. O local destinado para a roda de mate tem uma base em tijolos à vista onde são queimadas toras de lenha. Bancos foram colocados no entorno para dar conforto. Outro ponto interessante é o Departamento de Cultura, onde ficam utensílios campeiros. “É uma cultura que tenho no sangue, corre nas veias.”
Apesar de ter consolidado o CCT, Silva sonha alto e lembra dos primeiros meses como patrão. “Muitas pessoas diziam que eu estava louco por querer abrir outra entidade tradicionalista. Penso que daqui a quatro anos possamos estar com a infraestrutura como sonhei.”