Macaco Branco: comunidade tomada pelo mato

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Macaco Branco: comunidade tomada pelo mato

Casas e propriedades agrícolas abandonadas evidenciam o êxodo rural na localidade conhecida pelas geadas e pelos primatas. Menos de 20 famílias ainda moram no local.

Macaco Branco: comunidade tomada pelo mato
Vale do Taquari

O agricultor Acemar Maria dos Santos, 77, é um dos moradores mais antigos de Macaco Branco. Na década de 1970, quando chegou à localidade para trabalhar na lavoura de fumo, surpreendeu-se com a quantidade de macacos em meio ao mato fechado. “Era que nem passarinho.”

Embora seja um dos habitantes mais antigos, desconhece a origem da denominação da comunidade. “Macaco tem aqui até os dias de hoje. Mas não me lembro de ter visto um branco”, estranha.

Quem esclarece essa questão é o professor de História, Eleno Ogliari. A palavra branco teria surgido por causa das constantes geadas no local. “O pessoal dizia que estava tão frio que iria branquear os macacos. O nome pegou.”

No caminho até Macaco Branco, não há placas de sinalização. A localidade fica a cerca de dez quilômetros da área urbana de Boqueirão do Leão, no meio de Vila Schmidt e Quatro Léguas. Os próprios moradores têm dificuldades para afirmar onde começa uma e termina a outra.

Outrora populoso devido às plantações de fumo, Macaco Branco chegou a ter cerca de 200 moradores. Hoje menos de 15 famílias compõem a comunidade. “A maioria das terras era arrendada e as pessoas saíram daqui em busca de melhores salários”, relata o agricultor Flávio Brito, 53.

A quantidade de casas, fornos e galpões de fumo abandonados evidencia o êxodo dos moradores. Brito lamenta: “Ficaram só os mais velhos. Talvez daqui a alguns anos a comunidade vai sumir”, prevê.

Sem escolas, igreja ou comércio

No passado, Macaco Branco chegou a ter duas instituições de ensino. “Tinha mais de 40 crianças em cada sala de aula. Como era muito longe para se locomover, os antigos construíram duas escolas, uma em cada ponta da comunidade”, conta a moradora Salete de Oliveira.

Chamado de Felipe Holtz, um dos educandários fechou há cerca de 25 anos. O prédio foi demolido e no local estão plantados pinhos. O prédio da outra instituição foi desativado. Hoje, uma família mora no local.

Não há igreja ou comércio na localidade. Os moradores se deslocam até Quatro Léguas e Vila Schmidt para fazer compras ou ir à missa.

Sede não é utilizada há mais de uma década

Sede não é utilizada há mais de uma década

Campo do Macaco

Macaco Branco já teve um clube de futebol, o Esporte Clube União. O ex-morador Darci Pedro Ferrari, 65, se recorda da época em que a bola rolava todo o fim de semana. “O time era competitivo. Quando dava jogo, sempre iam parar uns três no hospital”, brinca.

A competência da equipe é confirmada por Santos. “Era difícil a gente perder uma partida.” Por 15 anos, ele se responsabilizou por cuidar da sede conhecida nas comunidades vizinhas como “Campo do Macaco”.

Ironicamente, hoje as árvores tomam conta da antiga sede futebolística. Os jogos acabaram faz mais de uma década e o clube está apenas na memória da população.

Primórdios de Macaco Branco

O blog História Profissional fez uma pesquisa sobre as primeiras famílias a se instalarem em Boqueirão do Leão no século 19. Conforme o site, Ludovico Kniephoff foi proprietário de uma área que se estende desde Macaco Branco, Matão, Quatro Léguas, Colônia São Paulo, municípios de Barros Cassal e Progresso.

Outro colonizador que tinha terras em Macaco Branco era José Antônio Ferreira, o “Zeca”. Ele se destacou como líder maragato e participou da Revolta Federalista.

Nas décadas passadas, Macaco Branco era uma localidade de Santa Cruz do Sul. Ela foi repassada para Boqueirão do Leão quando a cidade se emancipou de Lajeado.

Mapa QUE LUGAR É ESSESobre Boqueirão do Leão

*De acordo com o site da prefeitura de Boqueirão do Leão, os primeiros habitantes a se instalarem no local, por volta de 1800, foram açorianos. Entre eles, estava a família de Francisco de Almeida. Cerca de 120 anos depois, chegaram italianos e castelhanos;

*Boqueirão do Leão pertenceu à Vila Fão até 1920 e ao distrito de Progresso até 1949. Após, passou para Lajeado. A emancipação foi conquistada em plebiscito realizado no dia 20 de setembro de 1987;

*Segundo o blog História Profissional, nos primeiros 70 anos da colonização, Boqueirão do Leão era conhecido como Herval de São João. Em 1870, o nome Boqueirão do Leão foi utilizado pela primeira vez em documentos oficiais;

*A palavra “boqueirão” significa uma abertura nas serras por onde passam os rios;

*O blog aponta duas hipóteses para a adição da palavra “leão” no nome da cidade. Na primeira (e mais aceita), os primeiros colonizadores teriam matado um animal selvagem parecido com um leão. A outra tese é que haveria uma família Leão entre os primeiros moradores;

*Localizada na divisa do Vale do Taquari com o do Rio Pardo, Boqueirão do Leão é conhecido pela Festa da Polenta e pelas belezas naturais;

*Segundo o IBGE 2013, a população de Boqueirão do Leão é composta por quase oito mil pessoas.

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