A Hora elegeu cinco temas para análise dos candidatos a prefeito. Mobilidade urbana, controle de gastos, segurança pública, melhor aproveitamento do porto e a questão das enchentes aliada aos programas para habitação popular. Esses são alguns dos desafios para o futuro gestor. Rafael Mallmann (PMDB) tenta a reeleição. Na oposião, outros dois candidatos com o sobrenome Malmann. Aloísio (PSD) e Joel (PR) concorrem ao Executivo.
Mobilidade urbana
Uma das maiores preocupações de Estrela é com o crescente número de veículos e a ineficiência do transporte coletivo. Nos últimos anos, o assunto foi incluído no plano estratégico elaborado em conjunto com instituições privadas e governo municipal.
Investimentos em infraestrutura, com asfaltamento de vias por meio de financiamento, ampliação de ruas e novos acessos tentam facilitar o fluxo. Na área central, algumas melhorias foram a instalação de quebra-molas e mudanças de sentidos de ruas. No bairro Boa União, houve melhora significativa com a obra de alargamento do trevo, mas ainda insuficiente para resolver o problema dos congestionamentos. A abertura e pavimentação da rua João Fell, que liga a Rota do Sol à BR-386, foi outra obra importante.
Entre os desafios do futuro governo, está organizar o estacionamento na área comercial. O assunto é recorrente em encontros e reuniões de entidades empresariais.
Em síntese, falta um projeto duradouro e completo, que contemple todos os meios de transporte. Construção de túneis, viadutos e abertura de novas vias para desafogar os pontos mais críticos deveriam constar no plano orçamentário municipal.
O que fará para melhorar a mobilidade urbana e evitar congestionamentos na cidade? Quais obras viárias projeta?
Aloísio Mallmann – Precisamos desenvolver projetos para melhorar de forma imediata o fluxo do trânsito. O projeto da avenida sul leste, por exemplo, prevê a interligação de toda parte sul do município com a BR-386. Precisamos rever os semáforos para garantir fluidez do trânsito em alguns pontos. A interligação entre bairros é outro gargalo da cidade. Pretendemos fazer mudanças na ligação do bairro Boa União com o São José e com o centro. É necessário criar uma elevada na BR-386 para ligar esses locais. A rótula do Boa União deve passar por modificações. Precisamos desviar o trânsito oriundo da parte alta da cidade. As rótulas de acesso ao Morada 1 e 2 não foram projetadas corretamente. Vamos propor um programa de calçamento para todas as vias urbanas e corredores públicos. No interior, daremos atenção especial à manutenção dos acessos e buscaremos mecanismos para pavimentar as vias.
Joel Mallmann – Queremos valorizar o pedestre e o ciclista. Vamos incentivar a utilização de transporte coletivo. Faremos um trabalho de conscientização para isso. Os passeios públicos serão melhorados. Daremos início a um processo de construção de ciclovias. Queremos resolver um problema antigo no bairro Boa União. Pretendemos construir uma travessia, pode ser um túnel ou viaduto, que ligue o local ao bairro Pinheiros e, até o outro lado da cidade, na rua Coronel Brito. Vamos precisar de recursos do governo federal porque não teremos condições de viabilizar a obra com recursos próprios.
Rafael Mallmann – Contratamos e estamos em fase final de um Plano de Mobilidade Urbana. Por meio dele, vamos pensar Estrela para os próximos 30 anos. Paralelo a isso, fizemos alguns investimentos como a ligação do bairro das Indústrias com o centro, para desafogar a avenida Rio Branco, e viabilizamos a ligação da Rota do Sol com a BR-386. Essas foram obras estruturantes executadas para desafogar o trânsito do município. Nos próximos anos pensamos em investir em obras como a ligação da rua Coronel Brito com a Nova União. Pretendemos fazer a ligação do bairro São José com o Boa União. Já fizemos parte da pavimentação e pretendemos, durante o segundo mandato, terminar essa obra. Na área rural, pretendemos fazer obras como na estrada Arroio do Ouro e da Linha Geralda, que já estamos pavimentando. Durante o primeiro mandato, conseguimos R$11 milhões, por meio do PAC para viabilizar pavimentação.
Controle de gastos
Estrela tem mais de mil servidores públicos, com um alto índice de CCs em relação aos demais municípios da região. Inclusive, sucedem-se reclamações por não ter sido feito concurso para cargos específicos. Além do mais, o governo contraiu uma série de financiamentos que permitiram obras e investimentos relevantes. Por outro lado, pode limitar as ações do próximo prefeito.
Diante disso, exige-se gestão arrojada, controle sobre os gastos e mais transparência. Conter despesas faz sobrar mais recursos para áreas prioritárias, como saúde, educação, infraestrutura, segurança.
Como equilibrar as despesas diante do orçamento e tentar reduzir o aparelhamento da máquina?
Aloísio Mallmann – Vamos propor um projeto de mudança. Estamos cientes que Estrela é um dos municípios mais endividados do Vale do Taquari. O funcionalismo é a maior empresa da cidade. Pretendemos fazer uma gestão de choque com a redução de secretarias e de CCs. Vamos valorizar funcionários de carreira e com perfil técnico. A capacitação dos servidores será uma das prioridades. Isso contribuirá na qualificação do atendimento da população.
Joel Mallmann – Hoje temos em torno de 1.300 servidores entre os de carreira, contratados e CCs. Em outros governos, esse número não ultrapassava os 800. Precisamos fazer um enxugamento para reduzir os custos com a folha de pagamento. Se necessário, vamos fazer junções de secretarias. Essa deverá ser uma realidade no nosso município durante nossa gestão. A medida poderá viabilizar investimentos na infraestrutura e em outras áreas essenciais.
Rafael Mallmann – Estrela está bem administrada. Somos o 12º município em gestão fiscal no RS. Estamos entre as cem melhores prefeituras do país em gestão fiscal. Fizemos uma organização no nosso governo. Para viabilizar obras e investimentos, buscamos recursos com o governo federal. Aplicamos a receita na ampliação dos serviços oferecidos para a população. Quanto à questão financeira, está equilibradíssima, sendo referência em gestão fiscal.
Segurança
Assaltos, roubos, furtos, homicídios. O clima de insegurança que se alastra estado afora também acomete os estrelenses. O compromisso de oferecer segurança ao cidadão recai primeiro sobre o Estado, mas mergulhado em uma crise financeira e sem respostas efetivas, o Piratini transfere a responsabilidade aos municípios.
Estrela não tem sistema de videomonitoramento e guarda municipal. A disputa por pontos de tráfico se intensifica e o descontrole para alimentar o vício aumenta a violência. À medida que a cidade cresce, os problemas decorrentes da urbanização avançam junto.
Aloísio Mallmann – Vamos ampliar investimento no sistema de videomonitoramento. Devemos oferecer condições para os comerciantes terem mais segurança. Temos a intenção de criar uma guarda municipal para contribuir com os trabalhos da Polícia Civil e da Brigada Militar para garantir mais segurança aos bairros e área rural. Precisamos de uma sala para monitorar as imagens. Buscaremos parcerias público-privadas para viabilizar essa proposta. A iluminação pública será qualificada na área urbana e rural. Pretendemos oferecer moradias para polícias e suas famílias. Consideramos que, dessa forma, vamos atrair mais brigadianos para a cidade e ampliar segurança da população.
Joel Mallmann – Segurança é uma obrigatoriedade do Estado. O município, a princípio, sai isento dessa obrigatoriedade. Para contribuir nessa área, devemos promover ações que possamos executar. Vamos ampliar o número de câmeras de videomonitoramento. São poucos os locais que se utiliza tecnologia para aprimorar a segurança. Pretendemos ampliar e modernizar o sistema de iluminação. Para isso, buscaremos recursos para viabilizar essa proposta. Vamos atrair brigadianos para o município. Muitos deles preferem ficar nos municípios onde as famílias residem. Pretendemos disponibilizar imóveis para atraí-los. O governo anterior trouxe para Estrela o Curso de Formação de Soldados. Isso trouxe respeito para a cidade e os índices de criminalidade diminuíram em função do curso. Pretendemos buscar uma parceria com o governo do Estado para reduzir a situação de insegurança.
Rafael Mallmann – Estamos trabalhando junto com a Brigada Militar para que possamos fazer o videomonitoramento da cidade. Estamos com o projeto pronto. Nessa sexta-feira, a BM esteve reunida para analisar o modelo de implantação. O videomonitoramento é a nossa primeira proposta para uma ação mais efetiva de combate à criminalidade. A segunda proposta são os investimentos que estão sendo feitos em várias áreas. Uma delas é na educação. Colocamos mais de 450 vagas no turno inverso para tirar as crianças da rua. Na Smel, temos mais de 18 projetos voltados às crianças. O esporte foi uma atividade oferecidas a elas. Estamos investindo em prevenção, trazendo as crianças para a tutela do município, para que elas não fiquem expostas à criminalidade. O aumento do efetivo tem sido trabalhado em conjunto com o governo do Estado.
Porto subaproveitado
O complexo às margens do Rio Taquari alia ferrovia, rodovia e hidrovia. No entanto, falta interesse empresarial em usar os modais alternativos. Pelos trens, chegam insumos para fábricas de rações e milho. Pela hidrovia, é a mais osciosa do país. Neste ano, nenhuma embarcação saiu de Estrela em direção ao porto da capital ou de Rio Grande. Empresários alegam inviabilidade econômica para usar a hidrovia e ferrovia como alternativa logística. Não há garantia de entrega dos prazos, além da avaria nos produtos. Com isso, o uso das locomotivas não atende as necessidades do empresariado e, pelo Rio Taquari, não há condições para as embarcações navegarem todo o ano. Caminhões, opção mais cara, permanecem no topo, como alternativa mais viável para o transporte de insumos agrícolas e produtos manufaturados.
Muito se falou em impulsionar o uso do porto e da hidrovia, porém, para os empresários esse modal se mostrou incompatível financeiramente. É possível torná-lo atrativo para investidores. De que forma?
Aloísio Mallmann – O porto, no passado, foi um investimento inserido para promover o desenvolvimento e escoar a produção do Vale. Para nós ele é importante para impulsionar a navegação. O custo desse transporte é muito baixo, em média U$S 4. Enquanto a manutenção do quilômetro de asfalto, no transporte rodoviário, custa R$ 450. Hoje temos empresas de Estrela que estão usando esse modal para exportar para a Ásia. Essa é uma via sustentável. O uso do porto é fundamental para a busca de recursos e trazer mais investimentos para o município. A ferrovia é uma alternativa importante que traria benefícios e reduziria os custos para o setor primário.
Joel Mallmann – Esse é um problema que ultrapassa a esfera da municipalidade. Precisamos ser apoiadores. Quem gerencia o porto é o Estado. O município precisa demonstrar interesse e deve se oferecer para formar parcerias. Em outros processos eleitorais esse assunto foi discutido, mas pouco foi feito. Sobre esse tema prefiro me reservar. Precisamos entrar na administração para ter conhecimento daquilo que realmente podemos fazer. Muito se falou em aumentar o calado do rio, mas sabemos que essa medida não resolve a situação. São vários fatores que precisam ser viabilizados por técnicos, pessoas que realmente entendam, e não por aventureiros.
Rafael Mallmann – Desde o começo do mandato, trabalhamos para transferir a gestão do porto para o Estado. Antes a União fazia a gestão. Isso já conseguimos, então o primeiro passo foi dado. Sabemos da dificuldade de montar essa logística, para que se torne viável ao empreendedor. Paralelo a isso, conseguimos dar uso ao porto e ele não se torna mais um corpo estranho no município. A estrutura é parte integrante de Estrela. O local é palco da Multifeira e de grandes eventos do Vale do Taquari.
Enchente e habitação
Em praticamente todos os anos, acontecem episódios de cheias em Estrela. Todo um aparato deve estar organizado para atender a população, em especial nos bairros carentes. Projetos como o do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped), da UFRGS, serve como base para uma estratégia integrada de prevenção a desastres. A ferramenta é importante para antecipar a previsão de enchentes, mas não para evitá-la. A forma para evitar prejuízos está na transferência das famílias das áreas de risco. Processo iniciado com o programa de habitação em obras na localidade de Novo Paraíso. Ainda assim, há o desafio de convencer alguns moradores que relutam em se mudar.
Aloísio Mallmann – Acredito que o projeto habitacional Morada I e II não atingiu o objetivo de retirar as comunidades ribeirinhas dos locais de risco. Defendíamos a ideia de retirar as pessoas dos locais e removê-las para áreas próximas de onde elas residiam. Hoje elas serão colocados em uma região distante da cidade. Nesse espaço é necessário fazer investimentos, mas o município já está muito endividado. Precisamos intensificar a fiscalização para evitar novas edificações em áreas de cheias. As ligações entre bairros precisam ser feitas, para que as pessoas desses locais possam se deslocar com facilidade nessas situações. Precisamos criar um plano de habitação ou um auxílio-moradia. Esse projeto consiste em espaços, nas residências, que não sejam atingidos pelas cheias e as famílias não percam todos os móveis com a enchente.
Joel Mallmann – Não temos o poder divino. Não podemos evitar as enchentes. Precisamos ter um setor de fiscalização atuante para impedir construções em áreas de risco. No plano de governo, prevemos que a assistência social irá manter e ampliar a remoção de famílias que residem em áreas de risco para outras áreas. Vamos prestar todo atendimento necessário para as pessoas que trabalham nesses locais e não podem ser retiradas. A legislação proíbe edificações em locais abaixo da cota 24. Para quem está nessa região não existe mais condições de construir. Essa foi uma medida adotada por outros governos que nós manteremos.
Rafael Mallmann – Essa é uma preocupação do nosso governo e estamos trabalhando para resolver a situação. Construímos 250 casas para tirar as famílias ribeirinhas e eliminar parte do problema. A infraestrutura do Nova Morada I e II está pronta. Temos posto de saúde, escolas, creches, transportes escolar será ofertado para levar as crianças até a escola e transporte coletivo urbano para atender a população. Mas sabemos que o problema das cheias é uma situação quase inviável de se resolver e não depende apenas de nós. O Rio Taquari vem cortando vários municípios e seria necessária uma ação de contenção conjunta. Isso demandaria recursos financeiros inviáveis. A ação que estamos fazendo é retirar as famílias das áreas mais vulneráveis para levá-las a outro local. Fizemos a reestruturação da Defesa Civil. Transformamos ela em referência na região e no Estado.