Crime passional marca terceiro assassinato em 20 anos na cidade. Érica Rodrigues Portela, 22, foi morta a facadas, entre 6 e 7h de ontem. Ela deixou dois filhos.
O crime aconteceu no quitinete onde a vítima morava, na rua Leopoldo Grave. Após cometer o assassinato, o ex-companheiro, Lucas Misael Soares, 28, ligou para o pai, contando o que havia feito e dizendo que iria para Frederico Westphalen.
A Polícia Civil de Teutônia e Brigada Militar iniciaram buscas pelas rotas de ônibus para a cidade. A guarnição prendeu o homem na rodoviária de Languiru, em Teutônia. O casal tinha histórico de brigas e chegou a ir à delegacia, mas a mulher preferiu não registrar ocorrência.
Segundo relato policial, ela pedia apenas a separação e o afastamento do companheiro. O suspeito não residia mais na casa e retornou à moradia no domingo, sob alegação de ver os filhos. Ele passou a noite na sala e pela manhã teria matado a ex-mulher. Um dos filhos estava na casa. Os vizinhos não ouviram gritos.
Quando a BM chegou ao local, ela estava esfaqueada, enrolada em um cobertor. A faca usada no crime foi encontrada em uma lixeira próxima da casa.
O Conselho Tutelar encaminhou o menino mais novo para a casa de uma cuidadora. O mais velho permaneceu no Centro Municipal de Ensino até a chegada de familiares de Novo Hamburgo. As crianças receberam a notícia à tarde. O avô, João Paulo dos Santos Rodrigues, 65, ficará com a guarda definitiva. As agentes do conselho encaminharam transferência escolar e orientaram sobre trâmites legais.
Família tentou ajudar na separação
Os problemas entre o casal chegaram ao estágio crítico fazia dois meses, quando ela determinou o fim da relação. O irmão da vítima, Davi Rodrigues, 44, conhecia Lucas desde criança. “Ele era estúpido, grosseiro. Parecia uma pessoa fria, debochada. Ele colocava medo nela.”
Temendo pelas consequências do relacionamento, Davi e o pai saíram de Nova Hartz para conversar com os dois. Durante o encontro em Westfália, Misael prometeu que não faria nenhum mal à Érica ou às crianças. Segundo Davi, ele amava muito os filhos. “A princípio, ele ficou revoltado com a separação e premeditou tudo”, acredita.
“Eu não queria deixar ela aqui”
O pai de Érica, João Paulo, conversou com a filha pela última vez no fim de semana. No sábado, foi a Westfália ficar com ela e com os netos.
A Hora – Qual sua relação com o Misael?
Pai – Ele nunca nos recebeu bem, mas nós tentamos contornar a situação. Se tivesse algum atrito entre nós, poderia complicar entre eles, então fui relevando, mas muito preocupado. Ele tem um temperamento muito agressivo e, como pai, sempre tive essa preocupação.
Quando ficaram sabendo das brigas e quais as medidas adotadas para apaziguar?
Pai – Soubemos há pouco tempo. A reação dele nós percebemos desde o começo. Eu perguntava para ela, pedia para minhas outras filhas se ele era agressivo com ela, mas a Érica falava pouco para que não tivesse atrito. Ela segurava as pontas. Eu não queria deixar ela aqui. Ela não queria, falava que trabalhou por muito tempo para sustentar as crianças e dar estudo para os filhos. Também dizia que não deixaria o emprego que tanto gostava. Queria fazer carreira, estudar e não queria ir para uma cidade onde o salário não fosse bom. Ela queria dar o melhor para os filhos. Tentamos de diversas maneiras, mas ela não queria ir embora. Como era de maior, eu não podia obrigar ela, apenas interceder e pedir que Deus guardasse ela. Jamais acreditava que ele fosse fazer isso, porque era muito calmo com ela. Desconfiei que estava iludindo ela e planejando de fazer alguma coisa com ela.
Qual o sentimento que persiste?
Pai – Alguns anos atrás, meu pensamento seria bem diferente, mas como sou cristão não tenho sentimento de vingança. A violência gera violência. Em parte, estou mais tranquilo porque ele está preso. Isso não vai trazer minha filha de volta, mas alivia saber que está preso. Que a lei tome providências, porque ele foi um covarde. Se quisesse fazer algo, que fizesse para uma pessoa adulta, não uma pessoa fisicamente frágil. Ele foi muito covarde.
Como foi o primeiro contato com os netos depois do episódio?
Pai – O pessoal do conselho foi aberto com eles. Disseram que a mãe foi morar no céu e que o pai tinha ido fazer um tratamento por não estar muito bem. Eu ficarei com a guarda deles e darei todo o amparo a eles, colocarei na escola e farei o que puder por eles.