O motorista Dionei Vargas ficou desempregado no início deste mês. Aos 32 anos, o ex-funcionário de uma distribuidora de energia foi demitido junto com outros colegas após a empresa ser adquirida por um grupo de investidores do setor.
O desligamento pegou Vargas de surpresa. Surgiu em um momento difícil para os trabalhadores do ramo. Números do Caged mostram o fechamento de 39 postos de motoristas na região em diferentes segmentos de transporte no primeiro semestre desse ano.
“Está muito difícil arrumar um serviço. Muitos colegas estão em situação semelhante à minha”, relata. Diante da necessidade de manter a renda familiar, Vargas encaminhou o seguro de desemprego e faz bicos em uma empresa de carga e descarga. Enquanto isso, continua encaminhando currículos a espera de uma nova oportunidade.
Os números da empregabilidade também são afetados por pessoas que deixam o mercado formal de trabalho, mas continuam exercendo algum tipo de atividade remunerada. É o caso de João Barros, 39. Ele trabalhava em uma metalúrgica e prestava serviço como carregador fora do horário de trabalho.
O serviço informal acabou oferecendo mais rentabilidade, e Barros decidiu pedir demissão do antigo emprego. “Para mim, foi uma questão de oportunidade”, aponta. Segundo o profissional, apesar de não ter acesso aos direitos da CLT, como férias remuneradas e 13º salário, a possibilidade de ampliar a renda se tornou mais vantajosa.
Lismaira Gomes, 19, afirma que as oportunidades são menores para pessoas com a faixa etária entre 18 e 21 anos. Ela trabalhava na linha de produção de uma indústria alimentícia e foi demitida em abril. Ficou quase quatro meses sem serviço até conseguir uma vaga na área de divulgação em uma escola profissionalizante.
Mesmo satisfeita com a nova oportunidade, Lismaira lamenta pela quantidade de amigos e conhecidos que buscam vagas sem sucesso. “A principal dificuldade é para o primeiro emprego, pois quase todos exigem experiência.”
Os índices de empregabilidade no Vale do Taquari continuam acima da média do país e do estado. O número de desempregados chegou a 11,3% da população no primeiro semestre deste ano, conforme pesquisa do IBGE.
Dados do Caged mostram saldo negativo de quase 550 mil vagas no período em todo o país. No RS, as demissões superaram as admissões em 15,4 mil.
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Avanço na indústria
O segmento industrial liderou a abertura de novas vagas no semestre. Os serviços de alimentador de linha de produção, trabalhador polivalente em confecção calçadista e preparador de calçados foram os que tiveram melhor saldo de empregos.
O saldo positivo reflete a retomada da confiança na indústria gaúcha. Pesquisa da Fiergs aponta crescimento no indicador de otimismo dos empresários do setor, após 29 meses de quedas em sequência.
Para o presidente da entidade, Heitor José Müller, os resultados demonstram a esperança de melhoria após o término do impasse político no país. Segundo ele, a expectativa é por medidas de ajuste capazes de solucionar a crise fiscal e avanço em reformas estruturais.
Na avaliação da Fiergs, a confiança do setor é fundamental para a retomada dos investimentos. Proprietário de um atelier de calçados em Teutônia, Vanderlei Weiand concorda com a entidade. Segundo ele, a imprevisibilidade da crise eleva os riscos aos empresários.
“Com a recessão fica mais arriscado investir na compra de maquinário ou ampliação da estrutura”, ressalta. Para Weiand, o cenário atual mistura esperança e apreensão, uma vez que o setor calçadista depende da recuperação do mercado interno para crescer.
Conforme o empresário, a elevação nos empregos do segmento se deve principalmente à alta do dólar. A elevação da moeda americana reduziu o número de calçados importados no mercado nacional e aumentou os pedidos de exportação.
“Em comparação com o ano passado, faturamos mais no primeiro semestre”, destaca. Em relação à queda nos índices de emprego entre maio e junho, Weiand afirma ser um movimento normal motivado pela troca das coleções durante as mudanças de estação.
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Comércio aumenta exigência
Enquanto a indústria apresentou sinais de recuperação na empregabilidade, as vagas no comércio varejista diminuíram nos primeiros seis meses do ano. Ao todo, 1.077 vendedores perderam o emprego no período, enquanto 923 foram admitidos.
Gerente de uma loja de confecções em Lajeado, Daiana Belló, 34, afirma que, além das dificuldades na economia que afetam o setor, a mudança no perfil exigido para as vagas também influencia nos índices.
“Antigamente as pessoas achavam que quem não tinham uma profissão definida podia trabalhar no comércio”, lembra. Segundo ela, hoje a qualificação profissional é uma necessidade das lojas e uma exigência para os candidatos.
A unidade gerenciada por Daiana procura uma vendedora para substituir profissional que foi transferida. Todos os dias, ao menos cinco currículos são entregues na unidade. Quase a metade dos candidatos é convocada para entrevistas, mas a vaga segue sem ser preenchida.
Situação semelhante é vivenciada pela coordenadora de uma loja de roupas infantis, Cláudia Immich, 27. Com vagas disponíveis para o setor de vendas, afirma que a dificuldade para contratar decorre da falta de qualificação e também de disposição em cumprir o horário comercial e trabalhar com as metas estabelecidas.
“Mesmo estando desempregadas, algumas pessoas se recusam a trabalhar aos sábados, por exemplo”, relata. Para Cláudia, a mistura entre queda no número de vagas e as dificuldades encontradas pelo setor para contratar demonstram a falta de pessoas dispostas a se dedicar integralmente ao trabalho.