Antes da emancipação de Colinas, a estrada de 3,5 quilômetros entre a RS-129 e a RST-25 era conhecida como Picada Varanda. De acordo com moradores antigos, o nome surgiu pelo fato de as casas terem uma plataforma coberta, sem paredes externas, onde eram deixados móveis e utensílios de menor valor.
Entretanto, nos primeiros anos da década de 90, essa denominação foi questionada pelo morador Arseno Röhsig. “Ficava muito na contramão, parecia um nome escolhido em uma bodega”, justifica o agricultor aposentado de 86 anos.
Com a ajuda do então vereador de Estrela Írio Brum, ele organizou um abaixo-assinado solicitando a mudança do nome. A proposta teve adesão de 52 moradores, a maioria da população da comunidade na época.
A denominação escolhida para substituir Picada Varanda foi Linha Westfália. Era uma homenagem aos primeiros imigrantes alemães que se estabeleceram na comunidade. Eles falavam o dialeto westfaliano, também conhecido como sapato de pau. “Eram pessoas que trabalhavam muito. Foram elas que trouxeram o desenvolvimento para cá.”
Mesmo passadas mais de duas décadas, a denominação Picada Varanda continua lembrada e desperta saudades. “Por mim podia ter ficado Picada Varanda, pois foi algo que os antigos moradores escolheram”, relata a moradora Helga Höfliger, 67. Segundo ela, até hoje, há pessoas que ainda conhecem a localidade pela antiga alcunha.
Mudança na conta de luz
Cerca de 60 pessoas moram em Linha Westfália. A maioria trabalha com a criação de animais e é associada da Cosuel ou da Languiru.
A localidade não tem igreja e os habitantes frequentam os templos do centro de Colinas – localizado a cerca de cinco quilômetros. Um dos orgulhos de Linha Westfália é a rede de abastecimento de água inaugurada na década de 80.
O atual presidente é Romeu Lindemann, 64. Ele conta que a comunidade também é conhecida como Beira do Trilho, nome dado à estrada pela distribuidora de energia elétrica AES Sul. “Já pedi por que usam esse endereço. Dizem que é uma denominação interna.”
A troca de nomes já rendeu situações inusitadas a Lindemann. “Usei a conta de luz para fazer cadastros em lojas. Depois o pessoal veio pedir para familiares por que eu não dizia o lugar onde morava de verdade”, relembra Lindemann.
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A cultura do sapato de pau
O dialeto westfaliano surgiu em meados de 1.400 na região norte da Alemanha. É considerado um “baixo alemão” com influências da língua holandesa e pronúncia semelhante ao inglês. Ficou conhecido como dialeto sapato de pau pelo fato de as pessoas que falavam utilizarem sapatos feitos com madeira.
Com o envelhecimento ou morte dos antigos moradores, o dialeto é pouco utilizado. “Os jovens não têm interesse de aprender”, lamenta Röhsig. Ele lembra com saudades da época em que o sapato de pau era ensinado para as crianças antes do próprio português.
