A greve dos servidores do Detran completou um mês ontem. Enquanto grevistas e governo travam uma queda de braço sem avanços, a formação de condutores e renovações está parada no RS. De acordo com os números do órgão, 22,08 mil exames deixaram de ser aplicados no estado neste período.
Em Lajeado, pelo menos cem novos condutores aguardam o fim da paralisação para poder prestar os exames para carteira de motorista. Desses, a maioria ainda precisa fazer a prova teórica, suspensa desde o dia 11 de julho, quando iniciou a greve. Já as provas práticas chegaram a ser realizadas neste período, porém, há duas semanas, nenhum exame foi aplicado em um dos Centros de Formação de Condutores (CFCs).
Além da suspensão de provas para novos condutores, motoristas em processo de reciclagem também são prejudicados. O entregador de materiais de construção, Márcio Roberto Christmann, espera desde o mês passado para recuperar o direito de dirigir.
Ele teve a habilitação suspensa devido a uma multa por excesso de velocidade registrada em 2014, em Soledade. Em junho deste ano, entregou a carteira e iniciou o curso de reciclagem e estava pronto para realizar a prova exigida para voltar a dirigir. Porém, com a greve, os planos acabaram mudando. “Eu tirei férias para resolver isso, e agora, o período está acabando e ainda não posso dirigir”, reclama Christmann.
Ele se mostra preocupado com a proximidade da volta ao trabalho. “Meus chefes me deslocaram para outro setor antes das férias. Mas volto segunda-feira e isso não foi resolvido.” Uma nova data foi marcada para a prova, justamente a manhã desta segunda-feira. “Vou perder a manhã de trabalho e quem vai pagar isso, o Detran?”
Além dos problemas profissionais, o entregador ainda aponta as dificuldades pessoais desde que ficou sem carteira. Casado e pai de duas meninas, é o único da família com habilitação. Suspensa, os programas de família ficaram bastante limitados. “A gente acaba ficando só em casa, às vezes, uns amigos até oferecem carona, mas é chato. A gente tem o carro e não pode usar”, ressalta apontado para o veículo estacionado na garagem.
Negociações não avançam
Enquanto os problemas acumulam-se, governo e grevistas parecem cada vez mais longe de um acordo. Nessa quarta-feira de manhã, os servidores realizaram ato em Porto Alegre e apresentaram uma série de medidas para tentar reduzir os custos de operação do órgão. Eles afirmam que com isso seria viabilizado o reajuste de 26%.
De acordo com o Sindicato dos Servidores do Detran (Sindet), caso as medidas fossem adotadas, o Estado poderia arrecadar até R$ 555 milhões por ano. Para apresentar essas propostas, o grupo exige o compromisso do Executivo em investir nas propostas e garantir o aumento dos vencimentos da categoria. Segundo os cálculos do próprio sindicato, 5% do valor arrecadado com as propostas apresentadas seria necessário para cumprir as exigências.
Apesar das proposições, nenhuma reunião entre grevistas e governo foi realizada até agora e nem agendada. O governo Sartori diz que só inicia as negociações após o fim da greve.
O que querem os grevistas
• Concessão das progressões de nível, de forma retroativa à data do protocolo, fazendo cumprir o Plano de Carreira dos Servidores do Órgão.
• Publicação e efetivação das promoções funcionais do Detran de 2015 e 2016.
• Implementação do Programa de Melhoria da Qualidade de Vida.
• Fim dos descontos da Gratificação de Examinador (Graex) em todos os afastamentos previstos em lei.
• Ampliação dos índices da gratificação de produtividade de trânsito.
• Qualificação dos serviços do órgão, especialmente no que tange à qualificação dos locais de exames de prática de direção.