Propriedades localizadas em áreas retiradas, sem moradores nas redondezas, tornam criadores de gado alvos fáceis para ação de criminosos. O abigeato – furto de animais – é um dos principais problemas enfrentados no campo. No primeiro semestre de 2015, esse tipo de crime havia crescido 19%, somando 3.976 casos, ante 3.342 registros do mesmo período do ano anterior.
Conforme o tenente-coronel Rogério Martins Xavier, coordenador do Comitê de Prevenção ao Abigeato e à Carne Clandestina do Estado, o baixo efetivo, o avanço do desemprego e a impunidade contribuem para o número de casos registrar seguidas altas nos últimos quatro anos.
Cita a criação de patrulhas rurais, compostas por policiais, técnicos das áreas tributária e sanitária, em um esforço conjunto para barrar a ação dos bandidos, que encontram na rede de abates clandestinos o alimento para o crime. São atendidos 197 municípios localizados ao longo da fronteira.
Em 2012, segundo levantamento da Seapi, foram cerca de sete mil ocorrências, com furto de quase 25 mil animais, entre bovinos, ovinos e equinos. No RS, 20% dos abates são clandestinos. Crime traz um prejuízo de R$ 1 bilhão para a economia.
Na região, Taquari, Teutônia e Fazenda Vilanova registram o maior número de casos, mais de 50 nos últimos seis meses. De acordo com o tenente Marcio Dias, da Brigada Militar de Taquari, a área rural é muito extensa e algumas fazendas estão localizadas em comunidades onde não há moradores, o que facilita a ação de ladrões. “Precisaríamos ter uma caminhonete para agilizar o deslocamento e poder intensificar as rondas. Temos pessoal, mas é um crime difícil de ser combatido.”
O abigeato não é o único crime registrado no meio rural. Há ainda furtos de produtos agrícolas, insumos, equipamentos, máquinas e até assaltos às propriedades, que assustam agricultores e elevam as estatísticas.
“Dá vontade de desistir da atividade”
Entre as vítimas, está o criador teutoniense Maciel Wiebusch. Na manhã dessa quarta-feira, ele foi surpreendido quando avisado que um bando de ladrões havia invadido a propriedade de Linha Conceição, interior de Fazenda Vilanova.
Foram levadas 29 cabeças de gado (novilhas prenhas, vacas e bois), das raças angus e hereford. Ao todo, mantinha 55 animais no local. Cada exemplar pesava em média 450 quilos. O prejuízo é de R$ 70 mil.
Sem moradores nas imediações, os criminosos quebraram o cadeado do portão principal, cortaram a cerca e encostaram um caminhão truck no brete para facilitar o carregamento. Os animais foram recolhidos do campo à mangueira com ajuda de cavalos. A ação durou pelo menos duas horas. Apenas quatro exemplares foram deixados. “Não tinha mais espaço no veículo.”
Wiebusch procura informações do paradeiro dos animais. “Dá vontade de vender tudo e desistir da atividade. Sabemos das condições de trabalho da Polícia Civil e da Brigada, mas isso está vergonhoso”, desabafa.
Em dois anos, esta foi a segunda vez que a propriedade é alvo de abigeato. Em 2014, foram furtadas três cabeças. O crime é recorrente na região. Há cerca de dois meses, outras 26 cabeças foram furtadas em outra fazenda. Semanalmente, são registrados abates de bovinos, no entanto, em menor número.
Câmeras inibem ações
Para amedrontar os bandidos, o Executivo de Fazenda Vilanova, em parceria com criadores, instalou 11 câmeras de vigilância, nas 12 saídas existentes entre a BR-386 e a divisa com Bom Retiro do Sul, no lado direito da rodovia, sentido interior-capital.
O investimento foi de R$ 36 mil. A administração municipal ficou responsável pela manutenção e funcionamento dos equipamentos, que têm dois anos de garantia. “Esse crime ocorreu numa área ainda sem monitoramento por câmeras”, lamenta o prefeito Pedro Dornelles.
Na área onde existe o monitoramento durante 24h por dia, nos últimos sete meses, foi registrado apenas um furto. As imagens do caminhão foram entregues à Policia Civil.
Dornelles aponta a elaboração de um projeto para instalar outras 30 câmeras do lado esquerdo da rodovia. O custo total será de R$ 150 mil.
Punição aumenta
Publicada no Diário Oficial da União nessa quarta, a lei de autoria do deputado Afonso Hamm (PP/RS) endurece as penas para os crimes de furto, recepção de animais e de carne clandestina.
A norma tipifica o abigeato como furto qualificado. A pena será de dois a cinco anos de reclusão. O mesmo vale para quem transportar, armazenar, adquirir ou vender carne sem procedência.