Cerca de 200 pessoas participaram de protesto contra o parcelamento de salários de servidores estaduais. A mobilização ocorreu na manhã de ontem, no centro. Com cartazes, bandeiras e palavras de ordem, o grupo alertava para a situação vivida por profissionais da saúde, educação e segurança. Da Praça da Matriz, eles saíram em passeata pela rua Júlio de Castilhos e av. Benjamin Constant.
A maior parte do manifestantes era de professores de cidades da região. A adesão dos profissionais causou suspensão de aulas em pelo menos nove escolas. De acordo com o presidente do Cepers regional, Oséias Souza de Freitas, a categoria manterá as atividades em horário reduzido até a normalização dos salários.
À noite, educadores do Colégio Estadual Castelo Branco realizaram um velório simbólico na praça. A ação fez alusão à falta de investimentos na três principais áreas do serviço público.
A Polícia Civil realiza operação padrão desde o dia 1º de agosto, data em que foi registrado o sexto parcelamento seguido aos servidores. Registros de ocorrências simples, como de fatos atípicos e perda de documentos, estão suspensos, assim como atuação fora de expediente. Servidores da Susepe interromperam a realização de audiências.
Servidores da 16ª Coordenadoria de Saúde reclamam de problemas de estrutura e de planejamento. De acordo com a diretora do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Sindisepe), Lúcia Jungles, as dificuldades agravam os impactos causados pelo parcelamento de salários. “Temos preocupação com todo o serviço público, a regionalização da saúde e a situação dos hospitais de pequeno porte”, afirma. Segundo ela, toda a população usa o SUS, mesmo que de forma indireta.
Pelo básico
Professora aposentada, Maria da Silva, 56, veio de Taquari para participar do protesto. Depois de 37 anos de atuação na rede pública, relata dificuldades para conseguir atender as demandas mensais. “A nossa rotina é de viver sem saber se vamos ter como pagar as contas.”
Segundo ela, os servidores desistem de planejar viagens ou momentos de lazer. “Já é difícil conseguir o básico.”
A realidade é similar à enfrentada pelo casal de professores, Alan da Silva, 38, e Fernanda Klafke, 29. Ambos atuam na profissão faz cerca de cinco anos. Com a sequência de parcelamentos, precisaram adequar a rotina. “Tu quer sair com a família e não consegue, ou fica sem dinheiro para o restante do mês.”
Com a limitação orçamentária, precisaram adiar a construção da casa própria. Conforme Fernanda, a ajuda de familiares é a forma encontrada para reduzir os custos. O apartamento, alugado da irmã, custa menos que a média do mercado. Em alguns dias da semana, as refeições são feitas na casa de familiares.
Para ela, a situação tem efeito não só na rotina familiar e na sala de aula, mas também no planejamento profissional. “É desumano não ter acesso ao próprio salário depois de um mês de trabalho.”
Fernanda diz ter orgulho da profissão, mas alega pensar em mudar de área diante das dificuldades.
Estado alega limitação
Durante encontro com empresários do sul do estado, o governador, José Ivo Sartori, abordou a mobilização feita pelos servidores e apresentou o panorama da economia gaúcha. Também criticou o que classificou como “clima de pânico criado por organizações sindicais”.
Sartori defendeu as medidas adotadas e afirmou que o parcelamento não é um ato de vontade política.”A situação dos últimos anos é pior que os cenários enfrentados em outros períodos e vemos isso no dia a dia, com juros altos, desemprego e recessão. Nosso papel no Estado é enfrentar essas dificuldades, o que estamos cumprindo desde o primeiro dia de governo.”
De acordo com o governador, a folha de pagamento do Executivo compromete 75% da receita estadual, já os inativos são 55% do montante. Além dele, o chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, comentou sobre o caso. “Se houvesse alternativa para revertermos o parcelamento dos salários neste momento, seríamos os primeiros a adotá-la.”
Para ele, as críticas devem servir como pressão para busca de alternativas diante do agravamento da situação econômica gaúcha. Biolchi ainda reconheceu as dificuldades enfrentadas pelos servidores e os impactos causados pela ação na sociedade.