As ruas e praças recebem uma movimentação diferente desde quarta-feira à noite. Pessoas das mais variadas idades caminham com o celular na mão, aparentemente sem direção definida. São jogadores do aplicativo Pokémon Go, febre mundial que chegou ao Brasil faz menos de dois dias e já alcança centenas de milhares de usuários.
Por volta das 14h de ontem, mais de 20 jogadores circulavam pela Praça da Matriz à procura dos pokémons. Estudante de Engenharia, Tiago Scapin, 27, contabilizava 26 capturas e 46 personagens em menos de 24 horas.
Ele já jogava outros aplicativos com sistema semelhante ao do Pokémon Go, baseado na interação entre o ambiente real e o virtual, e estava ansioso para a estreia nacional. Para Scapin, um dos motivos para o sucesso do programa é a própria franquia Pokémon.
“Sempre fui fã, tanto dos jogos antigos quando do desenho da televisão”, aponta. Segundo o estudante, sua infância e a da maior parte das pessoas da mesma geração foi marcada por pokebolas, pikachus e outros elementos agora presentes no aplicativo.
Para Lucas, professor de 31 anos, além da nostalgia da infância, a dinâmica do jogo é outro fator capaz de atrair multidões. Se nas partidas de gameboy ele explorava um ambiente virtual à procura dos pokémons, hoje procura pelo monstrinhos no mundo real.
“O mais legal é sair de casa para jogar”, afirma. O sistema do Pokémon Go usa o GPS do celular para determinar a localização do usuário. No aplicativo, aparece a projeção do mapa da cidade, por onde os pokémons podem ser encontrados. Ao se deparar com um deles, o aplicativo utiliza a câmera do celular para projetar o bicho no cenário real. É neste momento que ocorrem as capturas.
O sistema também estabelece pontos de encontro, os Pokestops e Ginásios. No primeiro deles, os jogadores encontram um número maior de pokémons e outros itens especiais. No segundo, os usuários se encontram para disputar batalhas.
Na Praça da Matriz, existem os dois pontos, o que explica a grande quantidade de “caçadores” no local. De acordo com o professor, na quarta-feira à noite, logo após o lançamento, mais de dez pessoas circulavam pela quadra.
Novas amizades
Os estudantes universitários João Brancher, 17, João Munhoz, 18, e Bruno Cé, 18, passaram a madrugada de quarta para quinta-feira conectados no aplicativo. Ontem à tarde, cada um deles contabilizava entre 70 e cem monstrinhos capturados.
Para eles, o principal atrativo é a interação entre o virtual e o real. Afirma que o sistema permite fazer amizades reais com outros jogadores, uma vez que possibilita a interação e até mesmo a troca de bichos entre eles. “Conhecemos muitas pessoas hoje (ontem) graças ao pokémon”, diz Cé.
O aplicativo também trouxe mudanças na rotina da cuidadora de crianças Marisa Schmidt, 41. Responsável por João e Lucas, de 11 e 12 anos, respectivamente, aproveitou a tarde ensolarada de ontem para levar os meninos a uma caçada. Os três saíram do bairro Carneiros e foram até a Univates, onde encontraram o maior número de pokémons.
Ao todo, os meninos contabilizaram 21 capturas em poucas horas. Para eles, a diversão com o jogo é maior em relação aos demais videogames por causa da chance de brincar ao ar livre sem deixar de lado a diversão virtual.
Mania mundial
Disponível para IOS (Iphone) e Android, o Pokémon Go chegou por último na América Latina. Lançado no dia 5 de julho nos Estados Unidos, Autrália e Nova Zelândia, causou frisson e situações inusitadas. Casos de atropelamentos, acidentes, assaltos e até pessoas que deixaram o trabalho para se dedicar ao jogo viraram notícia.
Hoje, alcança os cinco continentes e se tornou mais popular que aplicativos como Tinder e o Twitter. O jogo também impulsionou as ações da companhia Nintendo. Em apenas dois dias, o incremento das ações da empresa foi de 36%, chegando a US$ 7,5 bilhões.
Saiba mais
Pokémon – Franquia nascida com um jogo de videogame do gênero RPG lançado em 1996. O jogo ganhou novas versões e foi adaptado em filmes e séries animadas, obtendo grande sucesso no Brasil a partir do fim dos anos de 1990.
Pikachu – Mais conhecido dos Pokémons, é um dos 151 bichinhos originais da franquia e mascote do protagonista, o treinador Ash. Ao longo dos anos, mais de 700 monstrinhos apareceram nos jogos e desenhos da série.
Pokebola – Esfera vermelha e branca utilizada para capturar os pokémons. No jogo Go, o usuário utiliza a câmera do celular para enxergar os bichos no cenário real e desliza o dedo na tela para jogar a pokebola e realizar a captura.