Queda na produção eleva preço do leite

Vale do Taquari

Queda na produção eleva preço do leite

Em 6 meses, problemas meteorológicos e alta dos custos aumentam valor em 32%

Queda na produção eleva preço do leite
Vale do Taquari

Fraudes, custos elevados e problemas meteorológicos impactam de forma negativa na cadeia leiteira. A queda na oferta da matéria-prima faz o preço do litro ser reajustado mês a mês desde o começo do ano.

De janeiro a junho, o acumulado chega a 32%. O valor a ser pago pelo litro entregue pelo produtor à indústria no mês de julho é o maior já verificado no histórico do Conselho Estadual do Leite (Conseleite-RS), de acordo com o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Eduardo Belisário Finamore.

Dados divulgados pela entidade indicam uma remuneração de R$ 1,31 frente ao valor de R$ 1,18 consolidado em junho. “Nos últimos três meses (maio-julho), o aumento chega a 27,3%.”

Outros picos foram registrados em 2007 (R$ 1,13), 2009 (R$ 1,16) e 2013 (R$ 1,15), em valores corrigidos pelo IPCA. Isso reflete diretamente nas gôndolas dos mercados. No ano (janeiro-julho de 2016), o valor de referência do leite UHT subiu 83,41%, seguindo pelo pasteurizado, com alta 55,03% e o leite em pó, com 17,92%. “Depois de dois anos com preços congelados, 2016 sinaliza ser um ano de boa remuneração para o setor lácteo”, acrescenta Finamore.

O presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, prevê que em setembro o valor pago apresente algum ajuste. Contudo, não deve retornar aos patamares de 2015 frente a um cenário impactado pela importação e fatores meteorológicos. A Agas prevê uma baixa de 4% no preço do leite a partir de setembro. Em julho, o litro de leite longa vida integral ficou cotado a R$ 3,76, alta de 0,8% em relação ao mês anterior.

Guerra alerta sobre a importância de manter o controle do mercado interno uma vez que há leite entrando de outros países no Brasil, o que ameaça a rentabilidade da atividade. O preço só vem se mantendo, explica ele, pela redução da captação de leite nos tambos gaúchos, média de 6% nos últimos seis meses.

Além disso, a alta dos custos de produção no campo e na indústria também impactou nos valores apurados. “O milho subiu, os combustíveis subiram. Estamos em um patamar em que é possível trabalhar e remunerar produtores e indústria”, frisa.

Jorge Rodrigues, presidente do Conseleite, destaca o impacto provocado pelo clima no desenvolvimento das pastagens de inverno. “A ração ficou muito cara e isso desestimulou os pecuaristas a fazer novos investimentos ou até desistir da atividade. O resultado é uma produtividade menor.”

De janeiro a abril, a produção de leite no Brasil caiu 18,4%, reflexo da falta de chuvas para as pastagens. Com isso, a indústria não conseguiu fazer estoque suficiente para a entressafra e a oferta do produto está menor. Alguns estabelecimentos de São Paulo fazem racionamento do estoque, limitando as compras por cliente. No RS, essa hipótese é descartada no momento.

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Produtor comemora

Enquanto o consumidor reclama do aumento de produtos como nata, queijo e leite UHT, o produtor comemora a alta na cotação. O casal Maurício e Loreci Johann, de Santa Clara do Sul, receberá R$ 1,64 por litro entregue à indústria durante o mês de julho. Em um ano, o valor pago subiu R$ 0,70. “Estávamos com saldo negativo, pois nos últimos 12 meses os custos duplicaram”, calcula Johann.

Com um plantel de 40 animais, 22 em lactação, por dia, são vendidos uma média de 400 litros. Johann deixou o emprego de motorista há cinco anos e começou a investir na atividade até então coordenada pela mulher. Foram aplicados R$ 150 na construção de um prédio, sala de ordenha, resfriador e um trator.

Para ele, o preço do litro deveria se manter em uma média de R$ 1,60. Os reajustes deveriam ser concedidos de acordo com o aumento do valor pago pelos insumos, para a atividade garantir um lucro estável ao mês. Na propriedade, não há sucessores. A filha do casal cursa Enfermagem e não pretende dar continuidade ao trabalho dos pais. “Agora pretendem alterar as regras para aposentadoria. Tudo ajuda a desestimular o jovem a continuar na lavoura”, aponta Loreci.

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