Os primeiros livros para a biblioteca comunitária do bairro Santo Antônio foram entregues, ontem, por integrantes da Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat). Ao todo, 80 exemplares, de 25 títulos, foram doados pelos escritores para a iniciativa criada por uma estudante da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio (Ciep) e sua mãe.
Desde maio, Melissa, 14, e a mãe Júlia da Silva, 34, pensavam em como colocar a ação em prática. O projeto surgiu após um trabalho escolar. Com o início das atividades, a estudante que sonha estudar em colégio militar espera facilitar o acesso aos livros, estimular a leitura e o desenvolvimento cultural do bairro.
A distância entre o bairro e o centro e a limitação de horário de atendimento da biblioteca pública são indicados como obstáculos para o desenvolvimento da leitura. “Tem gente que trabalha o dia todo e não tem como chegar lá em tempo. Muitos não leem em função disso, assim vai ficar mais fácil.”
As obras de gêneros diversos doadas para o projeto são resultado do trabalho dos 29 escritores da academia regional. Entre as publicações, também está a 5ª edição da coletânea Escritos/Escritores, com textos locais e de autores de todo o país. Eles estarão disponíveis para empréstimo à comunidade em um espaço disponibilizado na escola. Doações para o projeto também podem ser feitas no educandário.
Da casa para o bairro
A leitura é um hábito estimulado na casa da família Silva desde a infância. Depois de cada dia de trabalho, sessões de contação de histórias eram feitas para as filhas. Com a alfabetização das crianças, ela passou a acompanhar as interpretações, cobrando resumos e desenhos sobre cada livro retirado.
Mesmo tendo abandonado a escola na 8ª série devido à primeira gravidez, Júlia afirma ter priorizado a educação dos filhos. Com o estímulo, espera ajudar no desenvolvimento das filhas e possibilitar o acesso a bolsas de estudo.
A demanda por uma alternativa mais próxima para retirada de livros é destacada por Júlia. Com a criação da biblioteca comunitária, espera estimular o desenvolvimento de atividades paralelas no bairro como contação de histórias e poesia.
O apoio da Alivat ao projeto surprendeu a mãe. De acordo com ela, no início, elas pensavam em arrecadar livros entre moradores do bairro. “Nunca imaginávamos que os escritores viriam aqui para nos entregar.”
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Ações no Dia do Escritor
Para o presidente da Alivat Márcio Caye, a iniciativa serve de modelo para outros bairros de Lajeado e a doação integrou as atividades alusivas ao Dia do Escritor desenvolvidas pela entidade. Ele ressalta a importância do acesso universal à literatura em pontos afastados do centro como forma de estimular a leitura.
Segundo o presidente, a iniciativa também é uma forma de aproximar os leitores da região do público local. “Para nós é uma grande alegria e queremos levar adiante essa ideia. Antes, era trabalhoso para as pessoas terem acesso aos livros, agora, está no coração do bairro.”
Além da doação, integrantes da academia se disponibilizaram a participar de atividades ligadas à literatura. A tendência, segundo Caye, é de arrecadar mais livros à biblioteca comunitária.
A escolha do Dia Nacional do Escritor ocorreu em 1960 pelo presidente da União Brasileira de Escritores da época, João Peregrino Júnior. Ela ocorreu após o I Festival do Escritor Brasileiro, criado pela mesma entidade.
Biblioteca é reativada
Após três anos, a escola reformou o espaço e busca novos leitores. Conforme a vice-diretora, Márcia Weiler, os 600 alunos matriculados têm à disposição mais de seis mil livros. Para incentivar o hábito de ler, o educandário realiza semanalmente a hora da leitura. Durante 30 minutos alunos, professores e funcionários desligam celulares e se desconectam da internet e deixam seus afazeres de lado para ler. “Aprimora o conhecimento. Quando os filhos leem, ajudam os pais a despertar esse interesse.”
A iniciativa da mãe e da aluna é elogiada. Para Márcia, isso estimula a comunidade a visitar e estar mais presente na escola. O bairro é um dos mais populosos da cidade, com aproximadamente seis mil moradores. Essa integração qualifica o processo de aprendizado, destaca.