A infância é considerada a fase mais importante da vida para formar um adulto saudável. Assim como há preocupação com a parte orgânica do ser humano, também é preciso ter com a psíquica, diz a psicóloga Rebeca Katz. Não há idade mínima para começar um tratamento. A diferença será no foco dado aos pais ou responsáveis pelo paciente. A análise se dá conforme se cresce. Com a independência, cada vez menos os pais respondem pela criança.
Tanto o bebê, criança, adolescente ou adulto vão apresentar conflitos psíquicos, mas de formas diferentes, por conta da idade e pela individualidade. “Os pais que procuram ajuda para um bebê possivelmente não encontraram outra explicação para determinado comportamento.”
Conforme a criança cresce, ela pode compreender melhor o que a leva a um tratamento, enquanto o adulto pode dar-se conta da necessidade de procurar um psicólogo.
Com crianças em faixa etária escolar, é comum a escola aconselhar ou solicitar atendimento psicológico. O pediatra e outros médicos também podem sugerir à família.
Na criança, o conflito será notado pelas diversas atividades e convivências. Se não há sofrimento que gere prejuízo e a criança está bem dentro da rotina, não há motivo para iniciar tratamento. “Nem sempre as crianças apresentam os conflitos que os adultos acham.”
A Hora – Como se dá o tratamento da criança?
Rebeca Katz – É bem diferente do adulto. Ela não vai deitar no divã e contar o sofrimento da vida dela ou o motivo de estar ali. Por isso, o psicólogo usa brincadeiras terapêuticas e pedagógicas e livros que tratam sobre emoções. É dessa forma que ela vai trazer à tona o que sente, mostrar os conflitos, o que incomoda e como está reagindo àquilo.
Se ela for muito pequena, dificilmente será possível interpretar alguma coisa. No início da infância, como os comportamentos dependem do desenvolvimento, qualquer atitude pode ser só os sinais das primeiras habilidades. Por isso, até os 2 anos, os pais precisam estar sempre presente. Não se trata uma criança com menos de 5 anos sem tratar os responsáveis junto.
E o tratamento para bebês?
Rebeca – Há diversos transtornos que levam o médico indicar a psicologia para o bebê, como de comer e vomitar e comer o que não é comida, por exemplo. Quando os problemas não tiverem mais explicação de maneira orgânica, é quando procuram o psicólogo. E esse profissional trata os pais, pois são eles que cuidam a criança.
Qual o papel dos pais neste momento?
Rebeca – É necessário acompanhamento direto dos pais. Não adianta resolver os conflitos da criança e ela chegar em casa e os pais continuarem agindo da mesma forma. Ou então a criança pode começar a melhorar e os pais boicotam o tratamento porque não gostam da mudança de comportamento dela.
A intenção de colocá-los junto da criança serve também para desinibi-la. Deve ser um trabalho em conjunto. Não podem largar a criança e esperar que o profissional faça milagres. Até por que muito dos comportamentos são eles que devem mudar, não a criança.
Como os pais lidam com a tecnologia para as crianças?
Rebeca – A tecnologia é conveniente para os pais porque as crianças estão focadas em seus aparelhos, seguras dentro de casa. A tecnologia tem que servir como mais um recurso na aprendizagem ou no lazer, não se tornar a única forma de chamar a atenção da criança. É preciso aceitar que a tecnologia está sendo usada de babá. As criancas estão sendo assistidas por seus celurares e tablets e é com eles que ela divida suas rotinas e emoções. Os pais conseguem dar os aparelhos, mas não conseguem retirar, como se o objeto fosse mágico e determinasse mais do que os pais.
Como lidar com os comportamentos de rebeldia?
Rebeca – Muitos pais ameaçam deixar os filhos sozinhos caso eles não queiram ir embora. Será que as pessoas têm noção do medo de uma criança de ser largada pela mãe? Isso é uma agressão ao aparelho psíquico da criança. Eu sei que é cansativo, que exige muita paciência dos pais nesses momentos. Mas, se não for tratado da maneira correta, depois aparecem os problemas.
Quando a criança quer conversar, mostrar ou contar alguma coisa e não recebe atenção, ela se sente ignorada. Isso é uma grande invasão ao aparelho psíquico. A criança acredita que aquelas pessoas, no caso os responsáveis, lhe devem toda sua atenção. Os pais são o que têm de mais importante na vida dela. O momento que o pai decidi ignorá-la, ele rompe algo. A partir daí, pode se formar uma criança cheia de frustrações, incompreensões e com dificuldades em nomear os proprios sentimentos. Aos poucos, as coisas param de fazer sentido a ela. Depois pode se tornar um adulto angustiado e cheio de sofrimentos.