Para quitar parte das dívidas, a Camera pretende vender 13 complexos no estado. Entre eles, está o de Estrela, que ocupa área de dez hectares, próximo ao Porto. Em 2017 será negociada a estrutura de recebimento de grãos e, no ano seguinte, será colocado à venda o parque industrial onde era produzido óleo vegetal.
O grupo adquiriu os silos da antiga Granóleo em 2011, reativando o local após 12 anos em uso. Sem se identificar, um funcionário destaca que no auge a empresa chegou a empregar mais de 200 pessoas. Hoje, esse número não passa de dez. “Esta semana demitiram os últimos empregados da fábrica de óleo vegetal. Torcemos pela recuperação, vai ser bom se venderem. Vai gerar novos postos de trabalho e impedir que as máquinas acabem sucateadas pela falta de uso.”
No local, funcionam apenas as unidades de recebimento de grãos e silos, onde são armazenados milho, soja e trigo. O espaço é alugado por cooperativas e empresas de alimentos da região que usam a matéria-prima para fabricar ração. Esta será a terceira vez que o complexo será colocado à venda em mais de 40 anos.
A decisão faz parte do projeto de recuperação financeira da empresa aprovado em assembleia realizada em Santa Rosa. O pedido foi deferido em outubro de 2014, envolvendo cinco empresas do grupo (Jasiowka Participações, Kist Participações, Camera Participações, Camera Agroalimentos e Camera Negócios e Investimentos).
Em nota, Roberto Kist, diretor da Camera, confirma a venda de 30% dos ativos da companhia. A meta é faturar R$ 226 milhões. O montante será aplicado no pagamento dos débitos, estipulados em R$ 980 milhões.
Até dezembro, serão negociadas as unidades de Palmeira das Missões, Carazinho, Vitória das Missões, São Valentim do Sul e Rio Pardo, avaliadas em mais de R$ 22 milhões. Para 2017, outras cinco serão vendidas: Santo Ângelo, Cacequi, Engenho São Borja, Armazém São Borja e Estrela, que somam R$ 109 milhões.
Por fim, em 2018, as estruturas localizadas em Coronel Bicaco, Rosário do Sul e o Parque Industrial de Estrela, cotado em mais de R$ 110 milhões, serão vendidas.
Conforme Kist, mesmo com o ambiente macroeconômico brasileiro passando por uma severa crise, a empresa está com as operações industriais, de originação de safras e de revenda de insumos agrícolas num bom nível de ocupação.
A produção, as vendas e a geração de empregos e impostos estão em ritmo crescentes. “Com o plano aprovado e homologado, a empresa encontrará um horizonte de médio e longo prazo”, projeta.
O plano de recuperação aprovado pelos 84% dos credores, na maioria produtores, no dia 12, ainda precisa ser homologado pela Justiça. Isso deve ocorrer em duas semanas. A partir daí, é iniciada a execução do acordo.
Novos investidores
Para agilizar a retomada dos negócios, o grupo pretende estabelecer sociedade com parceiros dispostos em investir nas operações da companhia. Segundo a direção, mais de 70 empresários nacionais e internacionais demonstram interesse em ter ações e inclusive comprar ativos a serem colocados à venda até 2018.
O faturamento bruto alcançou R$ 511 milhões no ano passado. Para 2016, projeta-se arrecadar R$ 750 milhões. Para 2017, a meta é ultrapassar R$ 1 bilhão.
Mesmo diante das dificuldades, os salários de trabalhadores, pagamento de produtores e impostos está em dia. Para aumentar os lucros, o grupo ampliou o volume de refino de óleo de soja. Outras áreas na qual atua, como originação e processamento de grãos, farelo, refino de óleo vegetal e biodiesel, inclusive no mercado externo, serão retomadas.
Saiba mais
A Camera foi fundada em 2 de janeiro de 1971, por Orestes Camera, Vanoli Kist e Ernani Jasiowha, em Tucunduva. Hoje tem mais de 40 unidades no RS, entre casas de recebimento e armazenagem de grãos, fábricas de óleo e farelos vegetais e de rações, engenho de arroz, portos de movimentação de cargas, usinas de biodiesel e áreas administrativas.
No auge das atividades, antes da estiagem de 2012, a Camera tinha um faturamento de R$ 2,5 bilhões e 1,8 mil funcionários. Hoje, são 550.
Estrutura em Estrela
Armazenagem de grãos: recebimento, limpeza, secagem e armazenagem. Capacidade estática dos silos é de 110 mil toneladas de grãos.
Extração de óleo vegetal degomado: capacidade de processamento diária de 1,5 mil toneladas/soja, cerca de 9 milhões de sacos de 60 quilos por ano.
Terminal hidroviário: capacidade de expedição de granéis de 300 toneladas/hora e de líquidos de 200 toneladas/hora. Laboratório de Certificação de Biodiesel.
Fábrica de metilato de sódio: capacidade de produção de 15 mil toneladas/ano.
Usina de biodiesel: capacidade de produção de 650 metros cúbicos/dia.
A Granoleo foi fundada em 1976, pela sua antiga controladora Eleva Alimentos S.A., atuando na produção de farelo e óleo de soja. Tinha cerca de 90 funcionários.