O casal Nilson, 65, e Lourdes Gonzatti, 66, desistiu da produção de leite em janeiro, após 40 anos. Entre os motivos, citam ausência de sucessores, problemas de saúde e intenso trabalho braçal.
A partir de segunda-feira, retomam a atividade, agora no sistema associativo. Eles integram as 16 famílias do condomínio Florença, da Dália Alimentos, inaugurado ontem, na Linha Barão do Triunfo. “Vamos ter 20 vacas. Esse projeto é a única maneira de manter a produção no meio rural. Os produtores estão velhos, cansados de trabalhar sem ter folgas ou férias. Agora teremos como descansar e mesmo assim manter nossa renda mensal.”
Além das vacas leiteiras, o casal mantém 700 suínos na propriedade. Segundo o presidente do condomínio, Pasqual Bertoldi, a ideia surgiu em 1998, após integrantes da cooperativa conheceram modelos associativos de produção na Europa, operados por ordenha robotizada, com produtores reunidos em grupos.
Das 16 famílias unidas, apenas cinco ainda atuam na cadeia leiteira. A idade média é de 55 anos. Esse modelo é o futuro, aqui nossos filhos e netos podem voltar a ser agricultores, sem precisar deixar o emprego na cidade, argumenta. “São 16 produtores, 27 filhos e sete netos. Quatro gerações representadas. Produzir, industrializar e vender. Esse é o segredo para manter o emprego, a renda e obter mais qualidade de vida.”
O gerente-adjunto da Emater Regional de Lajeado, Carlos Augusto Lagemann, destaca a importância de aliar tecnologia e infraestrutura adequada para manter a produção leiteira na agricultura familiar. “Esse modelo supre a deficiência de trabalhadores, aumenta a qualidade e a produtividade, além de manter a renda das famílias.”
De acordo com o presidente- executivo, Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, o projeto é fruto da cooperação de pessoas. “Alia qualidade de vida, viabilidade econômica, tecnologia e escala.” O condomínio Florença é o segundo empreendimento, de um total de quatro, a iniciar as atividades.
A Dália Alimentos investiu R$ 5 milhões numa área de 7,2 hectares. A estrutura tem capacidade de alojar 262 animais, cuja produção diária está estimada em 6,5 mil litros, em quatro anos, média de 30 litros por vaca. A ordenha será feita com auxílio de três robôs, importados da Suécia em parceria com a DeLaval.
Produção aumenta 30%
O prefeito Nédio José Vuaden enfatiza o incremento de até 30% na produção de leite e um aumento de 7% no rebanho após a instalação e o funcionamento do condomínio. No município, o setor abrange 213 produtores, responsáveis por 7,1 milhões de litros por ano. “Muitos voltarão a produzir neste formato, sendo exemplo para o país.”
Vuaden avalia que a robotização do processo facilita a vida do produtor, gera novos empregos e desenvolvimento no setor primário, responsável por mais de 40% da arrecadação municipal. O valor adicionado pelo setor chegou a R$ 122,2 milhões em 2015.
A participação do condomínio no orçamento representa um acréscimo de R$ 75 mil ao ano até 2019. Após esse período, o valor passa a R$ 95 mil. O diretor-executivo do Instituto Gaúcho do Leite, Oreno Ardêmio Heineck, comenta sobre a movimentação financeira no município com o pleno funcionamento da estrutura. Com uma produção diária de 6,5 mil litros de leite, o complexo gera um montante de R$ 8,1 milhões na economia local ao ano.
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Segurança na crise
Na contramão de um cenário de austeridade e recessão econômica, o sistema cooperativista gaúcho continua atuando como um agente propulsor de desenvolvimento socioeconômico do estado.
Em 2015, as 434 cooperativas ativas apresentaram crescimento de 15,75% em relação ao ano anterior e registraram um faturamento de R$ 36,1 bilhões. Nos últimos seis anos, o número de associados cresceu 94,6%. “Esse desempenho favorável só respalda o trabalho e o papel fundamental e insubstituível realizado pelas cooperativas, que geram desenvolvimento econômico e social para o estado e beneficiam milhares de gaúchos, destaca o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius.
As cooperativas adquirem 45% do leite produzido no RS com o processamento de 1,7 bilhão de litros de leite por ano. Na região, é industrializada 35% da produção total do estado. O Vale produz 7% do montante total do RS.
Cooperativas investem R$ 1,5 bilhão
Conforme dados da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), nos últimos três anos, só de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram R$ 1,5 bilhão investidos pelo sistema no estado, além de, pelo menos, R$ 250 milhões em recursos próprios de cada cooperativa.
Os recursos foram aplicados em infraestrutura, industrialização e modernização. Segundo o presidente da FecoAgro, Paulo Pires, uma das razões para a ampliação é o aumento na originação da soja em 16% na última safra, na qual representa um total de 45% do que foi colhido no estado, ou seja, sete milhões de toneladas. “Isso se deve também à credibilidade que as cooperativas têm junto ao produtor mesmo neste momento de incertezas.”
Destaca o faturamento obtido pelas cooperativas agropecuárias no último ano, R$ 22,1 bilhões, incremento de 11,6% em relação a 2014. O setor reúne 327,4 mil associados em 132 cooperativas e gera 33,3 mil empregos.
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Como funciona a ordenha robotizada
– O sistema gera economia no uso de equipamentos, mão de obra e tempo. A vaca circula livremente pelo galpão e, ao passar pelo robô, um sensor identifica se está apta para ser ordenhada, se precisa de alimento, água, suplemento ou apresenta um sintoma anormal.
– Quando a vaca for encaminhada para a ordenha, o equipamento limpa as tetas, estimula as mamas, retira os primeiros jatos de leite e seca. Em seguida, inicia a ordenha por completo.
– Um braço robótico coloca as teteiras, um laser identifica o posicionamento e se adapta ao tamanho. Caso uma teta esteja com problema como bactérias ou febre, a matéria-prima é desviada para um outro tanque.
– Ao fim da ordenha, um spray é espalhado no úbere para evitar o contato com fungos, bactérias ou contrair doenças. Todos equipamentos são lavados entre a ordenha de uma vaca e outra para manter um padrão de sanidade.
– Todas as informações coletadas durante o processo são encaminhadas para a tela do computador. Elas podem ser acessadas no local ou a distância. Apresentam relatório completo sobre produção individual de cada vaca, conforme registrado no sistema informatizado.