Os primeiros habitantes de Pau Queimado – comunidade localizada a dez quilômetros da área urbana de Progresso – chegaram na década de 40. Eram as famílias Schena, Titelo, Ongaratto e Casanova.
Segundo boatos, o nome surgiu das queimadas de mato. Uma das canjeranas teria se incendiado por vários dias, chamando a atenção dos moradores. No fim, sobrou apenas o tronco queimado que virou ponto de referência entre os viajantes.
A época em que isso ocorreu é desconhecida pela própria população. “Só sei que essa história é mais antiga que eu,” enfatiza o aposentado de 64 anos, Otone Ongaratti. Ele relata que a localidade chegou a ser chamada de “Alto Pau Queimado” pelo fato de a árvore estar em uma elevação. Entretanto, com o passar dos anos, a palavra “alto” foi excluída.
Hoje, o tronco incendiado não existe mais. Localizada na ERS-423, a única placa de sinalização de Pau Queimado está semiapagada. Cerca de 30 moradores ainda residem na comunidade.
Segundo o presidente Ivo Radeuker, o êxodo é um dos maiores problemas enfrentados em Pau Queimado. “Em décadas passadas, tínhamos mais de cem pessoas por aqui. Só que o pessoal foi embora buscar empregos melhores na cidade grande.”
Da população que restou, a maioria se dedica ao plantio de fumo ou à lida com os animais. É o caso da família de José Henrique Turcatti. Mesmo com o trabalho árduo e poucos momentos de lazer, diz que é “bom morar em Pau Queimado.”
Abençoado pela padroeira Nossa Senhora das Graças, a localidade não tem igreja. As missas ocorrem no salão comunitário. Em Pau Queimado, também não há estabelecimentos comerciais. Os mais próximos ficam a seis quilômetros, em Vila Fão.
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Campo de futebol virou plantação
Nas décadas passadas, o Esporte Clube Flor da Serra se consolidava como uma das equipes mais populares das terras progressenses. “Aqui era o lugar que mais vinha gente nas tardes de domingo,” acredita Sétimo Ongaratto, 66, um dos ex-jogadores da agremiação.
Tudo acabou nos anos 90, quando o dono das terras onde ficava o campo morreu. O terreno foi para um dos filhos. O herdeiro acabou transformando a propriedade em área de plantação. “Quando vimos, ele tinha lavrado tudo. O pessoal ficou indignado, mas não tinha o que fazer,” lamenta Ongaratto.
Sem o futebol, a comunidade começou a investir em novas atividades. Hoje, uma cancha de bocha e as mesas de cartas do salão comunitário são as únicas formas de lazer dos moradores nos fins de semana.
Sem instituição de ensino
Fundada em 1968, a Escola Municipal Tiradentes funcionou por mais de três décadas. A ex-professora Claise Fátima Ogaratti, 60, recorda dos anos de ouro da instituição de ensino, quando cerca de 40 alunos do 1o ao 4o ano estudavam no local. “Eu fazia de tudo. Além de dar aulas, era merendeira, diretora e faxineira.”
Com a diminuição no número de crianças, o Executivo fechou o educandário no começo dos anos 2000. “Tínhamos menos de dez alunos na época,” lembra Claise. O prédio foi doado para a comunidade e desmanchado completamente há dois anos.
A cidade dos nomes curiosos
Pau Queimado é uma das várias localidades de Progresso com denominações peculiares. Nas proximidades, está Batovira, nome que, segundo o blog “Um lugar no Vale”, é oriundo de uma espécie de anta.
O animal também nomeia a comunidade de Anto Bravo. De acordo com o blog administrado pelo jornalista Alício de Assunção, os moradores teriam abatido uma anta macho muito feroz durante a colonização.
Xaxim tem esse nome por causa das samambaias encontradas em grande número no local. A situação deveria ser parecida com Tiririca, entretanto, os moradores afirmam que não há essa erva daninha na comunidade.
Uma história trágica denomina a localidade de Selim. Conforme os moradores, uma menina montada em um cavalo morreu ao cair num açude. Os corpos dela e do animal ficaram submersos por vários dias, até que o selim emergiu e acabou com o mistério.
Próxima semana
A série Que lugar é esse? terá dez reportagens. As publicações ocorrem aos sábados. No próximo, em Roca Sales, a localidade escolhida é Linha Marquês do Herval, mais conhecida como “Picão”.