O fenômeno El Niño é responsável pela queda de até 40% na produtividade por planta. Com a média de dois mil quilos por hectare, são colhidos apenas 1,2 mil quilos neste ciclo. Excesso de chuva na primavera prejudicou a polinização das árvores, realizada pelo vento. A perspectiva é de uma melhora significativa na próxima safra, com a possibilidade de ocorrer o La Niña, com períodos maiores de seca.
A situação não se restringe à atual safra. Nos últimos dois anos, houve perdas significativas em função da umidade. Isso favoreceu o aparecimento de pragas e doenças nos pomares, como a caducifólia, quando as folhas caducam e caem. A sarna também causou perdas. O fungo aparece durante a floração prejudica o desenvolvimento do fruto e, quando esse se forma, fica fora do padrão.
Com produção abaixo da demanda exigida pelas empresas, a noz pecã tornou-se um fruto disputado. Projetos para diversificar a oferta de produtos a partir da matéria-prima (óleo, farinha, rapaduras e chás) estão engavetados.
O preço disparou. De R$ 8 o quilo saltou para R$ 18 neste ano. Para garantir a oferta da fruta, indústrias firmam parcerias com produtores, oferecendo desde a venda de mudas até a orientação técnica.
Por ano, cerca de 700 novos hectares são cultivados no estado. Conforme levantamento da Emater, a área plantada passou de 1,77 mil hectares em 2011 para 3,4 mil hectares em 2014. De acordo com dados do IBGE, o RS responde por 49% da produção brasileira.
A escassez da fruta fez algumas indústrias interromperem o processamento por até seis meses. Conforme o diretor da Divinut, sede em Cachoeira do Sul, Edson Ortiz, esta foi a pior safra em termos de quantidade. “Um fornecedor do Alto Uruguai vai nos entregar apenas 200 quilos. Em ciclos anteriores, esse número chegava a cinco mil quilos. A fruta é leiloada. De R$ 8 o quilo passou a R$ 15 em um ano.”
Por dia, a capacidade produtiva da empresa é de seis mil quilos, reduzida hoje a apenas mil quilos, tendo em vista a pouca oferta do fruto. Por dois anos, os trabalhos da indústria ficaram paralisados durante quatro meses. Segundo Ortiz, a rede de parceiros fornecedores alcança dois mil produtores, espalhados por 500 municípios da Região Sul, com média de até cinco hectares cultivados por família.
Para manter o faturamento e o emprego de 30 funcionários, investe na produção de mudas. No viveiro, são 400 mil exemplares, de variedades híbridas americanas, plantas livres do ataque de doenças e fungos. O excesso de chuvas reflete em uma produção menor, mas o fruto mantém a qualidade, diz.
Por ano, são comercializadas até 50 mil unidades. A frutificação inicia no terceiro ano. Com 11 anos, atingem até 50 quilos por árvore. Para implantar um hectare, o produtor desembolsa entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, dependendo do preparo do terreno e da tecnologia empregada.
Outra alternativa para garantir a matéria-prima é ministrar cursos gratuitos sobre o cultivo, rendimento e manejo do pomar. Os próximos ocorrem nos dias 23 de julho e 27 de agosto. “Atuamos em todo ciclo, desde a venda de mudas, orientação técnica, compra e beneficiamento.”
Projetos como o de pesquisa iniciado há dez anos para fabricar óleo de noz, petiscos e chá da casca estão parados. “Não tem como produzir com a falta da fruta.” Para cada litro de óleo, são necessários cinco quilos do fruto.
O comércio informal preocupa Ortiz, pois muitos produtores beneficiam a noz pecã em casa e revendem para padarias e mercados. Sem procedência e cuidados sanitários, a saúde do consumidor é colocada em risco, observa.
Trabalho facilitado
Com 26 anos de experiência no ramo, Ortiz destaca a parceria com outras empresas com o objetivo de fabricar ferramentas para facilitar o trabalho dos produtores. O globonut, coletor de nozes, é um exemplo.
Desenvolvido pela Ortiz, o equipamento consegue realizar o trabalho de dez pessoas na colheita sem demandar esforço excessivo ou postura inadequada. Outro invento é uma barreira física contra formiga, constituída de espuma e fita plástica, a qual evita o ataque dos animais. “Ajuda a reduzir perdas, se necessita de menos mão de obra por área e facilita o trabalho.”
Fator saúde estimula vendas
Joelcio e Leticia Chiamulera, proprietários da empresa Pecãnobre, em Ilópolis, atuam faz dez anos no mercado e projetam beneficiar até cem toneladas até dezembro. A capacidade da agroindústria é três vezes maior após a importação de máquinas americanas que descascam as nozes por raio laser. “Existe demanda, mas falta matéria-prima”, destaca Joelcio.
Com a escassez, foi preciso desembolsar mais na compra do produto. O quilo está cotado entre R$ 15 e R$ 18, dependendo da quantidade, umidade e qualidade das frutas. Beneficiada, a noz é vendida para confeitarias e distribuidores do RS, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
São oferecidas nozes salgadas, carameladas, com cobertura de chocolate e doce de leite, in natura, torrada, farinha e picada, em embalagens entre 100 gramas e um quilo. O preço do quilo chega a R$ 70. “Vamos reduzir a carga horária dos sete funcionários, pois não teremos produto suficiente neste ano.”
Chiamulera destaca o aumento do consumo e da área cultivada pela questão saúde.
Frio é essencial
Dependendo da variedade escolhida, necessita entre 300 a 500 horas de frio por ano com temperaturas abaixo de 8ºC e 7,2ºC para garantir um bom desenvolvimento. Isso explica em parte o cultivo concentrado em apenas alguns estados e países.
Outro cuidado necessário é o espaçamento, entre sete e 10 metros é o ideal. A noz é originária dos Estados Unidos, onde está concentrada 70% da oferta mundial. Outros 20% provém do México, onde a maioria das árvores são nativas.
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