Cinzas ajudam  a recuperar o solo 

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Cinzas ajudam a recuperar o solo 

Cinzas de madeira foram os primeiros defensivos agrícolas. A técnica é retomada em algumas propriedades para auxiliar no manejo do solo, evitar a proliferação de pragas e doenças, além de reduzir os custos com agrotóxicos.

Cinzas ajudam  a recuperar o solo 
Vale do Taquari

Para garantir crescentes índices de produtividade, a terra precisa de cuidados. A cada ano, são perdidos para a desertificação 12 milhões de hectares produtivos – 23 hectares por minuto, 500 milhões de toneladas no país. Dessas, oito são de nitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes fornecidos às lavouras para aumento de produção.

A aplicação de cinzas, resultantes da combustão de madeira, e gesso é adotada por vários produtores e ajuda a recuperar o solo. Conforme Edemar Valdir Streck, assistente técnico estadual em Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar, as cinzas funcionam como reparadoras de acidez, auxiliando a corrigir o PH da terra.

Antes de aplicar, é recomendado fazer uma análise da área e do produto para saber a quantidade necessária e a qualidade. “A cinza é calcítica, não contém magnésio e pode estabelecer um desequilíbrio na relação cálcio e magnésio no local onde é aplicada.”

O solo compactado e pobre de nutrientes pode gerar prejuízo ao produtor. Chama atenção para o uso do plantio direto. “Quando mal manejado, compacta a terra e isso impede a entrada das raízes e da água em profundidades maiores.”

Quando a água deixa de ser infiltrada, provoca erosão, assoreamento de rios e contamina mananciais com os resíduos de agrotóxicos. Conservar o solo é usá-lo de tal forma que as taxas de erosão não sejam superiores às de formação, ensina Streck, ou seja, a taxa de erosão deve ficar inferior a cem quilos de terra por hectare/ano (solo/ha/ano).

A terra se forma a partir da decomposição das rochas, sendo variável de acordo com as condições meteorológicas locais e a presença de micro-organismos, auxiliados pela vegetação. “Para ser formado um milímetro de solo, leva 250 anos, correspondendo a um valor aproximado de 80 quilos de solo por hectare ano.”

Conforme Leandro Zancanaro, pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, é preciso respeitar a aptidão de cada ambiente da propriedade. Segundo ele, há ambientes mais sensíveis e outros menos. “Eu tenho que caracterizar o ambiente, respeitar a aptidão de cada um, estabelecer um manejo específico. É fundamental permitir o crescimento da raiz em profundidade.”

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Aplicação criteriosa

De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados, Djalma Martinhão Gomes de Souza, dadas as vantagens proporcionadas pelo gesso agrícola, é preciso ficar atento às doses aplicadas, ou seja, não aplicá-lo onde não existe necessidade.

O material é um subproduto da indústria de fosfatados, e por isso, tem baixo custo – em média R$ 50 a tonelada. Dependendo da localização da propriedade, o maior gasto é com o frete. A aplicação indicada é de duas toneladas por hectare. “Antes de se tornar um insumo importante para a lavoura, o gesso não tinha destinação correta.”

Uma aplicação desnecessária dificilmente trará problemas para o solo, porque é preciso uma quantidade exorbitante, muito acima do recomendado, para provocar uma contaminação do lençol freático. “O prejuízo será no bolso do produtor.”

A quantidade correta a ser aplicada em determinada área é feita com base na análise química (macronutrientes, acidez e teor de matéria orgânica e micronutrientes) e física (areia, silte e argila). Essa deve ser feita em um laboratório especializado e analisado por um profissional qualificado. A coleta de amostras do solo deve ser feita na profundidade de 20 a 60 centímetros em culturas anuais. Nas lavouras perenes, a camada deve ter entre 60 e 80 centímetros.

A relação custo-benefício do insumo é alta. Nas culturas de soja e milho, após oito anos de uso, é de R$ 15 a R$ 25 para R$ 1 aplicado.

A prática começou a ser incentivada em 1995, após 20 anos de pesquisas. Na época, o consumo médio totalizava cerca de 200 mil toneladas por ano. Em 2010, as vendas do insumo saltaram para 3,5 milhões de toneladas.

Melhor enraizamento

O produtor João Milton Kipper, 65, de Estrela, adotou o uso de cinzas para recuperar o PH do solo há dois anos. Por safra, cultiva dez hectares de milho, em dois ciclos. O primeiro é destinado à confecção de silagem e o segundo, à colheita de grãos.

Segundo ele, a queima de celulose gera minerais (potássio e fósforo puro) que ajudam na recuperação e fortalecimento da terra. “Eliminei os nematoides e reduzi a aplicação de fungicidas.” Por ano, são aplicadas 80 toneladas. O produto é comprado de empresas da região ao preço de R$ 10 a tonelada, depositada na lavoura.

A produtividade aumentou em até 20% após a nova técnica. “A planta cresce sadia, sem ataque de lagartas ou demais pragas.” O calcário deixou de ser aplicado na lavoura. No próximo ciclo, voltará a lavrar a terra antes de plantar, técnica comum em Mato Grosso. “O solo precisa ser mexido. Melhora a absorção de nutrientes e água. Facilita a penetração das raízes e sua fixação, fortalecendo a planta.” Destaca a importância do produtor fazer uma cobertura para evitar a erosão.


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