A psicanálise busca  respostas no inconsciente

Fala Doutor

A psicanálise busca respostas no inconsciente

Por meio da associação livre, em que o paciente fala ininterruptamente, os profissionais analisam o que há além da superfície dos problemas e sentimentos

A psicanálise busca  respostas no inconsciente
Vale do Taquari

Criação do neurologista austríaco Sigmund Freud, a psicanálise é teoria que busca explicar o funcionamento da mente humana. A partir disso, torna-se método para tratar desequilíbrios psíquicos. A vertente traz a descoberta do inconsciente. Segundo a psicóloga em formação psicanalítica, Rebeca Katz, o intuito é descobrir como se manifesta a mente humana permeada pela queixa do paciente. “O inconsciente rege as pessoas. Ele tem muita força e é indestrutível.” Por não se ter acesso a ele como se tem à consciência, seus sinais aparecem nos sofrimento psíquico.

A psicanálise propõe buscar o autoconhecimento para entender o que faz parte do ser humano. Uma das características é fazer as pessoas pensarem sobre si mesmas. “Tu pode terminar uma análise, mas nunca terminará de se analisar.” Rebeca acredita que essa é a melhor forma de compreender e ajudar as pessoas dentro da psicologia.

O material do psicanalista é a escuta, diz a profissional. “Os pacientes acham que falam demais durante a consulta, mas assim inicia o processo, adaptando-se a falar e a se ouvir.” Segundo ela, não se dá resposta pronta e nem conselhos.

O trabalho é ajudar o paciente a “desembaraçar” seus conflitos internos. “O profissional não faz o trabalho sozinho, ele ajuda a guiar o paciente.” O processo de ouvir também dá a oportunidade de o paciente encontrar as respostas.

A psicanálise acredita que, quando ele fala livremente, a chamada associação livre, as informações se completam. “Ele conta uma história e de repente faz uma remissão que pode ajudar a explicar o problema.” O vínculo entre analista e paciente é fundamental para que o processo ocorra. O profissional precisa entender o que levou o paciente a se tratar. Se ele não acreditar que o sofrimento do paciente é autêntico, não conseguirá criar empatia com a situação.

Tempo: uma necessidade

Os resultados do tratamento por psicanálise não aparecem de uma hora para a outra. São meses e, às vezes, anos. As relações construídas e os “tijolos” que formam o ser humano são muitos, e cada um é singular. “As pessoas conhecem vários indivíduos durante a vida.” Todos os resquícios dessas relações e suas particularidades se acumulam.

O que se enxerga como motivo da procura pela psicanálise é superficial, diz Rebeca. As pessoas que seguem um processo analítico, depois de alguns anos de consultas, não se lembram mais o que as levou até ali. Isso porque durante o processo acabam descobrindo muito sobre si mesmas. Muitas vezes, quem está no processo e não quer pará-lo é porque se sente bem. “É preciso trabalhar com o paciente a dependência ao processo analítico. Às vezes ele tem medo de pausar ou encerrar as sessões.”

A resistência à psicanálise é grande, conta Rebeca. “Ela mexe com o que há de mais importante dentro de nós.” As pessoas não querem reviver as memórias, diz. Para se tratar, é preciso entender que não é um ser humano perfeito. Para isso, é necessário reconhecer que se comete erros, e as pessoas não conseguem lidar com isso, opina. “A prepotência não permite.”

O diagnóstico dentro da psicanálise é o metapsicológico. Os profissionais buscam entender do funcionamento da pessoa, e não diagnosticá-la com transtorno mental especificado por critérios de doença. A psicanálise se baseia nos sintomas e no funcionamento psíquico. “É importante entender qual a queixa e o porquê da procura por ajuda.” A partir disso, se conhece o paciente e cria-se um vínculo.

Sigmund_Freud_LIFEPai da psicanálise

Há 125 anos, Freud atendia como neurologista mulheres da burguesia vienense, já definidas como doentes dos nervos e histéricas. Freud buscou ouvir essas mulheres, procurando uma forma de aliviar seus sofrimentos. Pouco anos depois, após sua publicação sobre o estudo da histeria, ele elaborou a teoria de inconsciente.

Freud foi inspirado pelo trabalho do médico francês Charcot, junto de seus companheiros com quem trocava ideias, como Breur e Fliess. Passou a ter seus discípulos, que perpetuaram a psicanálise. O termo psicanálise, criado por Freud em 1896, serve para nomear um novo método de psicoterapia, apoiado na exploração do inconsciente.

Fonte: Dicionário de Psicanálise Elizabeth Roudinesco e Michel Plon


“As pessoas conhecem muitos indivíduos durante a vida.”- Rebeca Katz psicóloga em formação psicanalítica

Por dentro da psicanálise

Segundo Rebeca, as respostas para as questões dos pacientes são apontadas dentro do inconsciente. Pode ter sido algo que aconteceu na infância, uma experiência que não ficou clara, ou um momente em que remete, mas não se consegue lembrar. “Se ficarmos pensando 24 horas por dia no que nos fez mal, não viveríamos.” Por isso, a mente tende a esconder muitas coisas.

A Hora – Como podemos entender a psicanálise na rotina?

Rebeca Katz – Gosto de dar o exemplo de uma pessoa que tem que fazer algo da rotina, como trabalhar, estudar, ler um texto. Ela sabe que precisa cumprir a tarefa, mas, quando tenta, não consegue. Essa é a prova que existe algo que rege as pessoas além do que a consciência permite. Alguns problemas são enxergados com facilidade. Outros, a pessoa não se dá conta que o comportamento e a forma de se relacionar a prejudica.

Quando sente angústia, é comum culpar o trabalho, o namorado, os amigos. E aí ela para de trabalhar e se relacionar com as pessoas. Não consegue mais sair, fica trancada dentro de casa culpando o mundo pela angústia dela. Mas o problema não está fora, está dentro. A psicanálise ajuda a nomear isso, e precisamos aprender a nomear o que incomoda.

Ainda há resistência à procura de tratamento psicológico?

Rebeca – As pessoas acham que quem se trata é louco. Na verdade, isso é ser saudável, pois está procurando ajuda. Normalmente, as pessoas só buscam quando sentem um sofrimento emocional. Para reconhecer isso, é preciso se entender. Olhar para dentro, não de uma forma egoísta, e sim de compreensão. Quando acontece, elas veem o externo de forma mais saudável.

Como descobrir qual a vertente mais indicada?

Rebeca – Não adianta só procurar uma teoria que se encaixa mais no seu perfil. Há vários profissionais dentro da mesma área e diversas teorias dentro do segmento. É preciso permitir se conhecer. É preciso buscar alguém com quem crie vínculo. Você não vai amar o terapeuta, pois é ele que “põe o dedo na ferida”. Sofrer pelo que descobre na terapia é normal e saudável. No iníco do tratamento, algumas pessoas se queixam de se sentir pior ou de não resolver. Isso faz parte, começar a mexer no que dói, piora, mas é justamente para melhorar depois.

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