Evento desafia lojistas a ultrapassar limites

Lajeado

Evento desafia lojistas a ultrapassar limites

A sede social do Clube Tiro e Caça recebeu ontem a 16ª edição da Convenção CDL. Ao todo, 800 pessoas de 30 municípios do RS e SC participaram do evento, que marcou os 50 anos da entidade, sob o tema “O Amanhã se Faz Agora. Você está Preparado?” Principal atração do dia, o maestro João Carlos Martins emocionou o público ao tocar no piano Parabéns a Você. As dificuldades motoras não impediram a homenagem de Martins ao cinquentenário da CDL.

Evento desafia lojistas a ultrapassar limites
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Em sua palestra, Martins contou as histórias de superação que marcaram a vida daquele que é reconhecido mundialmente como o maior pianista brasileiro de todos os tempos. Na juventude, teve a carreira interrompida por um acidente durante um treino de futebol. Encontrou motivação no brasileiro campeão mundial de boxe, Éder Jofre, para voltar a tocar.

Em 1995, sofreu um golpe na cabeça em um assalto, causando a perda dos movimentos das mãos. Novamente conseguiu retomar a carreira, após uma série de cirurgias. Quando novamente os médicos disseram que não poderia mais tocar, se tornou maestro, tendo se apresentado para mais de 13 milhões de pessoas em dez anos.

Na palestra, comparou a superação desses problemas com os desafios enfrentados pelos lojistas diante da crise. Para ele, uma empresa deve funcionar como uma orquestra, de forma harmoniosa, mas com liderança.

A palestra “Inovação e Estratégia para Obter Melhores Resultados”, do arquiteto e especialista em Design Estratégico no Varejo Adriano Braga, abriu o evento. Ele destacou a importância de as empresas conhecerem melhor seus clientes, lembrando que o consumidor deve ser o protagonista da compra.

“Precisamos aprender a escutar e perceber e um dos exercícios mais interessantes é o empresário sair da sua sala e ser consumidor da própria loja”, desafia. Entre outras dicas, citou parcerias, revisão de estratégias e a definição do que é relevante no negócio. “Reavaliem as operações, cortem o que não é vital e concentrem os esforços naquilo que é mais importante.”

Os rumos da economia pós-crise foram abordados pela jornalista Giane Guerra e o economista da Fecomércio-RS, Lucas Schifino, em painel mediado pelo presidente da Convenção, Ricardo Diedrich.

Schifino abriu o debate falando sobre o momento de dificuldade enfrentado pelo Brasil. “Se por um lado não adianta apenas reclamar sem tomar atitudes, por outro, ignorar este momento singular resulta em tomadas de decisões erradas.”

O economista lembra que a economia precisa da demanda de pessoas e empresas com capacidade de consumir aliada a uma capacidade produtiva capaz de atender a essa demanda. “Nos últimos anos, o Brasil adotou medidas que olhavam apenas para o aumento do consumo, sem pensar em fazer as empresas produzirem mais.”

O cenário se agravou, alega, devido ao déficit fiscal. Para ele, a retomada da economia passa pelo controle dos gastos governamentais. Para Schifino, o pós-crise pode ser de retomada de crescimento a taxas mais altas que as naturais, uma vez que a capacidade produtiva está represada pela recessão.

Para Giane Guerra, o fim da crise ainda não está bem definido. A jornalista afirma que o mercado reagiu positivamente ao impeachment, mas com desconfiança à nomeação de ministros citados na Lava-jato pelo governo interino de Michel Temmer.

“Isso reduz a confiança alcançada com o fim de um governo populista”, ressalta. Mesmo assim, alega que o momento é de oportunidade para os empresários que investem pensando no longo prazo. Quando a economia for retomada, aponta, esses estarão na frente da concorrência.

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Análise de dados na era da informação

Uma sociedade conectada gera um fluxo infinito de informações que estão disponíveis em tempo real em um grande banco de dados mundial. Na palestra “Marketing Hacking: utilizando a informação para agregar valor e construir relacionamentos”, o cientista de dados, Ricardo Cappra, apresentou fórmulas para decifrar os códigos e alcançar resultados positivos para as empresas.

O conceito é relativamente novo, diz Cappra, surgido por meio do advento da internet. Segundo ele, hoje todas as ações realizadas por qualquer pessoa na rede geram dados que são compilados pelas grande empresas de tecnologia da informação.

“Fornecemos dados como nunca se viu. Qualquer postagem, curtida ou navegada no Facebook gera muitas informações diretamente ao ‘Big Data’”, relata. Como resultado, aponta, as empresas de tecnologia descobrem cada vez mais detalhes sobre gostos, hábitos e tendências.

Segundo o cientista, essas situações podem gerar incômodo, mas não por causa dos dados gerados, e sim do mau uso das informações. Para ele, plataformas como o Spotify, serviço de streeming de música, e o Netflix, de filmes, são exemplos de uso benéfico.

As redes sociais, ressalta, ampliaram ainda mais essa gama de informações. Lembra que todos os dias 60 milhões de brasileiros acessam diariamente o Facebook. “É uma pesquisa em tempo real em 30% da população.”

Conforme o cientista, com as ferramentas de análise, é possível decodificar os padrões sociais de cada público. Segundo ele, o desafio das empresas diante dessa nova realidade é saber utilizar esses dados para tomar decisões capazes de trazer benefício dos negócios.

“O aumento do ICMS foi um tiro no pé”

A Hora – O quanto as políticas sociais influenciaram o avanço da economia nos governos passados e qual a influencia delas na crise atual?

Lucas Schifino – Estudos mostram que essas políticas devem ser a última coisa a ser cortada pelo governo, porque representam o maior impacto no PIB. Beneficiam as camada de menor renda, que consome muito. Temos que cuidar com a perpetuação da desigualdade e saber se esse dinheiro é aplicado de forma a colocar essas pessoas no mercado de trabalho definitivamente.

Giane Guerra – O problema é o prazo. Geralmente se pensa em quatro anos, até a próxima eleição. Ao invés de investir em educação, se investe onde o efeito é imediato. São extremamente importantes para reduzir a desigualdade, mas estão sendo feitas?

Diante do aumento do ICMS, qual a avaliação sobre a política econômica estabelecida pelo governo Sartori?

Giane – É delicada, pois todo mês é um desafio até mesmo para pagar o funcionalismo. A retomada da economia pode dar um fôlego, mas se aumentarmos impostos e também as despesas públicas não resolve. O aumento do ICMS foi um tiro no pé.

Schifino – Vai na direção certa tentando atacar os problemas das finanças, mas aumento de impostos não é solução. No Estado 70% do problema é a previdência, que consome entre um quarto e um terço de todas as receitas liquidas. Por isso o pessimismo em relação ao futuro, pois só se resolve no longo prazo. Precisa reformar, tentar mudar a regras. Para isso, é preciso fazer um acordo nacional. Aumento de tributos só adia o problema e ainda cria o subterfúgio para o governo continuar gastando. Neste momento de crise, é altamente punitivo para a economia. O RS é hoje o campeão em inflação no Brasil. Muito disso se explica pela alta no ICMS.


“Os lojistas são os primeiros a sentir a crise e a saber o momento de saída da crise.”

“Uma empresa deve funcionar como uma orquestra”

A Hora – Quais são as semelhanças entre o funcionamento de uma empresa e o de uma orquestra?

João Carlos Martins – A música é algo que simboliza a eternidade. Quando falamos de música erudita, algo que foi composto há 250 anos continua, hoje, nos ouvidos da população. O problema é que, quando é feita por uma orquestra, cada naipe precisa respeitar o outro e todos têm que ter uma liderança. Não uma liderança autoritária, mas democrática. Uma empresa deve funcionar como uma orquestra. Com liderança, mas, antes de tudo, com harmonia. Essa é a ligação.

Você tem uma história de vida em que precisou passar por muitas superações. Neste momento de crise na economia, quais as atitudes que os empresários precisam ter para superar as adversidades?

Martins – Os lojistas são os primeiros a sentir a crise e a saber o momento de saída da crise. Importante é jamais perder o foco da esperança. Depois de 22 operações, descobri o significado da palavra resiliência. Os médicos falaram que eu não conseguiria tocar profissionalmente, me reinventei como maestro. Não podemos tratar uma tragédia com piedade e sim com amor á vida, e até com humor. De uma adversidade, você tem que fazer uma plataforma para dar um voo mais alto e não para se atirar em um abismo.

Você também integra projetos sociais que levam a música erudita para as camadas mais pobres da sociedade, contrariando a ideia de que essa população não está disposta a consumir cultura de qualidade. Como é essa experiência?

Martins – Eu prefiro esquecer a lenda e acreditar nos fatos. Nestes dez anos, atingimos mais de 13 milhões de pessoas ao vivo, não só nas grandes salas de concertos, mas também nas periferias. Para mudar essa visão, basta todos os artistas de ponta saírem de suas torres de marfim e irem ao encontro da população. Por que não fazer?


“O futuro aponta para a inteligência de dados”

A Hora – Como aplicar os conceitos da análise de dados em pequenas e médias empresas do mercado local?

Ricardo Cappra – O principal é entender que todas as pessoas estão gerando conversas públicas sociais. Sobre sua região, localidade, bairro e loja. Ao mesmo tempo, existem ferramentas que pegam essas conversas em tempo real e geram dados em formato de Excel. Você baixa essas informações e começa a fazer descobertas. Dá para saber se as pessoas que vão na loja falam bem ou não dela. A partir dessas informações dá para fazer as análises. Quando o dono do negócio olha os dados, faz a leitura que outras pessoas não fariam. Porque ele conhece o negócio. É relativamente simples.

Qual o limite entre o volume de informações disponíveis e a nossa capacidade de utilizá-las?

Cappra – Tem que entender quais perguntas fazer para os dados. Primeiro, coletar de forma mais aberta. Depois, fazer perguntas específicas, sobre pessoas de determinada região e com determinadas características. Se não limitar, chega em uma situação em que não se faz descoberta nenhuma porque não consegue processar e analisar devido ao grande volume de informações.

Muita gente tenta descobrir uma fórmula para ganhar dinheiro na internet. A pergunta mais adequada não seria: como usar a internet como ferramenta para conseguir melhores resultados?

Cappra – É exatamente isso. Como usar as informações que a internet proporciona para responder as dúvidas sobre meu negócio? Minha empresa não precisa estar na internet, mas precisa saber o que as pessoas que estão na internet, ou seja, todas, estão falando sobre o meu produto para eu poder escolher o melhor caminho e tomar as melhores decisões. O futuro aponta para a inteligência de dados.

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