Da senzala às academias. Capoeira ensina a viver

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Da senzala às academias. Capoeira ensina a viver

Nome reconhecido em diferentes cidades do país, mestre Karcará se dedica ao esporte faz 40 anos. Ele estima ter ensinado mais de dez mil pessoas

Da senzala às academias. Capoeira ensina a viver
Lajeado

A relação de Paulo Renato Narciso, o “Karcará”, com a capoeira iniciou depois de uma desilusão no futebol. Natural de Porto Alegre, jogava nas categorias de base do Internacional. Em uma final de competição na década de 70, foi substituído pelo filho do então presidente colorado, Marcelo Feijó.

“Me decepcionei e resolvi investir em outro esporte,” relembra. Ao se mudar para a Bahia, Karcará viu pela primeira vez uma demonstração de capoeira nas ruas de Salvador. “Primeiro não entendia o que era esse pessoal gingando.”

Com o tempo, ele retornou a Porto Alegre e começou a pesquisar sobre a luta brasileira. Sem dinheiro para pagar as aulas, tentava imitar os movimentos que via dos capoeiristas.

Em 1974, a oportunidade de entrar em uma academia surgiu quando um amigo havia pago os treinamentos, mas desistiu. Karcará se dispôs a ir em seu lugar. Confiante, chegou a dizer ao mestre Manoel Olímpio de Souza, o “Índio”, que já sabia capoeira. “Ele me pediu pra gingar. Depois disse que eu gingava todo torto e errado.”

Com dedicação e anos de treinamento, Karcará aprimorou as técnicas. Vendo o desenvolvimento, o mestre Índio o convidou para dar aulas pelo grupo Oxóssi. A primeira foi no bairro Menino de Deus, em Porto Alegre. “Para mim sempre foi prazeroso ensinar.”

Assim, o capoeirista começou a criar o grupo de alunos. Com o tempo, se formou professor e mestre no Mercado Modelo, da Bahia, e expandiu as atividades para outras cidades metropolitanas. Em Canoas, foi o pioneiro.

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Da Europa para o Vale do Taquari

Na década de 80, o mestre gaúcho ingressou em uma jornada em Barcelona, na Espanha. Ele viveu no país por seis meses e tentou disseminar a arte marcial brasileira no exterior. “Infelizmente acabei tendo algumas dificuldades em juntar os alunos por não ter lugar fixo de treinamento.”

Após, Karcará viajou por 15 países europeus levando os ensinamentos da capoeira, além de criar grupos de treinamento que continuam em atividade até hoje na França, Itália e Alemanha.

Ao retornar para o Brasil, o mestre morou em Torres. Em 1994, foi convidado por um grupo de alunos para dar aulas em Lajeado nos fins de semana. “Primeiro treino que dei foi no Parque do Imigrante. Nós estávamos em cerca de 30 pessoas.”

O número de participantes foi aumentando e fez Karcará se mudar para a cidade do Vale do Taquari. No começo, chegava a dormir na casa de alunos até conseguir uma quitinete para morar. “Tive dificuldades antes de conseguir consolidar a capoeira na região.”

Após quase quatro décadas dedicadas ao esporte, Karcará estima que mais de dez mil pessoas passaram por “suas mãos”. A possibilidade de disciplinar e afastar os jovens das drogas é comemorada pelo capoeirista. “Vejo hoje os jovens que treinei casados, com filhos e emprego. Até hoje muitos agradecem por eu ter dado esse norte para eles.”

Karcará dá aulas na Casa da Cultura de Lajeado. Além disso, tem alunos que participam de projetos sociais. Entre eles, Oruam da Rocha (responsável pelo Saia da Rua e Entre na Roda do bairro Conservas), Rita de Quadros (ministra aulas no São Bento) e Raimundo Donato (treina na Amam, em Arroio do Meio).

“Acredito que o que recebi da capoeira consegui dar em troca,” avalia o capoeirista. Uma das próximas metas do mestre é implantar um projeto de capoeira nas escolas lajeadenses.

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