A Brigada Militar alcançou em maio o menor efetivo dos últimos 30 anos. Conforme dados do Diário Oficial do Estado, mais de 900 policiais se aposentaram nos primeiros cinco meses de 2016. Desses, 30 são do Vale do Taquari. Apesar da onda de criminalidade no RS, o Piratini não sinaliza novas contratações.
De acordo com o presidente do Sindicato da categoria (Abamf), Leonel Lucas, até o fim do ano, serão ao menos três mil policiais ingressando na reserva. Para ele, a falta de efetivo é uma das principais propulsoras do avanço da criminalidade.
“Em maio, atingimos mil homicídios entre Porto Alegre e a Região Metropolitana. É um recorde negativo”, destaca. Hoje, o RS tem 15 mil homens no policiamento ostensivo.
Conforme Lucas, o número total de servidores da BM chega aos 19 mil, mas desses três mil são bombeiros e mil são policiais da reserva que retornam à ativa em escolas e na guarda de prédios do Judiciário.
“Eles não fazem o trabalho na rua, assim como alguns oficiais contabilizados no efetivo”, relata. Nem mesmo o anúncio da contratação de 178 policiais no início do ano amenizou os problemas. O número chegou a 207 após determinação judicial. Lucas destaca que os agentes foram nomeados para substituir policiais temporários desligados.
“Piorou ainda mais a situação, pois, enquanto estão em formação, os temporários são substituídos por policiais do patrulhamento”, ressalta. Na prática, durante os sete meses de formação, serão PMs a menos nas ruas.
Para o presidente da Abamf, o estado precisaria de um ingresso anual de três mil homens durante dez anos para assegurar as condições ideais de policiamento ostensivo. O sindicato entrou com ação judicial exigindo a contratação imediata de 2,5 mil concursados.
Estrutura deficitária
Além de enfrentar a ausência de efetivo, Lucas ressalta as dificuldades com os parcelamentos de salários e a estrutura deficitária. Segundo ele, os servidores precisam enfrentar jornadas dobradas sem a certeza de que terão dinheiro para pagar as contas.
Conforme o presidente da Abamf, ao chegar aos quartéis, os brigadianos precisam usar armamentos ultrapassados, coletes vencidos e viaturas de baixa potência para enfrentar bandidos com carros turbinados, metralhadoras e fuzis.
Diante dessa realidade, alerta para o grande número de agentes que se ausenta do trabalho por problemas psicológicos. Apesar disso ser de conhecimento público, alega que o governo do Estado não sinaliza providências.
Para o dirigente, a falta de efetivo deve se agravar ainda mais a partir deste mês, quando será definida a continuidade ou não das promoções.
Região
De acordo com o Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Taquari (CRPO-VT), responsável pelo atendimento de 38 municípios, 30 policiais militares se aposentaram na região em 2016.
Conforme o chefe do Comando Maior do CRPO, major Ivaan Urquia, cada servidor que se afasta, seja por aposentadoria, transferência, licença-médica ou para participar da Operação Golfinho, causa prejuízo ao planejamento das ações e operações.
Segundo ele, a corporação adotou medidas para amenizar as ausências. Entre elas, estão ações de inteligência, identificando locais, dias da semana e horários com maior incidência de ocorrências. “Direcionamos nossos efetivos para atuações nesses locais, datas e horários.”
Outra medida é o eventual emprego do efetivo administrativo do CRPO em eventos como feiras e jogos de futebol de campo e de salão. “Também realizamos gestões junto ao comando da BM no sentido de liberar mais cotas de horas extras, quando há eventos de grande porte na área do CRPO.”
Urquia ressalta que o efetivo previsto em lei para o CRPO é de 746 policiais militares. “Esse número não é alcançado há muitos anos, como ocorre em toda Brigada Militar.”