“Não sei como seria minha vida sem internet, pois ela já existia quando nasci.” A frase de um aluno do Colégio Evangélico Alberto Torres durante palestra com o psicólogo Cristiano Nabuco resume um dos principais desafios contemporâneos. A imersão da geração de nativos digitais na web por meio de aparelhos eletrônicos preocupa pais e educadores e foi o tema de três apresentações.
Ontem à tarde, Nabuco falou para alunos do Ensino Médio do colégio. Diante de uma plateia que não conheceu o mundo antes da internet, ele apresentou dados e contou histórias vivenciadas por ele em atendimentos no Núcleo de Terapias Virtuais e do Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo.
“Se usada de forma errada, a tecnologia pode causar vício semelhante ao enfrentado pelos dependentes químicos”, alerta. Segundo Nabuco, entre os sintomas, estão a depressão, o isolamento social e o consequente afastamento da realidade.
Conforme o psicólogo, parte desses problemas ocorre devido ao distanciamento entre a personalidade virtual e a real. Em ambientes como redes sociais e jogos on-line com multijogadores, as pessoas idealizam situações distantes da vida real. As dificuldades se agravam diante do conflito existente entre esses dois mundos.
“Pesquisas comprovam que quanto mais sucesso uma pessoa tiver na web, mais fracassada ela é na vida real”, aponta. O cenário é agravado diante dos inúmeros logaritimos utilizados pela empresas de tecnologia durante as navegações. Capazes de rastrear todas as atividades na rede, esses cálculos determinam quais os conteúdos ficarão disponíveis para cada usuário.
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“As pessoas ficam presas às informações favoráveis à visão de mundo já estabelecida por elas”, explica. Com menos acesso ao contraditório, os usuários ficam mais propensos a repetir os mesmos padrões e menos preparados para lidar com as frustrações da realidade.
Alterações no cérebro
Além dos problemas sociais e psicológicos, o uso excessivo da tecnologia também causa mudanças neurológicas. Ao receber uma enxurrada de informações e estímulos, o cérebro entra em estado de estresse e acaba perdendo a capacidade de ancorar novos conhecimentos.
Uma das consequências desses excessos é o desgaste da bainha da mielina, membrana que cobre os axônios de ligação entre os neurônios. O mesmo efeito ocorre em casos de dependências químicas. Segundo Nabuco, o resultado dessas mudanças em larga escala é o declínio dos índices de QI em todo o mundo.
Conforme o palestrante, a tecnologia pode favorecer o conhecimento. Para isso, é preciso evitar a realização de diversas tarefas simultâneos, mantendo o foco necessário em atividades como o estudo e o trabalho.