Um equipamento demonstrativo desenvolvido pela Embrapa de Passo Fundo, o simulador de chuvas, permitiu aos agricultores visualizarem melhor as perdas que ocorrem nas lavouras e passam despercebidas.
O equipamento simula uma chuva intensa em dois sistemas de plantio em caixas coletoras de água instaladas no solo. Um representa um plantio em nível, e o outro no mesmo sentido da inclinação (“morro abaixo, morro acima”, como dizem os agricultores).
Ambos são cobertos com a mesma quantidade de palha, mesmo tipo de solo e declividade. Extensionista da Emater/RS-Ascar, Vagner Moro, explica que a ideia é demonstrar que, em ambas as áreas, a água vai escorrer por debaixo da palha. A diferença é que, naquela que simula um plantio em nível, a velocidade de escorrimento da água será menor que a da área plantada no mesmo sentido da declividade.
Com essa percepção das perdas ocasionadas no solo demonstradas pelos tratamentos, “pretende-se orientar os produtores a utilizarem outras técnicas em conjunto para diminuírem as perdas nas lavouras”, diz.
Uma alternativa para amenizar o escoamento superficial da água da chuva, diz o técnico, é a utilização da palhada ou cobertura vegetal simultaneamente com outras técnicas, como o plantio em nível, o sistema de plantio direto com rotação de culturas, tudo isso associado a um terraço.
Com o emprego de todas essas técnicas de manejo do solo, pretende-se aumentar o tempo que a água permanece na lavoura, tornando-a disponível por mais tempo para as plantas. “Pelo simulador, demonstramos a importância de assegurar a água no solo, evitando a erosão, diminuindo as perdas de insumos, aumentando a produção das culturas e a lucratividade da propriedade.”
Na demonstração, fica comprovado que toda água que escorre para o rio tem fertilizantes, fungicidas, inseticidas e demais contaminantes, que poluem os mananciais, além de encarecer o tratamento da água para o consumo, e que pode causar ainda enchentes e estragos em estradas, pontes e em toda propriedade.
Palhada
Muitos agricultores consideram que a palha oriunda de restos culturais ou de plantas de cobertura na lavoura é suficiente para a conservação do solo. Segundo Moro, a palha é de grande importância, mas deve ser utilizada com outras práticas conservacionistas de solo.
Ela ajuda a quebrar o impacto da gota da chuva, no entanto, essa não é a solução para o aumento da infiltração de água no solo. “Se a água não infiltrar no solo, ela vai escorrer por debaixo da palha e isso muitas vezes não é percebido. Tudo o que estiver entre a palha e a superfície do solo pode ser perdido com a água e, dessa forma, ela está roubando muitos agricultores”, disse Moro.
Outro aspecto importante, de acordo com o técnico, é que a maioria das culturas é plantada em linha reta por causa do maior rendimento operacional oferecido por máquinas cada vez maiores, com o dimensionamento muitas vezes inadequado para a realidade de muitas propriedades.
Mas o plantio em linha reta nem sempre é a melhor opção, porque toda vez que não se planta em nível os sulcos formados pela semeadura acabam se tornando canais preferenciais para o escoamento da água da chuva e à disposição da enxurrada. “É nos sulcos que está a maioria dos insumos e que podem estar sendo carregados para fora da lavoura camuflados por debaixo da palha”, ressalta o técnico.
Solo protegido
O produtor Aldoir Roversi, 51, de Júlio de Castilhos, cultiva 96 hectares com soja. Para elevar a produtividade, tem um cuidado especial com o solo. “Quanto mais coberto, mais água se acumula na lavoura e ameniza o estresse hídrico da planta em épocas de seca. Além disso reduz as perdas de adubo e fertilizantes.”
O pastejo do plantel de vacas leiteiras é evitado em dias de chuva. Se fizesse, aumentaria a degradação e seria necessário uma maior quantidade de adubos e fertilizantes para retomar seu potencial produtivo.
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