Decisão judicial sobre morte  abala amigos e familiares

Lajeado

Decisão judicial sobre morte abala amigos e familiares

Motorista responsável por acidente em 2011 estaria embriagado

Decisão judicial sobre morte  abala amigos e familiares
Lajeado

Flávio Ruwer, então com 33 anos, morreu de “hemorragia intracraniana difusa por trauma cranio encefálico consecutivo a politraumatismo” após ser atingido às 5h15min do dia 29 de janeiro de 2011. Ele trafegava com uma motocicleta no acostamento da ERS-130 quando foi atingido na traseira por um veículo Scenic, dirigido por Maurício Augusto Haenssgen, 20 anos na época. Para o Ministério Público (MP), o condutor do carro estava alcoolizado.

Pelo homicídio culposo, Haenssgen foi condenado – inicialmente – à pena de dois anos de detenção. Mas, o juiz, Paulo Meneghetti, substituiu a pena privativa de liberdade por prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período da condenação e pagamento de cinco salários mínimos. Além disso, a habilitação para dirigir foi suspensa por dois meses.

De acordo com o inquérito, o réu retornava de uma festa, no Café Virtual, quando no quilômetro 65 bateu na motocicleta de Ruwer. O corpo foi arrastado por 30 metros e a vítima morreu no local. O MP ofereceu denúncia à Justiça em março de 2015, e a defesa solicitou a absolvição “pela ausência de tipicidade, falta de provas, e por culpa exclusiva da vítima”.

Para o MP, Haenssgen estava, além de alcoolizado, “conduzindo seu veículo de forma imprudente, eis que imprimiu velocidade excessiva para o local e as condições climáticas, e realizou manobra imperita, conduzindo o veículo pelo acostamento.” O carro parou a cerca de 378 metros do ponto de impacto e o réu permaneceu no local até constatar a presença do policiamento rodoviário.

Após a chegada de equipes de socorro e familiares, Haenssgen foi encaminhado ao hospital. Conforme depoimento do médico que o atendeu, o réu se apresentava “em estado avançado” de embriaguez, o que pôde, segundo o profissional da saúde, ser verificado em função do “odor alcoólico no hálito e no suor, tonturas e descoordenação motora”.

Réu nega ter bebido álcool

O réu voltava para casa, em Cruzeiro do Sul, no momento do acidente. Haenssgen nega ter ingerido bebida alcóolica. Segundo disse no inquérito, ele só “bebeu água e energético”. Nega também ter conduzido o veículo em ziguezague e, sobre depoimento do médico, diz “tremer bastante” e acredita que as alterações registradas na ficha de atendimento “eram decorrentes de seu estado nervoso.”

Um amigo do réu, na companhia dele antes e durante a festa, reitera no inquérito a posição sobre a ingestão, tão somente, de energéticos por parte do condutor do veículo. Já o médico garante que “bebida energética não produz odor alcoólico”, e “o odor alcoólico não é alterado pelo eventual consumo simultâneo de bebida energética”.

Sobre a manobra considerada “imperita” pelo MP, conta ter percebido, pouco antes do local do acidente, “que havia deixado as chaves da casa com um amigo” e decidiu retornar no trevo de acesso ao bairro das Nações. Foi quando sentiu, “sem ver”, uma batida. Com o “estouro do air bag e do vidro, “não enxergava mais nada”. Após, manobrou no sentido contrário até sentir um novo impacto, “mais suave”.

Haenssgen então fez alguns telefonemas e foi até o local da colisão, onde conversou com um amigo de Ruwer. Ao observar a vítima, teve “quase certeza que estava morta”. O réu falou ainda sobre as condições da pista. Segundo ele, não havia iluminação pública em virtude da obra do novo estádio do Lajeadense. O réu nega ter invadido o acostamento e afirma ter colidido com a vítima na pista.

A reportagem tentou contato com o réu, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

Filha sente falta do pai

Ruwer mantinha relacionamento de 11 anos com Leonara dos Santos Silveira. Tiveram uma filha, hoje com 8 anos de idade. “Sempre pede pelo pai. Sente muita falta. É triste, difícil de explicar para ela.” A mãe reclama a falta de assistência por parte da família do condutor do Scenic. “Nunca nos procuraram ou ofereceram assistência.” Ela pretende recorrer da decisão judicial. “Pela violência, não esperávamos que fosse tão branda. Vamos recorrer. É muito pouco. Muito injusto.”

Detalhes do acidente

Ruwer era morador do bairro Cascata, em Cruzeiro do Sul, e voltava do trabalho naquela madrugada. O amigo e colega na empresa Perdigão, Dorval Weber, o acompanhava de bicicleta sobre o acostamento da rodovia. Na denúncia, cita ter visto o Scenic se aproximando. Ele gritou, mas não houve tempo da vítima escapar. “A moto ficou presa no veículo, ‘de pé’, com o corpo de Flávio entre a motocicleta e o para-brisa frontal”, conta.

Após a batida, Weber viu um “rastro de fogo” e o réu conduzindo o veículo até os cordões do trevo de acesso ao bairro das Nações, colidindo contra o mesmo. Nesse momento, o corpo da vítima caiu de cima do capô do carro e, mais adiante, a moto também se desprendeu do carro. O amigo foi até Ruwer, colocou a mão sobre o corpo e perguntou: “o que é isso?”. A resposta foi um breve “gemido”.

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