Receber e dar troco tem se tornado cada vez mais difícil no comércio do Vale. As moedas se tornaram artigo escasso. A dificuldade é resultado da menor produção, que acontece desde 2014, quando o governo federal tomou a medida como forma de reduzir despesas. Com isso, os gastos com a cunhagem caíram de mais de R$ 1 bilhão em 2013 para R$ 518 milhões em 2015.
Com poucas moedas à disposição, os comerciantes relatam ficar no prejuízo, e muitas vezes até perdem vendas por não poder dar o troco correto. Para evitar isso, Clayton Scherer, 44, dono de um supermercado no bairro Olarias, em Lajeado, preferiu arcar com os valores, dando uma espécie de desconto aos clientes. “Quando não temos o troco, acabo cobrando menos, afinal, o cliente não pode ficar mal. Só que R$ 0,30 em uma compra é uma coisa, mas ao longo do dia isso vai se acumulando e vira uma bola de neve”, relata.
O comerciante se mostra surpreso com a falta das moedas. “Não sei se estão guardando em casa, ou não tem mesmo.” Scherer destaca que o mais difícil é encontrar moedas entre R$ 0,25 e R$ 1. Ele afirma que começou a sentir o problema há cerca de um ano e meio.
Para tentar minimizar a situação, há duas semanas, Scherer estampou no estabelecimento cartazes pedindo aos clientes para levarem moedas para trocar por cédulas. Os clientes têm atendido aos pedidos, mas a escassez segue. “A maioria traz valores baixos, no máximo R$ 50, para trocar. Mas teve um senhor que tinha R$ 400 em moedas.”
Menos moedas também é estratégia para frear a inflação
A primeira queda na produção de moedas começou logo depois da implantação do Plano Real. Essa é uma estratégia para tentar manter o controle sobre a inflação. Segundo economistas, além da contenção de gastos, o controle da inflação também explica a redução na cunhagem.
São gastos em média R$ 0,25 para produzir cada moeda. Para este ano, o orçamento de produção é de R$ 480 milhões. Até o dia 12 de maio, foram colocadas 137,7 milhões de novas unidades à disposição.
Segundo o Banco Central, o país tem 23,96 bilhões de moedas no mercado, o que representa R$ 6,01 bilhões. Segundo os cálculos do BC, cada brasileiro tem cerca de 116 moedas, o que representa R$ 29,20. O órgão afirma que administrará os estoques para garantir que não faltem moedas.
Dinheiro em casa impacta na economia nacional
Bom para as finanças pessoais, mas prejudicial à economia do país. Assim o economista e coordenador do curso de Logística da Univates, Samuel De Conto, avalia o costume dos brasileiros de guardar moedas em casa.
A Hora – Por que o Brasil reduziu a cunhagem de moedas?
Samuel De Conto – Após a implantação do Plano Real (1994), com a redução da inflação (com exceção dos últimos anos), seguiu-se com a política de redução na emissão de moeda, pois mais unidades em circulação resultam inflação (um dos motivos, mas não o único).
Como o governo detéma produção de dinheiro, como ele usa isso para controlar indicadores como a inflação?
De Conto – Quando o governo emite mais dinheiro, (produção) haverá mais recursos circulando, mas isso provoca um volume maior e a população vai querer gastar esse dinheiro. Diante disso, havendo uma demanda crescente, os preços vão subir de maneira generalizada, provocando aumentos inflacionários.
De que forma a escassez de moedas impacta nos comércios regionais?
De Conto – Na verdade, impacta em todos os mercados, pois não somos uma ilha na economia brasileira. A escassez ocorre principalmente porque as expectativas dos agentes econômicos (famílias e empresas) nestes períodos de crise são as piores possíveis, então, esses decidem segurar o consumo e investimento até que a situação dê sinais de expectativa positiva. A retração no consumo e no investimento neste caso afeta inclusive na nossa região que produz para o mercado interno. Entretanto, para aquelas organizações que exportam, o período está favorável, haja vista a taxa cambial.
O brasileiro ainda tem a cultura de usar moedas ao invés de cédulas para realizar compras?
De Conto – Sempre teve. O problema é o manuseio dessas que muitas vezes faz com que deixamos em casa. Mas é uma boa justificativa para termos um cofrinho em casa para guardar as moedas.
Moedas podem auxiliar nas economias domésticas? De que forma?
De Conto – Sim, com certeza. Primeiramente devemos criar o hábito de poupar recursos (seja moeda ou cédula), pois em momentos como este que estamos passando serem menos traumáticos para passarmos. Devemos recuperar um velho hábito que ficou um pouco esquecido: o de termos nas nossas famílias um “porquinho” ou cofrinho para guardarmos as moedas.