Balsa encerra transporte e distancia comunidades

Vale do Taquari e Serra Gaúcha

Balsa encerra transporte e distancia comunidades

A travessia por barca entre Muçum e Santa Tereza acabou. O serviço aproximava a região ao Vale dos Vinhedos. Ponto também virou atração turística.

Balsa encerra transporte e distancia comunidades
Vale do Taquari

Meio de locomoção mais antigo que o próprio município de Santa Tereza (emancipado de Bento Gonçalves em 1992), o transporte de balsa até Linha Alegre, em Muçum, pode acabar. Proprietário da última embarcação no Rio Taquari, Paulo Villa, 52, encerrou as atividades em novembro do ano passado.

Ele é natural de Linha Alegre e organizava as travessias desde 2001. Na época, investiu R$ 30 mil na compra da barca em uma empresa de Caxias do Sul. “Vi que a comunidade precisava de um meio de transporte alternativo.”

Nas semanas movimentadas, Villa chegava a fazer mais de 50 viagens por semana. A maioria da clientela, conforme ele, era formada por ex-moradores de Linha Alegre que vinham visitar familiares no sábado e domingo.

Após cinco anos, Villa se mudou para o outro lado do Rio Taquari, no centro de Santa Tereza. No bucólico município de 1,7 mil habitantes, a balsa ganhou status de atração turística. “Já veio gente de São Paulo, Rio de Janeiro e até da Argentina passar por aqui.”

Entretanto, o encanto pela embarcação foi se perdendo com o tempo. A quantidade de viagens caiu devido ao êxodo rural em Linha Alegre. Conforme Villa, foram menos de 20 por semana nas últimas temporadas.

Com problemas de saúde e cansado de trabalhar nos fins de semana, ele percebe as dificuldades em manter o negócio. “Consegui fazer meu pé-de-meia (sic). Já não tenho mais condições físicas para continuar as travessias.”

Villa quer vender a balsa por um preço “camarada”. “Se me oferecerem R$ 10 mil eu vendo.” Mas para isso deseja que o novo comprador mantenha as viagens para as cerca de 40 famílias que ainda residem em Linha Alegre.

Com a balsa, a travessia entre o Santa Tereza e a localidade muçunense é feita em menos de cinco minutos ao um custo de R$ 20. Pela estrada, a distância é de mais de 50 quilômetros.

História se repete

Entre a década de 80 e 90, Ari da Silva, 75, fazia as travessias pelo Rio Taquari. Ele montou a balsa com ajuda financeira das administrações municipais de Bento Gonçalves e Muçum. “Uma deu a madeira e outra ajudou com a mão de obra.” A embarcação transportava até dez toneladas e ficava a cerca de um quilômetro do ponto de travessia utilizado por Villa.

Conforme Silva, o pouco movimento o fez desistir da atividade. “Ficava aqui esperando o pessoal. Tinha dias sem nenhum movimento.” Ele vendeu as madeiras e continuou morando no mesmo local. Hoje, o ponto onde funcionava a antiga balsa é utilizado para a pescaria.

Tradição do século XIX

A utilização de balsas nos rios Taquari e Antas desponta desde 1850, quando iniciou a colonização italiana na região. Conforme o professor Cezar Prezzi, o transporte náutico era a única forma de os antigos colonizadores desbravarem novas áreas e transportarem os produtos pesados.

Com o desenvolvimento das rodovias, Prezzi enfatiza o fato de os vales do Taquari e Vinhedo acabarem se distanciado, embora sejam colonizados pelo mesmo grupo de famílias. O professor lastima a interrupção dos trabalhos da balsa em Santa Tereza. “É lamentável termos comunidade irmãs separadas por causa do rio. São locais que ficam isolados.”

Para Prezzi, a tradição do transporte náutico deveria ser explorada para o turismo e incentivada pelos órgãos públicos. “Os rios Taquari e Antas são muito belos. Com certeza os turistas ficariam admirados com as paisagens.”

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