“Golpistas não serão aliados do PT”. Foi com essa frase que a Comissão Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou a orientação para que os diretórios municipais evitem coligações com siglas apoiadoras do processo de impeachment contra a presidente, Dilma Rousseff. Decisão ainda será avaliada pela cúpula nacional do partido.
Para a executiva do PT no estado, “as alianças municipais devem ser construídas sobre bases programáticas, abrangendo partidos que compõem a Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo e também setores e personalidade que se posicionaram em defesa da democracia e contra o impeachment”.
A decisão publicada no dia 2 de maio atinge em cheio diversas coligações estabelecidas no Vale do Taquari. A principal envolve Lajeado, município mais populoso, onde o prefeito do PT, Luís Fernando Schmidt, costura aliança com o PTB, do vice-prefeito, Wilson Jacques, ex-PMDB.
Antes mesmo de ser confirmada pelo diretório nacional, a determinação da executiva estadual provoca polêmica. Conforme o presidente do PT no RS, Ary Vanazzi, é preciso mais “rigor no momento de conciliar dobradinhas”, sob risco de “se aliar com partidos cujas idelogias diferem do ideal petista”.
Apesar disso, Vanazzi acredita na possibilidade de negociar, caso a caso, com os candidatos a majoritária pelo Estado. É a mesma opinião do presidente da sigla no Vale do Taquari, Claudio Roberto dos Santos, de Bom Retiro do Sul. “Não podemos ser parceiros de diretórios municipais que se posicionam contra nosso partido. Mas teremos graves problemas se cumprirmos à risca essa normativa.”
Santos cita pelo menos 11 cidades da região onde o PT mantém – ou planeja – coligação com partidos favoráveis ao impeachment. Entre os municípios lembrados por ele, estão Westfália, Bom Retiro do Sul, Arroio do Meio, Tabaí, Fazenda Vilanova, Paverama, Teutônia, Encantado, Taquari, Sério, Canudos do Vale, Travesseiro, além de Lajeado.
“Não vai ser fácil essa negociação. Creio ser essencial uma avaliação local de cada caso. Verificar, por exemplo, se o candidato do outro partido se manifestou contra a Dilma em jornais, redes sociais e afins. Diante disso, é interessante que os próprios diretórios dispostos a serem parceiros do PT comecem a cuidar dessas atitudes”, sustenta o coordenador regional.
Punições não estão descartadas
Sobre possíveis sanções aos candidatos do PT que, por ventura, desrespeitem às determinações da executiva nacional e estadual, ele prefere manter a cautela. “Ainda é cedo para abordar dessa maneira o assunto. Por se tratar de municípios pequenos, onde uma coligação pode ser imprescindível, abrir mão de um aliado será uma decisão muito difícil”, antecipa.
Em Lajeado, o presidente da sigla, Ricardo Ewald, já se manifestou contrário à determinação do PT estadual. Segundo ele (que pretende ignorar a decisão e garante não ter sido informado oficialmente pelo diretório de Porto Alegre) a coligação com partidos como o PTB e o PSB – apoiadores do impeachment no país – está confirmada para outubro de 2016.
“A decisão é deles. Não nos cabe opinar”
Para o coordenador regional do PMDB no Vale do Taquari, Norberto Dalpian, a decisão de coligar ou não com partidos contrários – em âmbito nacional – ao governo da presidente Dilma Rousseff deverá ser tomada tão somente pelos correligionários e agentes públicos petistas. “Não tenho como opinar, a decisão é deles. E eu acredito que será acatada. Se assim for, não há o que fazer.”
Dalpian cita pelo menos seis prováveis coligações do PMDB com o PT na região, e garante não haver qualquer determinação do diretório nacional e tampouco do Estadual no sentido de evitar dobradinha com petistas. “Ficaremos reféns de uma decisão unilateral. Estamos na expectativa, e é nosso interesse seguir junto com eles onde os trabalhos vêm sendo bem realizados”, finaliza.
“O PTB não recebe determinação de outros”
Presidente regional do PTB, o assessor parlamentar, Fabiano Diehl, garante que o partido
“não recebe determinação de nenhuma outra sigla”. “É com eles essa decisão”, comenta. Ele fala sobre a coligação com o PT em Lajeado, onde os trabalhistas mantêm ocupada a cadeira do vice-prefeito.
“Temos coligações com o PT em alguns municípios. Em Lajeado, temos um ótimo diálogo com o prefeito Luís Fernando Schmidt, e a intenção é manter a dobradinha para esta eleição.” Ele salienta ainda que as convenções acontecem só a partir de julho, e “qualquer manifestação é precipitada”. A legislação eleitoral define que a homologação das coligações ocorre entre 20 de julho e cinco de agosto.
Processo de impeachment no Senado
A votação da admissibilidade do impedimento da presidente pelos senadores iniciou durante essa madrugada. A projeção do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), é finalizar o processo até amanhã. Dos 81 parlamentares, 41 precisam votar “sim” para que Dilma Rousseff seja afastada por 180 dias. Após, haverá novo pleito para decidir pela cassação ou não do mandato.
Pelas projeções divulgadas na imprensa nacional, 52 senadores já se manifestaram favoráveis ao seguimento do impeachment, 21 contra, três indecisos, três não responderam e dois poderão se ausentar da sessão plenária. Pelo Estado, a expectativa é de votos contrários ao mandato de Dilma pelos parlamentares Ana Amélia Lemos (PP) e Lasier Martins (PDT), e de apoio pelo senador Paulo Pain (PT).
“Vamos analisar caso a caso nossas alianças”
Presidente estadual do PT, Ary Vanazi condiciona a decisão de proibir as coligações com partidos favoráveis ao impeachment
A Hora – Qual a posição do PT, afinal, sobre coligações com partidos apoiadores do impeachment?
Ary Vanazi – Não é uma ação definitiva. Se trata de uma orientação estadual do nosso partido. Dia 17 de maio, em Brasília, o diretório do PT discutirá isso como política nacional. Já dia 21 de maio, em Porto Alegre, vamos discutir novamente com a direção da sigla no Estado, e aí sim criar uma resolução oficial sobre esse tema das alianças. Nossa posição hoje é ser contra coligações com siglas que foram favoráveis ao golpe. Orientamos, prioritariamente, alianças com PC do B, PSol e PDT. Entendemos que esse é um bloco necessário para fortalecer a esquerda e enfrentar esse novo cenário nacional.
A Hora – São pelo menos 11 cidades do Vale com alianças. Haverá excessões?
Vanazi – Vamos analisar caso a caso nossas alianças. Por exemplo, em um muncípio onde o PMDB tem o vice do PT, e esse agente ou futuro candidato peemedebista não organizou, se manifestou ou expressou posição favorável ao golpe, é uma aliança que não é problema, que podemos tratar. Nós não vamos permitir aliança com candidatos que se manifestaram ou escreveram em redes sociais palavras favoráveis ao golpe. Isso não tem jeito. A decisão é uma forma de cortar de forma mais clara as relações com essas pessoas.
A Hora – Qual o principal objetivo dessa resolução?
Vanazi – A orientação tem como objetivo mudar o próprio partido. Dar mais nitidez política ao PT. Há um setor significativo da sociedade que nós recuperamos nos debates, que voltaram a confiar no partido. Não podemos mais fazer aliança ‘a rodo’. Acho que o PT, após a passagem do Lula pela presidência, foi muito pragmático. Fez aliança só olhando a questão eleitoral. Isso nos levou à coliogações que deram pouco resultado de ponto de vista estratégico. Hoje, quando a classe trabalhadora corre risco de perder conquitas históricas, poucos aliados se manifestam contrários a isso. E essa política de aliança se radiou por estados e municípios. É preciso mudar. Assim como é necessário insistir nas reformas políticas, principalmente o fim do financiamento empresarial de campanha e a criação de siglas sem ideologia.