Seis meses após greve nacional dos caminhoneiros bloquear diversos trechos de rodovias estaduais e nacionais, ontem foi a vez de manifestantes de esquerda paralisarem o tráfego em um trecho da BR-386, em Nova Santa Rita. Ao contrário do movimento de novembro de 2015, o protesto de ontem foi contrário ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A votação no Senado está marcada para hoje. Grupos sociais, como o Movimento dos Sem Terra (MST), prometem novas manifestações contra o que chamam de “golpe parlamentar”.
Ontem, cerca de 120 integrantes do MST – já assentados em uma área próxima à BR-386 – invadiram a pista da rodovia federal. O protesto iniciou às 6h20min, e o tráfego de veículos foi liberado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por volta das 10h30min.
“Eles deixaram a pista antes disso, mas foi preciso chamar os bombeiros de Canoas para apagar o fogo ateado em pneus”, comenta o policial rodoviário, Darci Luis Grings. “Foi preciso fazer a limpeza da pista, que ficou bastante avariada devido às quase cinco horas de fogo sobre o asfalto. Vai causar buracos ali, com certeza”, alerta.
Grings confirma que não houve qualquer conflito entre policiais e manifestantes. “Tentamos desviar o trânsito pelo bairro de Sanga Funda, mas pelo alto fluxo não foi o suficiente.” O agente acredita que o protesto provocou entre seis e sete quilômetros de engarrafamento.
A paralisação provocou atrasos a quem se deslocava de Porto Alegre ao interior ou vice-versa. De acordo com informações do setor de tráfego da empresa de transporte Expresso Azul, detentora da concessão da linha entre Lajeado e a capital gaúcha, o ônibus executivo que saiu às 6h20min do Vale chegou só após às 11h na rodoviária porto-alegrense.
Além da BR-386, houve bloqueios em diversas rodovias na Região Metropolitana e no interior do estado. As manifestações, promovidas por movimentos sociais contrários ao impeachment, integram a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo. Eles paralisaram o fluxo na BR-290, ERS-040, ERS-118, BR-116, BR-285, BR-153 e BR-158. A ação foi replicada em outros estados.
“O objetivo é denunciar o golpe”
Um dos diretores do MST no RS, Cedenir de Oliveira garante que as manifestações prosseguem. “A mobilização faz parte de uma jornada nacional para denunciar o golpe. Não aceitaremos um governo ilegítimo”, sustenta.
Para Oliveira, o processo de impeachment tem como objetivo “entregar o país aos investidores internacionais”. Segundo o militante, medidas neoliberais estariam prontas para serem aprovadas assim que Michel Temer assumir a gestão do país.
“Ameaçam greve, mas nem trabalham”
Para a coordenadora do Movimento Brasil Livre (MBL) no estado, Paula Cassol Lima, o governo federal foi conivente com as manifestações dessa terça-feira. “O governo petista mostrou como é mau caráter. Pois quando caminhoneiros trancaram rodovias para reinvindicações da classe, a presidente mandou retirá-los à força, sob ameaças. São dois pesos e duas medidas.”
Sobre as ameaças de novas manifestações por parte do MST, ela cobra maior rigor por parte dos órgãos de segurança e pede punição aos envolvidos nos bloqueios de rodovias. “É preciso punir quem abusa, comete crimes e impede o direito de ir e vir. Sobre o futuro, eles ameaçam com greve, mas não entendo como fazer isso se eles não trabalham.”
Expectativa no Senado
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), confirmou na segunda-feira que a admissibilidade do processo de impeachment movido contra a presidente da República será decidida ainda hoje. Cada senador terá dez minutos para discutir e mais cinco para encaminhar o voto.
Segundo Renan, a expectativa é que pelo menos 60 senadores falem. Se isso ocorrer, a previsão é que a sessão dure pelo menos dez horas. Ela inicia às 9h, e haverá uma interrupção ao meio-dia. A retomada dos trabalhos será às 13h, seguindo até 18h. Em seguida, nova interrupção e retomada às 19h.
O parecer do impeachment – já aprovado pela Câmara dos Deputados e pela Comissão Especial do Senado – será apreciado por todos os 81 senadores. Para dar seguimento ao processo de impedimento, são necessários 41 votos favoráveis (maioria simples). Se aprovado, Dilma Rousseff será afastada, provisoriamente, por até 180 dias.