Mãe e filho entregues ao parto humanizado

Comportamento

Mãe e filho entregues ao parto humanizado

Neste procedimento, o fortalecimento do vínculo da mãe com o bebê sempre será prioridade. O tempo de gestação é respeitado e o nascimento ocorre em ambiente calmo, com penumbra, música e aromas. Para o alívio da dor da mãe, exercícios e massagens

Mãe e filho entregues ao parto humanizado
oktober-2024

Em uma manhã de maio, ao acordar, Alessandra Ortiz sentiu os primeiros sinais de que Arthur estava para nascer. Assim que a bolsa rompeu, chamou a doula Sabrina Fritsch. A relação de confiança com ela foi essencial para manter a calma e dar continuidade ao parto humanizado.

Ao descobrir a gravidez, a felicidade tomou conta da família. “Festejamos muito.” Os nove meses passaram sem percalços sempre com acompanhamento médico.

Não faltaram os sinais intrínsecos ao momento: enjoo, azia e sono. “Mas me sentia feliz e realizada.” Arthur se mexia bastante, ainda mais quando o pai, Eliandro Pithan, tocava gaita. “Demos muito amor a ele ainda na barriga.”

Alessandra soube do parto humanizado por meio de uma amiga, que optou por ter o filho em casa. As intervenções durante partos em hospitais comuns eram o que mais a deixavam receosa. “Ficar deitada de pernas para cima e fazer episiotomia (corte no períneo) são imposições que desvirtuam a experiência”, acredita.

No dia do parto, o momento tão esperado demorou. Enquanto isso, ela decidiu rumar com o marido para o hospital de Muçum. Depois de chegar, uma parada inusitada: o desejo era de comer um xis. As contrações mais fortes começaram só às 2h.

No decorrer das horas, as presenças do marido e da doula foram fundamentais. “Minha coragem acabou, então precisei de apoio.” Frases simples, como “vai dar tudo certo”, e atos como tocar música e fazer massagem amenizaram as dores do parto, lembra.

Arthur nasceu 24 horas depois da primeira contração. Alessandra lembra de cada detalhe. Estava de cócoras quando Caroline colocou o filho em seus braços. O marido, sempre ao lado, chorava. “Sensação indescritível. O momento mais lindo da minha vida.” A primeira mamada veio em seguida, para fortalecer o vínculo entre mãe e bebê.

Humanização

Segundo a médica obstetra Caroline Chiarelli, a procura pelo parto humanizado cresceu na região depois de 2013, quando iniciou as atividades do grupo Nascer Sorrindo Lajeado. Com outras profissionais especialistas em saúde da mulher, promove rodas de conversa sobre o tema. O intuito é dar conhecimento para que mulheres tenham o poder de decisão sobre seus partos.

Caroline atende pessoas de toda a região. A maioria dos nascimentos ocorre no Hospital de Muçum, referência em atendimento humanizado. O modelo físico de estrutura, com suíte de PPP (pré-parto, arto e pós-parto), é único no estado. Dispõe de equipamentos como bola suíça, banqueta de parto, chuveiro e banheira de hidromassagem.

A médica obstetra define o parto humanizado como um modelo no qual os desejos da mãe são respeitados. Logo quando o bebê nasce, é colocado direto no colo e permanece em contato “pele a pele” durante a primeira hora de vida.

A aspiração de vias aéreas não é feita, o colírio nos olhos é dispensado e o cordão umbilical é clampeado só quando para de pulsar ou na saída da placenta. “Isso favorece a transição suave da vida intra para a extrauterina.”

Os benefícios são inúmeros, diz. A rápida recuperação por não ter episiotomia, o fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê e a grande satisfação das mulheres e famílias que optam por passar pela experiência estão entre eles.

Doula: relação de confiança

A atuação da doula durante o parto é reconhecida e estimulada pelos Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos mostram que a presença das profissionais ajuda a diminuir em 50% os índices de cesáreas, 25% a duração do trabalho de parto, 60% os pedidos de analgesia peridural e em 30% o uso de analgesia peridural.

A doula e fisioterapeuta Sabrina Fritsch conta que desenvolveu forma própria de trabalhar, pois a profissão não é regulamentada. “Veio muito da experiência de quanto tive meus filhos. Percebi o que faltou e o que era importante.”
O primeiro contato da doula com o casal ocorre no início da gravidez.

Falam sobre orientações gerais, amamentação, plano de parto e como será o dia do nascimento. Depois disso, as conversas são constantes. Sabrina brinca ao dizer que faz “whatsTerapia”. É por meio do aplicativo de conversa WhatsApp, que as mães esclarecem dúvidas e a profissional dá dicas de leituras e exercícios físicos.

O suporte durante o parto varia a cada família. Algumas mulheres necessitam se manter em movimento durante o processo. Outras precisam de ajuda emocional: alguém do lado para dizer que está tudo bem e que ela vai conseguir. Depois do nascimento, a doula ajuda na amamentação e auxilia o pai nos primeiros cuidados com a criança. O último contato ocorre semanas depois, para revisar amamentação e lembrar a mulher dos detalhes do parto.

Sonho de maternidade

O grande sonho de Margrith Maia Holz era ter um filho por meio de parto natural. Por uma condição médica, a primeira filha, Sophia, teve de nascer por cesárea. “Foi o melhor para ela, e além de tudo uma experiência tranquila.”

Depois de oito anos, quando conheceu o grupo Nascer Sorrindo Lajeado, a vontade de ser mãe novamente ascendeu.
Foi em fevereiro deste ano que o segundo filho, Saymon, veio ao mundo. As primeiras contrações ocorreram enquanto preparava o carrinho para a chegada do pequeno. Logo, entrou em trabalho de parto e rumou ao lado do marido Cléber Holz ao hospital de Muçum.

Tudo aconteceu rápido, lembra Margrith. As contrações eram fortes e com pouco espaçamento. Cléber acompanhou cada momento. O nascimento de Saymon ocorreu no banquinho, com o auxílio da médica obstetra Caroline e da doula Sabrina.

A emoção é indescritível, diz a mãe. A proximidade com o bebê nos primeiros momentos de vida é momento que jamais se repetirá, por isso, deve ser respeitado. “Os olhares se cruzando, o calor da pele, a primeira mamada. Inesquecível.”

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