A crise e o clima de instabilidade do país geraram um aumento no endividamento das famílias gaúchas. Além disso, a falta de educação econômica, aliada à necessidade de manutenção de status social, está entre as explicações para que 9,1% dos consumidores admitam que ficarão devendo, segundo os dados da Fecomércio-RS. O número representa 48,4 mil endividados sem condições de pagar.
Mesmo com a queda de 1 ponto percentual em relação a 2015, o índice ainda é considerado preocupante. Hoje, 30,5% dos consumidores estão com contas em atraso, número muito superior aos 19% no mesmo período de 2015.
As principais dívidas contraídas são o cartão do crédito, carnês e o empréstimo pessoal. Segundo o professor do curso de Administração da Univates, Sandro Faleiro, o motivo é que essas são as linhas mais simplificadas de crédito.
Porém, a facilidade esconde uma armadilha, já que as mesmas têm os maiores juros do mercado. “Os bancos concedem crédito e usam o cartão como instrumento para sobreviver. Como o acesso é muito facilitado e as pessoas perdem a medida na hora de usar”, esclarece Faleiro.
As dívidas de 27, 3% dos endividados ficam abaixo de dez salários mínimos, enquanto 31,3% acima. Valores também considerados preocupantes por Faleiro. “Se comparado com os EUA é baixo, mas ainda assim é muito alto para o nosso país.”
Falta educação financeira à população
Para o professor Faleiro, a crise é apenas mais um catalizador de dívida. Ele destaca a falta de educação financeira como principal motivo para o brasileiro gastar mais do que ganha. Confira a entrevista concedida para o Jornal A Hora.
Como as famílias fazem para sair da situação de devedores?
Os dados têm aumentado pouco e reforçam um tendência. As dívidas ocorrem por ter perdido o emprego, estar ganhando menos ou porque o preço dos produtos aumentou. Nesse caso, se assumem as necessidades básicas. Primeiro a alimentação, os gastos de moradia e saúde. E então outras contas são deixadas de lado, como a prestação do carro e o carnê da loja.
Por que as pessoas no Brasil costumam gastar mais do que ganham?
Isso é uma questão de educação financeira que nós não recebemos. Em muitos países da Europa, os estudantes são formados sobre isso na escola. E isso não forma cultura, então, acaba não passando de geração em geração. Assim o que acontece é que em períodos econômicos favoráveis as pessoas intentam ter suas coisas e gastam sem medida, sem perceber que avançam nos seus gastos e comprometem receitas futuras. E também existe um conceito social de consumo que reforça isso. Então mesmo que a ideia de não gastar mais do que se ganha seja um conceito universal, acaba não sendo aplicado.
Quais os motivos de o cartão de crédito, carnês e empréstimo pessoal serem os vilões da economia pessoal?
Por serem as formas de crédito mais acessíveis à população em geral. Basta abrir uma conta em banco e o cliente ganha limite pessoal e cartão. E como não existe uma instrução formal para utilizar esses serviços, as pessoas acabam utilizando essas formas de crédito para suprir desejos. Então elas vão usando e isso vira uma bola de neve.
Como você avalia os valores das dívidas, de 31,3% acima de dez salários mínimos?
Comparado com outros países, é baixo. Por exemplo, o índice dos americanos é muito maior. A economia americana também é toda baseada em financiamento para gerar consumo e então em certos períodos tem uma bolha financeira.