Os índices divulgados em março pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a região tem mais de 58 mil pessoas filiadas a partidos políticos. O montante representa 16% dos 358 mil habitantes distribuídos em 38 municípios. Quase metade dos correligionários está registrada nas maiores cidades do Vale, Lajeado, Estrela, Taquari, Encantado, Teutônia e Arroio do Meio.
Assim como no âmbito federal, os dez partidos com maior número de militantes são PMDB, PP, PDT, PT, PSDB, PTB, DEM, PSB, PR e o PPS. Juntos, contabilizam quase 57 mil filiados, o que representa mais de 98% do total registrado pelo TSE no Vale do Taquari.
Além das dez maiores, as demais siglas representadas na região são PSD, PSDC, PSC, PTC, SD, PV, Psol, PSL, PRB, PPL, PRP, PC do B, PTN, PT do B, PROS, PHS, REDE, PCO e o NOVO. Entre as cidades da região, Lajeado e Taquari têm o maior número de partidos registrados, com 26 e 22, respectivamente.
As duas cidades também apresentam o maior número de filiados. Lajeado, com 78 mil habitantes, tinha – em março – um total de 5,9 mil correligionários, o que corresponde a pouco mais de 7% do total de moradores. Já em Taquari, cuja população é de 26 mil, os partidos já angariaram 23,7% desse montante, chegando a 6,1 mil partidários.
Os números foram computados antes da janela de transferências, entre os dias 2 de março e 2 de abril. Durante esse período, filiados com cargos eletivos puderam trocar de sigla sem risco de perderem seus mandatos. No dia 14 de abril, os partidos políticos enviaram ao TSE as respectivas listas oficiais com todos os correligionários.
Excessos no interior
Diferentemente dos maiores centros urbanos, as cidades com menores taxas de população apresentam altos índices de filiados por habitante. Em Forquetinha, por exemplo, mais de 40% da população tem filiação partidária. Lá, são seis siglas registradas, com destaque para a ausência do PT, partido que comanda o governo federal por quatro mandatos.
Entrevista com sociólogo e cientista político, doutor em Sociologia pela USP, Flávio Eduardo Silveira
A Hora – Por que em municípios menores é possível ver um número maior de filiados por habitante?
Flávio Eduardo Silveira – Nesses municípios pequenos, as relações entre vereadores, prefeitos e comunidade são bem mais próximas pelo dimensionamento do município. Quanto menor, maior proximidade. A tendência é de uma relação mais intensa entre a comunidade, com maior circulação de informação e trocas sociais. Isso se reflete na política. Também é possível verificar que os candidatos a cargos são de famílias próximas. Há uma teia de relações familiares bastante extensa. E os partidos precisam de filiados por diversos motivos, principalmente para sustentação política. Mas esse alto número de filiados não significa que há mais politização dos eleitores. Há relação, interação. A proximidade possibilita isso. As pessoas se conhecem e estabelecem relações que se refletem na esfera política.
O índice de 16% de filiados sobre a população é alto ou está na média?
Silveira – Acredito que um índice de 5% pode ser considerado alto e relevante. É o perfil da região, com cidades menores, que estabelece esse índice. Nas grandes cidades, a relação entre candidato e eleitor é mais distante. No centros urbanos, a relação se estabelece de outras formas, como pela mídia, por exemplo. O corpo a corpo é menor. Há uma diferença grande no nível de proximidade. Para vereador, então, a aproximação é muito menor em cidade maiores. O mesmo não vale para os candidatos de categorias profissionais, como médicos, advogados, professores. Pois com eles a base é próxima, outros os conhecem indiretamente.
A conjectura política atual, com a perda da credibilidade de grande parte dos agentes, pode afastar simpatizantes?
Silveira – Pesquisas vêm mostrando a preferência partidaria. Nota-se, nos últimos anos, o crescimento do posicionamento de pessoas que não têm partido. Essa proporção tem crescido a cada ano, e o PT era um dos poucos em termos nacionais que mantinha taxa de preferência elevada. Com toda a situação dos últimos dois anos, porém, houve uma queda e, com isso, cresceu a rejeição ao PT. Mas a preferência por outros partidos também é baixa. Observo que muitos se desfiliaram em função dessa baixa credibilidade dos partidos, ou simplesmente deixam de preferir, sem se desfiliar. De um modo geral, a preferência partidária caiu, e a taxa de pessoas isentas, que não declaram preferência por qualquer partido, está em torno dos 60%.