A semana mais gelada do ano prenuncia a chegada de um dos invernos mais rigorosos dos últimos tempos.
A mínima de 6.3ºC registrada ao amanhecer dessa sexta-feira, em Lajeado, foi a mais baixa para o mês de abril desde 2008 na região, quando os termômetros baixaram a 4.4ºC.
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A queda brusca nas temperaturas pegou muitas pessoas de surpresa. Além de apelarem às vestimentas grossas, elas retomaram hábitos típicos da época, como consumir pinhões e acender o fogão à lenha para esquentar o ambiente.
A maior mudança de rotina ocorre no interior dos municípios, onde predomina a agricultura familiar.
Mudam-se os hábitos alimentares, a lida diária no campo e a interação entre pais e filhos. Quase tudo que se consome em casa provém da propriedade, como a madeira utilizada todos os dias no fogão à lenha.
Meses antes do frio ganhar força, a lenha é cortada e armazenada para que possa secar a tempo do inverno, como ocorre na propriedade da família de Alcione Zangalli, 39, de Picada Serra, em Marques de Souza. “Já no verão estamos nos preparando para o frio e guardando a madeira no galpão para ela estar pronta quando precisar.”
O estoque de madeira serve também para manter o sistema de aquecimento dos três aviários, onde estão alojados cerca de 80 mil frangos. Quando o frio começa, Zangalli, a mulher e os dois filhos aproveitam para se reunir no entorno do fogão à lenha, onde preparam os pinhões colhidos na propriedade. Tal hábito é cultivado por gerações.
“Meu já havia semeado muitos pinheiros e eu, quando criança, plantei mais de 30 árvores. Hoje temos 15 pés produzindo.” O pinhão excedente é distribuído para familiares e vizinhos. “Isso quando conseguimos tirar as pinhas do alto do pinheiro”, brinca o agricultor.
Na família do agricultor Cleber Alves de Maia, 36, de Sete Léguas, Boqueirão do Leão, a colheita de pinhão vigou negócio e incrementa a renda mensal. Acostumado a escalar as araucárias para recolher as pinhas desde jovem, chega a faturar R$ 10 mil por temporada. Devido à baixa produção neste ano, estima coletar apenas duas toneladas.
A vinte metros de altura
A tarefa de colher o pinhão requer habilidade e horas de persistência. Maia encara alturas que ultrapassam os 20 metros, risco, segundo ele, compensado pelo retorno financeiro. “Em momentos de crise, todo dinheiro que entra é muito bem-vindo. Moro com minha mãe e repartimos as despesas de casa. Trabalho no campo quando não estou focado na colheita do pinhão.”
Maia vende o quilo do produto a R$ 5. No ano passado, o preço médio era de R$ 3,50. Além de atender a demanda local, Maia tem clientes em Lajeado e outras cidades da região. “Tenho fila pelo produto. A demanda é muito grande.” Em dias de boa colheita, chega a retornar para casa com 50 quilos. Outras três famílias, também na localidade de Sete Léguas, comercializam pinhão, mas em volumes menores.
Baixa oferta eleva preços
O mercado de lenha e pinhão disparou nesta semana. Proprietário de uma tenda às margens da ERS-130, em Lajeado, Antônio Airton Severo, 49, vendeu mais de meia tonelada do alimento nos três primeiros dias de frio. “Fomos pegos de surpresa com essa queda brusca de temperatura”, aponta ao citar que sequer havia comprado as sacas de madeira para o inverno.
A lenha, trazida de Triunfo, chega no decorrer da próxima semana. Cada saca com 18 quilos será vendida a R$ 10. Por enquanto, observa Severo, o pinhão é comercializado ao mesmo preço. Contudo, passará a R$ 15 nos próximos dias em virtude da escassez no mercado gaúcho. “Quase não se produziu aqui no RS. Tenho que ir buscar no Paraná, o que eleva os custos.”
Principal produto nas vendas desta época o pinhão sai com mais frequência no fim do dia, quando, conforme Severo, as famílias estão indo para casa. Em uma semana de bom movimento, avalia, comercializa quase uma tonelada do alimento.
Mudança exige cuidados com a saúde
As baixas temperaturas mudam também os paladares. Mas especialistas alertam para os cuidados com a alimentação. Com o frio, as pessoas tendem a ingerir alimentos quentes, mais calóricos, e a reduzir o consumo de água, frutas e verduras.
Uma das indicações é optar por frutas menores, por exemplo, para não precisar acondicioná-las na geladeira. Além disso, sugere-se o consumo de alimentos ricos em vitamina C, que auxiliam na prevenção de gripes e resfriados.
Para quem prefere refeições quentes, o conselho é incluir no cardápio chás sem açúcar e caldos/sopas, que ajudam a aquecer e auxiliam na manutenção do peso por ter poucas calorias. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é preciso comer mais nesta época.
Temperatura sobe aos poucos
O fim de semana deve continuar ensolarado e frio no Vale do Taquari, conforme previsão do Centro de Informações Hidrometeorológicas (CIH) da Univates, de Lajeado. Neste sábado, uma massa de ar polar continua sobre o RS e garante o tempo firme.
No domingo, o sol predomina. As primeiras horas tendem a ser frias e, à tarde, as temperaturas ficam mais agradáveis. Na segunda-feira, pouca coisa muda e o sol continua. Ainda faz frio ao amanhecer, mas as marcas sobem de forma gradativa.
No decorrer da semana, de acordo com os atuais modelos, o tempo permanece seco e ensolarado. De acordo com o CIH, há divergências com relação às temperaturas. Um aponta que as marcas sobem gradativamente, diminuindo o frio ao amanhecer, e o outro que virá um reforço de ar polar por volta de quarta-feira, provocando uma nova queda de temperaturas.
Marcas registradas na semana
Terça-feira (26)
11,2ºC e 16,7ºC
Quarta-feira (27)
9,9ºC e 16,3ºC
Quinta-feira (28)
7,7ºC e 16,6ºC
Sexta-feira (29)
6,3ºC e 14,9ºC