A 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) confirmou, na sexta-feira, que o município está infestado pelo mosquito aedes aegypti.
A afirmação foi constatada após a confirmação de nove focos só em 2016, com 23 larvas encontradas nos bairros Moinhos, Florestal, Campestre e São Cristóvão. Classificação da cidade como “infestada” exige número maior de agentes epidemiológicos.
De acordo com o secretário de Saúde (Sesa), Glademir Schwingel, o Ministério da Saúde exige – para cidades infestadas do porte de Lajeado – um agente de endemias para cada conjunto de mil imóveis. Hoje, Lajeado conta com mais de 40 mil residências ou economias. Com isso, o ideal seria pelo menos 40 profissionais.
Schwingel cita que os focos foram descobertos em áreas urbanas – muitos próximos a rodovias – que não contam com a atuação de agente comunitário. Hoje, informa o secretário, o município conta com uma equipe específica de vigilância ambiental composta por um biólogo, um enfermeiro e os nove agentes de endemias, além do apoio de toda atenção básica e de outras secretarias.
Além de Lajeado, pelo menos outras 190 cidades do RS estão infestadas pelo mosquito transmissor da dengue, do vírus zika e da febre chikungunya. Com a definição de infestação por parte do estado, as armadilhas serão retiradas para não se transformarem em pontos de proliferação. Ficam apenas os chamados Pontos Estratégicos (PE). Nesta semana, também é desencadeado o Levantamento de Índice Rápido do Aedes (Lira).
Outra medida prevista é a multa aos proprietários de estabelecimentos, terrenos ou casas que não contribuírem com o combate. Segundo a Sesa, a última amostra positiva foi no bairro Florestal, na rua Ernesto Berner, no dia 19 de abril.
“Será difícil sair dessa condição”, diz secretário de Saúde
A Hora – A partir da confirmação pela 16a CRS, o que muda na programação da Sesa no combate ao mosquito da dengue?
Glademir Schwingel – O que muda é que o município é de alto potencial para uma eventual epidemia, tanto da dengue quanto da chikungunya ou mesmo o vírus zika. Foram encontradas larvas em pelo menos nove pontos nas últimas semanas. Nesta semana, começamos a fazer uma averiguação de cerca de 5% dos imóveis da cidade, em quadras previamente sorteadas, que tem o objetivo de identificar se há ou não a presença de larvas ou mosquitos. Aumentaremos a atenção no trabalho dos agentes de endemias e dos comunitários de saúde. Enfim, é uma tarefa para o dia a dia que depende, também, em grande parte, do envolvimento da população.
Quantos agentes epidemiológicos por imóveis são exigidos para cidades consideradas “infestadas”, e quantos agentes Lajeado tem hoje?
Schwingel – Nós tínhamos seis agentes e passamos, desde o início de março, a contar com nove. O Ministério da Saúde repassa recursos para ajudar a custear cinco deles. No início do ano, recebemos outros R$ 26 mil para desenvolver ações contra a dengue. Só isso. Ou seja, o trabalho duro é do município e o custeio é do município. O ministério cobra a presença de um agente de endemias para cada conjunto de mil imóveis. Temos algo em torno de 40 mil imóveis, portanto, o ideal seria termos 40 agentes de endemias e mais um supervisor para cada grupo de oito. Algo absolutamente inviável no quadro econômico-orçamentário. Não vamos colocar tanta gente neste momento, preferimos apostar no envolvimento das pessoas, até porque não temos esse recurso.
O que é preciso ocorrer para que Lajeado deixe de ser classificada como cidade “infestada”?
Schwingel – O que temos é que desde o ano 2000 começamos a falar em dengue e desde lá o problema só aumenta, sendo um tema cada vez mais próximo da nossa região. Chegou a nossa vez. Será difícil sair desta condição. Para deixar de ser infestada, o único jeito é debelarmos o mosquito, ter um Lira sem encontrar novos focos, eliminar os focos que existem hoje e deixar de encontrar novos focos nos próximos meses. No nível de colaboração que temos hoje, é difícil, muito difícil.
Qual a principal causa para Lajeado, assim como outras 197 cidades, chegar a esse patamar de “infestada”?
Schwingel – A principal causa é ambiental, sendo que o mosquito vem se adaptando ao ambiente modificado pelo homem. Não se trata de aquecimento global, mas da concentração humana em grandes centros, aproximando as pessoas e criando espaços urbanos com saneamento básico precário, destinação inadequada de resíduos sólidos e líquidos e acúmulo de água em córregos, valetas e lixo jogado em locais impróprios. A principal causa, em resumo, é a ação do homem sobre o ambiente. A reversão se dá a partir do próprio agir do homem, mudando sua forma de agir. Mudar hábitos é muito difícil, mas é o caminho a seguir.