A imagem de uma mulher segurando uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em frente ao consulado brasileiro em Nova Iorque viralizou na internet.
A foto foi publicada em um perfil criado por admiradores do juiz Sérgio Moro, na madrugada da sexta-feira passada, junto com informações sobre uma suposta viagem financiada a integrantes do MST aos Estados Unidos para apoiar a presidente Dilma Rousseff durante reunião da Organização das Nações Unidas (ONU).
Com mais de 26 mil compartilhamentos e 30 mil curtidas em cerca de 48 horas, a postagem resultou uma série de comentários contra o movimento. Porém, ao contrário do que dizia a publicação, as pessoas da foto não integram o MST.
A imagem mostra simpatizantes do movimento que vivem em Nova Iorque. A mulher em destaque é Angela Wiebusch de Faria. Natural de Teutônia, vive faz dois anos nos EUA com o marido, funcionário de uma instituição ligada à ONU.
No dia 18 de abril, juntou-se ao grupo de voluntários Amigos do MST, que faziam um protesto em memória aos 20 anos do massacre de Eldorado de Carajás, ocorrido no Pará. A manifestação foi acompanhada e registrada pelo grupo de jornalismo alternativo Mídia Ninja.
Após a publicação falsa, amigos e parentes de Angela passaram a divulgar a postagem desmentindo as informações.
A página www.boatos.org, especializada em desvendar mentiras na rede, investigou a publicação original e confirmou se tratar de fraude.
Mesmo assim, a fotografia continuou a circular nas redes, acumulando curtidas e compartilhamentos. A imagem também passou a ser utilizada em montagens, chamadas de memes, divulgadas em páginas contrárias ao PT e ao governo de Dilma Rousseff.
Angela ficou sabendo das postagens por meio de amigos, que entraram em contato para alertar sobre a polêmica. “Eu fiquei chocada e me senti agredida. Usaram minha imagem com a bandeira do MST de uma forma totalmente manipulada e mentirosa.”
Conforme Angela, a repercussão do caso demonstra a existência de pessoas incapazes de acreditar que existem simpatizantes do MST em Nova Iorque. Conforme a ativista, o nível de ódio nos comentários, muitos com incitação à violência, demonstra a intolerância política que tomou conta do Brasil.
Família militante
Uma das filhas de Angela, Camila, reconheceu a mãe na imagem. “Me incomodei mais por estarem inventando que minha mãe foi paga. Também fiquei muito chateada com os comentários raivosos das pessoas.” Camila também é ativista e integrante de movimentos sociais.
Nesse domingo, participou de protesto em frente à casa do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). No dia da votação do processo de impeachment, o parlamentar exaltou a ditadura militar. Segundo ela, o ataque virtual sofrido pela mãe é semelhante aos que envolvem movimentos e atos do qual faz parte. “Sofro com ‘bullying’ todos os dias pela internet devido às coisas que curto e compartilho.”
Conforme Camila, as reações extremadas estão carregadas de ignorância política e têm relação com a cultura machista brasileira. “Tem muita gente que nunca na vida se importou com política e agora quer ofender pessoas que não pensam da mesma forma que eles.”
Mentiras populares
Levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP mostrou a dimensão das divulgações falsas nas redes sociais. Conforme o estudo, toda semana pelo menos 200 mil pessoas compartilham notícias falsas.
Na semana da votação do impeachment, três das cinco postagens mais compartilhadas no Facebook eram falsas. O grupo analisou 8.290 reportagens, publicadas por 117 jornais, revistas, sites e blogs noticiosos entre a terça-feira, 12, e o sábado, 16.
Com mais 90 mil compartilhamentos, a postagem “Polícia Federal quer saber os motivos para Dilma doar R$ 30 bilhões a Friboi”, do site Pensa Brasil, foi o boato mais publicado durante o levantamento. A informação foi desmentida pela JBS, empresa que controla o frigorífico.
Em seguida, aparecem duas publicações do site Diário do Brasil. Uma delas intitulada “Presidente do PDT ordena que militância pró-Dilma vá armada no domingo: ‘Atirar para matar’”, teve mais de 65 mil compartilhamentos. Uma nota oficial do PDT desmentiu o boato.
Conforme o relatório, os “virais falsos” atingem tanto opositores quanto apoiadores do governo. Uma das divulgações mais populares da web indica o juiz Sérgio Moro como sendo filiado ao PSDB. Apesar de desmentida em vários sites especializados, a mentira circula até hoje nas redes.
Fora da esfera política, empresas e marcas famosas como a Coca-cola, personalidades como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e atores da rede Globo são vítimas constantes da boataria na internet.