Marcela corre risco de extinção

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Marcela corre risco de extinção

Despreocupação na hora de colher e ausência de áreas produtivas podem fazer a marcela desaparecer nos próximos anos. Especialistas destacam cuidados necessários para manter a planta e aproveitar os benefícios medicinais.

Marcela corre risco de extinção

O tradicional rito de colher marcela na Sexta-Feira Santa pode estar com os dias contados.

É o que aponta estudo feito por um grupo de professores da Ufrgs sobre uma parcela das plantas medicinais mais utilizadas no estado.

No livro Plantas da Medicina Popular no Rio Grande do Sul, foram catalogadas 56 espécies distintas (34 delas nativas), e a tradição de colher a marcela no feriado santa foi apontada como uma das principais causas de sua provável extinção.

Segundo a técnica social e instrutora especializada no cultivo de plantas medicinais e homeopatia, Rogéria Flores, do escritório de São José do Sul, a colheita indiscriminada e a despreocupação quanto ao plantio deixa a cultura na eminência de desaparecer. “As pessoas apanham ela no período de floração, sem estar madura e o ciclo não se completa. Além de estragar, seu poder medicinal será menor.” O ideal é colher no fim de março.

O fato do feriado em alguns anos ser mais cedo e outros mais tarde influencia na preservação da planta. “Nesse ciclo a maioria das flores foi colhida verde.” O ideal, de acordo com Rogéria, é colher no fim de março, deixando algumas flores para criar sementes e possibilitar a germinação no ciclo posterior.

Em 2008, a Emater lançou a Campanha Plante Marcela – A Planta Medicinal Símbolo do Rio Grande do Sul. No entanto, os resultados ficaram abaixo do esperado. “É uma planta espontânea. Gosta de solos empobrecidos. Muitos adubam, o que não é aconselhado. Poucos têm o hábito de cultivar na horta.”

A recomendação é evitar a colheita em áreas de plantações onde são aplicados agrotóxicos. Rogéria pede que as pessoas evitem apanhar as flores em beira de estradas. As plantas colhidas nesses locais acumulam altos índices de chumbo e outros metais expelidos pelos veículos.

Chá milagroso

Por mais de 50 anos, Iara Maria Mallmann, 71, de Cruzeiro do Sul, segue o mesmo ritual toda Sexta-Feira Santa. Acorda de madrugada e vai em busca dos ramos que combatem má digestão, pressão alta, dores de cabeça e até queda de cabelos.

A regra é sagrada: a planta não pode ser colhida depois dos primeiros raios de sol. O orvalho, ressalta, também deve se fazer presente sobre as flores para que o chá não perca parte do poder curativo. “Se essas coisas não forem respeitadas, nem adianta tomar”, garante.

“É difícil cultivar”

Laura Ludwig, de Harmonia, mantém um dos únicos hortos de plantas medicinais do estado. Entre as mais de cem variedades cultivadas, está a marcela. Segunda ela, a planta precisa de dois anos até poder ser colhida. Cresce bem em áreas de vegetação baixa, em solos poucos adubados. “É difícil cultivar. A cada ano reduz o número de plantas, muito pelo uso demasiado de agrotóxicos nas lavouras.”

Integrante de uma rota turística do Vale do Caí, recebe visitantes de todo país. A oferta do chá sempre é menor do que a demanda. Por 10g, cobra R$ 3. Conforme Laura, é preciso ter consciência e responsabilidade na hora de colher. “Pode apanhar quando a flor estiver bem amarela. Muitas vezes no feriado ela já passou do ponto ou ainda está verde. Isso compromete seus princípios ativos e sua existência.”

O ideal é colher de manhã após o secar do orvalho. Não é recomendado apanhar na lua nova, pois seus benefícios medicinais estariam contidos na raiz e o chá faria menos efeito.

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