Internet chega a 55% das residências do país

Vale do Taquari

Internet chega a 55% das residências do país

Dados são de pesquisa do IBGE. Na região, lacunas no interior dificultam acessos

Internet chega a 55% das residências do país

Do pátio da casa em Alto Arroio Alegre, cerca de 14 quilômetros do centro de Santa Clara do Sul, Jéssica Hoppen, 19, usa o celular para acessar a internet.

A prática, comum na área urbana, era impossível para os moradores da localidade. Após a instalação de uma antena, há cerca de um mês, foi possível usar a rede de computadores.

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Como muitos da mesma idade, Jéssica mantém perfis nas redes sociais. Além do entretenimento, a rede possibilita melhorias às famílias. Com ferramentas de pesquisa, ela conseguiu baratear em cerca de 30% os custos com insumos para lavoura de fumo.

Celulares em alta

A realidade vivida pelos moradores de Alto Arroio Alegre demonstra a expansão da internet nos domicílios do país. Conforme levantamento feito pelo IBGE, em 67 milhões de domicílios do país, a disponibilidade do serviço cresceu em 6,9% na comparação entre 2014 e 2013.

No estudo mais recente, o serviço estava disponível em 55% das casas brasileiras, enquanto um ano antes o índice chegava a 48%, em relação a 2013. Os dados compõem o Suplemento de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), lançado no início deste mês.

Outra característica comum entre os usuários tem sido o uso de aparelhos celulares. Pela primeira vez, os itens, com 80,4%, superaram os computadores para acesso a internet. Um ano antes, o índice para os computadores chegava a 88,4%.

No meio rural, 52,4% da população pesquisada contava com aparelhos, demonstrando crescimento de 4,6% em relação a 2013. A Região Sudeste, com 5,6% de elevação, foi a com maior variação do número de aparelhos fora da área urbana.

Considerando a população com idade acima dos 10 anos em 2014, eram mais de 136,6 milhões de pessoas com aparelhos celulares. No comparativo entre os dois anos, da parcela de jovens com 10 a 14 anos, 54,1% tinham aparelhos celulares; entre os 15 e os 17, o índice subia para 80,8%.

A popularização dos celulares também fica expressa nos tipos de conexão da preferência dos brasileiros. A presença de serviços de banda larga móvel subiu de 43,5% para 62,8% em um ano. No mesmo período, a banda larga fixa caiu 5,2%, considerando a proporção de habitações com internet.

Sem sinal de rede

Apesar de morar próximo do local onde foi instalada a antena de transmissão, a família de Ivete e Ademar Bugs, 51, não consegue utilizar o serviço. A geografia do entorno, segundo eles, impede o recebimento do sinal. Uma das possibilidades seria a instalação de uma nova antena na propriedade.

Mesmo com isso, não há garantia de sucesso no projeto. Além do risco dos cabos serem danificados, o custo da infraestrutura, estimada em R$ 1 mil, é considerado alto pela família. Para a agente de saúde, a possibilidade de ter internet em casa geraria benefícios para o filho estudante e para sua rotina profissional. “Com isso poderíamos nos atualizar, com cursos e acompanhar notícias sobre a área. Hoje o mundo gira em torno da internet e estamos fora disso.”

Em Marques de Souza, panorama semelhante fazia parte da rotina da Escola Severino José Frainer. Hoje, a disponibilidade do serviço beneficia 69 alunos faz cinco anos. O principal uso é para pesquisa escolar e perfis redes sociais são pouco comuns.

Na escola, segundo a diretora Simone Zambiasi, o uso do celulares é proibido.  Até a implantação na escola, direção e professores dependiam da rede de casa para complementar o trabalho. “O sinal foi melhorando com o passar do tempo, hoje podemos trabalhar bem, não é um acesso muito rápido, mas para a escola é suficiente.”

Bolhas comunicativas

Para o professor de Comunicação Social da Univates, Micael Vier Behs, a maior disponibilidade do serviço de internet não pode ser confundida com a expansão das redes de contato entre pessoas e culturas. De acordo com ele, apesar do serviço possibilitar essa interação, há uma predisposição de preservação de hábitos locais, além do fortalecimento de relações já existentes.

Behs ressalta a tendência de uma polarização de opiniões, além de uma adaptação mais rápida das novas gerações. Mais importante que a disponibilidade do serviço, afirma, é a atenção ao conteúdo consumido. “O espectro cultural não é explorado na prática. A conexão serve para reforçar os laços de amizade e nichos de contato existentes. É um meio tão fechado que não ocorrem novas interações.”

Segundo ele, entre as principais mudanças geradas pelo serviço na rotina das comunidades, está a tendência de migração de práticas e interações para o ambiente virtual. O professor destaca sobretudo o consumo de informação e atividades comerciais.

Mesmo sem acesso à internet, afirma, os aparelhos celulares se tornaram os principais mediadores das relações humanas. A inserção do equipamento é percebida na rotina das pessoas e estima-se que 80% consultem o celular logo após acordar. O barateamento de pacotes de dados da internet móvel é indicado por ele como um dos desafios para uma presença mais consolidada do serviço.

Alteração polêmica

A mudança do modelo de internet fixa para franquias no modelo utilizado para o serviço móvel tem gerado debates e mobilizações de usuários de todo país. Nele, os clientes pagam para ter acesso à certa quantidade de dados ao invés de velocidade estabelecida em contrato. Após atingir o limite, a empresa contratada pode reduzir o desempenho ou cessar o fornecimento.

Empresas como Claro, Net e Embratel já usam o modelo desde 2004. A Vivo cogita adotá-lo a partir de fevereiro de 2017. Além delas, a Oi tem o modelo previsto em contrato, apesar de não impor alterações no serviço após consumo do pacote contratado. Pela comunidade virtual Avazz.org, uma petição on-line contrária ao modelo havia reunido mais de 1,6 milhão de assinaturas até o fechamento da edição.

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