Se a crise econômica traz insegurança e motiva retração na maioria dos negócios, o mesmo não se pode dizer do setor de franquias.
Em ascensão no país desde o início da década, o segmento manteve o fôlego mesmo com a recessão e aposta nos municípios com menos de cem mil habitantes para manter o ritmo de crescimento.
Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) apontam para essa tendência. Estudo divulgado pela entidade mostram que 40% dos municípios brasileiros têm ao menos uma empresa franqueada.
Das 78.743 franquias no país, 85% estão concentradas em cidades maiores, mas o cenário começa a se inverter diante da diferença dos custos fixos dos negócios. Conforme a ABF, enquanto um aluguel em São Paulo representa investimento mensal de R$ 12 mil, em uma cidade do interior os valores para espaços semelhantes caem para RS 1,5 mil.
Muitas franqueadoras também cobram valores diferentes por unidade instalada em cidades menores. Uma conhecida marca de roupas íntimas femininas cobra cerca de R$ 450 mil para a aquisição de uma franquia em capitais. Para cidades com menos de cem mil habitantes, o valor cai para R$ 180 mil. A ABF calcula em R$ 500 mil o valor médio para adquirir uma franquia em uma capital, investimento que cai pela metade em municípios menores.
Entre as peculiaridades do segmento no interior, está a preocupação com a chamada propaganda boca a boca, aponta a associação. Como muitas pessoas se conhecem, um atendimento bem-feito tem potencial para gerar efeitos mais positivos do que algumas estratégias de marketing.
O menor custo de investimento e operações em cidades pequenas não representa a certeza de lucratividade.
Como em qualquer negócio, a ABF recomenda estudos de viabilidade precisos, além de um planejamento bem elaborado para evitar prejuízos capazes de colocar o investimento em risco.
Destaque gaúcho
Com 52 franquias instaladas na cidade, Lajeado aparece em oitavo lugar entre os municípios brasileiros com até cem mil habitantes com mais lojas do segmento. A cidade é o principal destaque do setor no RS, ao lado de Gramado, que tem 47 franquias instaladas.
Franquias de renome internacional, como Subway e Burger King, respectivamente maior e segunda maior rede de fast-food do mundo, e marcas brasileiras famosas como O Boticário, Lojas Renner, Livraria Nobel, Lojas Americanas, Chilli Beans e Cacau Show têm unidades na cidade.
Além disso, o município começa a despontar no cenário de franqueadoras, com iniciativas de empresas como as Lojas Calci, Pizzaria Di Napoli e X Picanha Delivery. Sócio da rede Calci, Nilto Colombo optou pelo formato devido à chance de alcançar projeção nacional e possibilitar investimentos de empreendedores interessados no setor.
A decisão veio após um estudo de viabilidade. Conforme Colombo, o plano de negócios incluiu análises do mercado de calçados no país e das principais dificuldades dificuldades enfrentadas nas lojas pequenas e médias. “Procuramos soluções para os problemas e contatamos consultorias para nos auxiliar no processo.”
Um dos obstáculos enfrentados por gestores de franquias é a falta de suporte por parte do franqueador. De acordo com Colombo, para evitar esse tipo de problema, foi definido um modelo com forte apoio na gestão do negócio.
“Formatamos sistemas e métodos para administrar a distância ou localmente, focados na rentabilidade, controle de estoque, gestão financeira e de pessoas”, destaca. Segundo ele, um dos motivos para o crescimento do setor é o fato de o investidor adquirir, junto com a franquia, o conhecimento acumulado pela franqueadora.
Redução de riscos
De acordo com Colombo, ao apostar em uma franquia, os empresários buscam a segurança inexistente em negócios sem apoio. Segundo ele, enquanto apenas 15% dos negócios prosperam após cinco anos, o índice de sucesso das franquias chega a 85% no mesmo período.
Apesar dos números animadores, Colombo alerta para a necessidade de conhecer os franqueadores e o mercado antes de realizar um investimento. “É preciso confiança, pois existem três mil franquias no país, de todos os tipos. Nem sempre a que dá certo para uma pessoa funciona com outra.”
Entre as dicas para reduzir os riscos, Colombo destaca a seleção de um segmento apreciado pelo investidor, além de assegurar o suporte adequado ao conhecimento e necessidade do empresário. “Algumas franquias vendem apenas a marca, cobram royalties, enviam manuais, mas não colaboram na gestão. Outras oferecem suporte completo. A opção varia conforme a pessoa.”
Entre os cuidados recomendados pela ABF, estão uma análise cuidadosa da Circular de Oferta de Franquia (COF), documento entregue pelo franqueador aos interessados. Nele, constam informações essenciais, como taxas e royalties, prazo de contrato e o território de atuação da companhia.
Segundo a ABF, a maioria dos contratos de franquias inclui cláusula que impede o franqueado de abrir outro negócio na mesma área de atuação até mesmo depois do fim do contrato. As cláusulas de rompimento da parceria também precisam sem minuciosamente analisadas, a fim de evitar transtornos em caso de fechamento do negócio.
Por fim, a Associação recomenda conversas com demais franqueados e ex-franqueados. Entre as perguntas consideradas importantes, estão o cumprimento de promessas, a qualidade do suporte e a receptividade do público ao negócio.
Crescimento em ano de crise
A receita do mercado de franquias em 2015 chegou aos R$ 139,5 bilhões no país. Apesar da crise, o setor cresceu 8,3% em 2015, conforme dados da ABF. Para 2016, a projeção é de avanço de 6 a 8% no faturamento. No ano passado, o total de unidades franqueadas em operação no Brasil chegou a 138,3 mil. O aumento é de 10,1% em relação a 2014.
Segundo a pesquisa, o segmento que mais cresceu foi o de calçados e acessórios pessoais, com alta de 12% na receita. Em seguida, aparecem redes de conveniências, com alta de 10,2%, e o segmento de alimentação, com elevação de 8,9%.