Bonito e barato: brechós se reinventam

Comportamento

Bonito e barato: brechós se reinventam

Com acervos de peças vindas até do exterior, os brechós de novo conceito conquistam espaço como alternativa para driblar a crise. A filosofia do “garimpo” também se preocupa com consumismo e danos ao ambiente

Bonito e barato: brechós se reinventam
oktober-2024

Foi-se o tempo em que falar de brechó remetia a um lugar para itens desgastados e ultrapassados. Em meio à crise financeira, esse nicho de mercado percebeu oportunidade e se modernizou.

Com peças bem cuidadas, seminovas e exclusivas, os brechós se destacam em meio às lojas. A possibilidade de renovar o guarda-roupa por um preço baixo é o maior atrativo.

Rita de Cássia Quadros, de Estrela, não tinha costume de comprar itens usados. Localizado próximo à sua residência, conheceu o Bonequinha de Luxo. “O ambiente aconchegante e as luzes chamativas me cativaram.” Segundo a proprietária Beatriz Klein, a intenção da decoração é fugir da ideia de brechós serem lugares “feios”.

Desde blusas e calças a casacos e sapatos, Rita encontrou no local uma forma de manter o estilo em dia gastando pouco. A “filosofia” do brechó, de desapegar do que não se usa mais, ainda precisa ser difundida na região, opina. “Assim, a peça não fica parada e sem uso. Essa ‘roda’ precisa girar.”

Aberto em março do ano passado, o Bonequinha de Luxo surgiu da paixão de Beatriz por moda. O trabalho todo é realizado em conjunto com a designer de Moda Bruna Ribeiro. O chamado garimpo, ato de comprar itens para comercializar no brechó, é uma das atividades favoritas da empresária. “Procuramos na região, capital, fora do estado e até no exterior.”

É difícil conseguir artigos masculinos, diz Beatriz. Ela ainda brinca: homens usam as roupas até ficarem desgastadas, então, é difícil passar adiante. Por conta disso, o perfil do público do brechó é de mulheres entre 25 e 50 anos. A aceitação tem sido boa, conta. “É gratificante ver as pessoas consumindo de maneira consciente.”

Segundo ela, o brechó explora o atual cenário econômico. “Combinado à qualidade dos produtos, o preço baixo chama a atenção.” O conceito de consumir peças usadas ganhou outro significado, o que ajuda na difusão da ideia. “No exterior e na capital, por exemplo, os brechós são negócios populares e bem-vistos.”

Muitos clientes do Bonequinha de Luxo entendem o brechó como uma forma de consumir de maneira ecologicamente correta. “A maioria das roupas hoje é fabricada na China, devido à mão de obra barata por meio do trabalho escravo existente lá.” E todo o processo de fabricação e descarte de roupas causa poluição, diz Beatriz. Nesse cenário, a reutilização das peças se torna uma alternativa.

Beatriz ressalta o Projeto Guarda-Roupa Consciente. Por meio dele, encontra peças em closets de clientes e também presta assessoria de moda em busca do estilo pessoal. O foco é o reaproveitamento de peças sem uso. Essas ainda podem ser customizadas, compradas para venda no brechó ou enviadas à doação, lembra a empresária.

Alternativa escolar

O brechó da Associação de Pais, Professores e Amigos (Appa) do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) surgiu em 2006. O objetivo era reaproveitar os uniformes. “As crianças e adolescentes crescem e se formam, mantendo em casa itens em bom estado”, diz Márcia Sachett, presidente da Appa.

De acordo com ela, o evento é realizado toda segunda quinta-feira do mês. Os uniformes são entregues pelos pais e responsáveis no dia do brechó. As peças então são avaliadas e catalogadas. Depois de vendidas, os donos recebem por meio do site do colégio notificação sobre o valor a receber.

Um percentual fica com a Appa e é revertido em benefício da comunidade escolar, com promoção de palestras e aquisição de materiais didáticos. Uma vez por ano, em dezembro, também é promovido brechó de livros. A iniciativa reduz o consumismo e ajuda os pais a economizar.

Brechó para os pequenos

Depois do nascimento do filho, Joici Sonda enfrentou problema comum entre pais de primeira viagem: a perda rápida das roupas compradas para o bebê. “As peças serviam por pouco tempo e permaneciam em bom estado.”

Por dica das amigas, ela conheceu brechós infantis em Porto Alegre. No primeiro momento, hesitou em comprar roupas usadas, relembra. Mas, ao conhecer a proposta dos locais, se surpreendeu.

As lojas não lembravam em nada o antigo conceito de brechó. “Eram organizadas, com roupas bem cuidadas e preços acessíveis.” Então uniu a descoberta à vontade de ter o próprio negócio. “Junto de meu marido, identifiquei oportunidade para trazer a ideia a Lajeado e região.” Inauguraram assim o Brechó Bambolê.

As peças são de clientes que trocam roupas dos filhos. Após higienização e pequenos reparos, são disponibilizadas para venda. Segundo Joici, é comum os itens serem confundidos com novos, pois normalmente estão em bom estado em virtude do pouco tempo de uso. O público é diversificado, com pais, avós, tios e padrinhos. As mães ainda são as maiores compradoras.

Uma das propostas do brechó infantil é o consumo consciente. Desocupar as gavetas e renovar o armário fazem as peças sem utilidade irem para alguém que realmente vai usar. “É uma forma inteligente de vestir o filho.” Para Joici, ser chique é estar bem vestido, independente de a roupa ser usada ou nova.

O brechó infantil Bambolê foi iniciativa inovadora na região. Segundo a proprietária Joici Sonda, os produtos são, em sua maioria, seminovos. O local também disponibiliza brinquedos.

O brechó infantil Bambolê foi iniciativa inovadora na região. Segundo a proprietária Joici Sonda, os produtos são, em sua maioria, seminovos. O local também disponibiliza brinquedos.

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