Um dos setores mais relevantes da economia regional apresenta sinais de recuperação. As exportações de calçados fabricados no RS cresceram 40% no primeiro trimestre deste ano em relação a 2015.
Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e mostram que o estado continua no topo da produção calçadista do país.
Entre janeiro e março, as empresas gaúchas exportaram 6,46 milhões de pares, gerando uma receita de US$ 96,4 milhões, 9,5% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein vê no resultado uma ligeira recuperação do setor após períodos de queda. “Existe uma recuperação gradual, mas ainda está muito aquém do esperado para o período.” Conforme Klein, a perspectiva para o resto do ano é positiva, apesar da crise política.
Segundo ele, um dos principais motivos é a desvalorização do real frente ao dólar. “Não perdemos mercado e a taxa cambial possibilita uma formação de preço mais competitivo” Mesmo assim, ressalta a insegurança no mercado internacional em relação à instabilidade econômica.
Lembra que, em poucos meses, a cotação da moeda americana passou dos R$ 4 para R$ 3,50. “Os importadores esperam o melhor momento para fechar negócios, o que acaba atrasando ou até inviabilizando embarques.” De acordo com o economista Adriano Strassburger, a queda recente na cotação do dólar ocorre em função de ações do Banco Central para estabilizar a moeda. Mesmo assim, considera o patamar ainda elevado, facilitando as exportações.
“Como a crise é de médio e longo prazo, se estendendo a 2017, os setores exportadores ainda têm motivos para se manter eufóricos com o valor da moeda americana”, avalia. Para ele, esses segmentos são capazes de manter ou aumentar a produtividade e absorção de mão de obra perante a crise.
Nesse cenário, considera a balança comercial favorável, mesmo com a utilização de componentes importados, que encarecem o preço final do calçado. “Se fica mais caro importar, a entrada de calçados produzidos em países como a China diminui no mercado interno, favorecendo a indústria nacional.”
Para Strassburger, caso o dólar volte aos patamares registrados em anos anteriores, o setor calçadista enfrentaria sérios problemas. Entre os resultados previstos, estão a perda de mercado internacional e o aumento das vendas de importados no mercado interno.
Redução no país
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que o crescimento nas indústrias gaúchas não segue a tendência nacional. Em março, as empresas brasileiras do setor registraram redução de 12,5% no faturamento das exportações em relação a 2015.
Ao todo, 10,56 milhões de pares saíram do país para o mercado externo em março, gerando um total de US$ 79,77 milhões. Segundo maior estado exportador, o Ceará embarcou 12 milhões de pares no primeiro trimestre, queda de 9,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em terceiro lugar aparece São Paulo, com 2,5 milhões de pares e redução de 12% nas receitas.
Mercado internacional
Os Estados Unidos são o principal destino da produção calçadista nacional desde a década de 1970. Conforme a Abicalçados, nos últimos anos o Brasil havia perdido espaço no mercado norte-americano para produtos fabricados na Ásia, cenário que começa a se inverter.
No primeiro trimestre, foram embarcados 3,76 milhões de pares ao país, com faturamento total de US$ 49,53 milhões. Os dois indicadores cresceram 19% em relação a 2015. O segundo principal destino é a França, responsável por receber quatro milhões de pares no trimestre.
O principal crescimento ocorre no mercado argentino. Com o fim de políticas protecionistas adotadas pelo governo de Cristina Kirchner, as exportações para o país vizinho cresceram 72,4% no trimestre. Os números colocam a Argentina como o terceiro principal destino dos calçados brasileiros, com 1,4 milhão de pares embarcados de janeiro a março.
A importação de calçados apresentou queda de 27,6% em volume e de 35,5% em valores no primeiro trimestre. Ao todo, 8,17 milhões de pares entraram no país ao custo de US$ 101 milhões, vindos principalmente do Vietnã, Indonésia e China.