Tecnologias e inovações no setor leiteiro foram os assuntos principais do II Seminário de Interação Tecnológica Universidade-Empresa (Situe), evento organizado pelo Parque Científico e Tecnológico (Tecnovates) da Univates em parceria com a Alltech.
Entre os palestrantes, estava o pesquisador holandês Johannes Joephus Maria Driessen, formado em Veterinária pela Universidade de Utrecht. Durante a pesquisa, passou seis meses em uma fazenda leiteira na Arábia Saudita.
É pioneiro em treinamentos sobre cow signals (sinais da vaca), que já foi reaplicado em mais de 55 países e é baseado no processo de observar o rebanho, pensar e atuar. Em 1999 desenvolveu o primeiro workshop.
Segundo Driessen, os sinais físicos apresentados pelas vacas fornecem indicadores sobre a situação do animal em aspectos relacionados à saúde e bem-estar, o que reflete diretamente na produtividade. “Inexiste sistema 100% eficiente, mas quanto melhor o conforto, o tratamento oferecido, maior o retorno.”
Nas visitas a fazendas brasileiras, o principal problema constatado foi o contato de esterco com o alimento. Chamou atenção para a necessidade de sombra, espaço e luz (16h por dia) para o rebanho, tendo em vista as altas temperaturas.
Para evitar o estresse calórico, o ideal é manter o gado num ambiente onde a temperatura varie entre 5ºC e 15ºC. Acima disso, já haverá queda na produção.
De acordo com o pesquisador, é preciso cuidar dos períodos de transição (seco e pré-parto), pois eles determinam a lactação subsequente. “Evite o estresse. Em alguns países, o produtor leva a água em balde ao lado da vaca e larga ração em cima do bezerro. Ordenha no mesmo momento em que ela lambe o filhote, que em seguida recebe o colostro.”
A forma de cuidar do rebanho é essencial. Para Driessen, pessoas tranquilas criam vacas tranquilas. Cita o exemplo de um produtor da Venezuela, que durante sete dias por semana dá colo aos búfalos menores. “Aumenta em 15% a produção. Pequenos detalhes são o segredo do sucesso.” Outra ação importante é cuidar das instalações para evitar machucados nas patas, pescoço e ombros na hora da ordenha e alimentação.
Na Holanda, existem 18 mil fazendas. Em cada uma, estão alojadas em torno de 90 vacas, cuja média produzida ao ano alcança nove mil litros. Ao todo, 80% do rebanho é criado no pasto (seis horas por dia) e 25% é ordenhado por robôs. “Cada produtor recebe meio centavo de euro a mais pelo litro quando cria o animal no pasto. Eles gostam de ver elas lá.”
“Produtor não tem informação”
O zootecnista Winston Giardini listou os quatro princípios básicos a serem seguidos pelos produtores de leite – genética, nutrição, conforto e manejo. “Precisamos fazer cálculos, saber quanto custa produzir um litro. A maioria não tem essa informação e por isso não tem como gerenciar o negócio.”
Para Giardini, quem determina a quantidade de leite produzida por animal é a qualidade da forragem. A pastagem precisa ter entre 5 e 8 centímetros de altura. “A vaca não tem dente na parte superior da boca, portanto, abraça o alimento com a língua e arranca. Se ficar abaixo disso, prejudica a digestibilidade.”
De acordo com o zootecnista, conforto e bem-estar em todos os locais onde o rebanho fica ajudam a melhorar a rentabilidade. Além da quantidade de proteína e do custo da ração, pede para o agricultor analisar a quantia de energia embutida. “Você alimenta bactérias e elas fornecem energia para o animal. Uma vaca que produz dez quilos ao dia precisa de 15 mega calorias.”
A quantidade de água fornecida ao rebanho e a sua qualidade é outro detalhe apontado pelo especialista. Um animal com peso de 600 quilos, alojado em um ambiente com temperatura acima de 25ºC, necessita de até 200 litros por dia. “Em torno de 95% das vacas passam sede, pois o líquido oferecido é de baixa qualidade. Dê para ela a água que você beberia.”
Giardini diz que as vacas têm quatro funções – comer, ruminar, deitar e produzir leite. “Animal que pensa não produz.” Já a função do produtor é oferecer o melhor alimento e muito conforto.
As atividades do II Situe seguiram com mais três palestras sobre tendências do mercado leiteiro e apresentação de projetos de pesquisa e desenvolvimento realizados pelo Tecnovates.
