Motorista foge de abordagem e acaba morto

Forquetinha

Motorista foge de abordagem e acaba morto

Jair Wolschick, 30, viajava com a família de Forquetinha para Santa Clara do Sul. Ao ser abordado pela BM, fugiu por não ter CNH. Depois de dez quilômetros, o carro enguiçou e o homem teria recebido os PMs a pedradas, que revidaram com tiros. O caso reabre discussão sobre a abordagem policial. CRPO e Polícia Civil instauraram inquéritos para averiguar os fatos.

Motorista foge de abordagem e acaba morto

Um passeio em família acabou em tragédia na quinta-feira à noite. Moradores de Alto Arroio Alegre, em Santa Clara do Sul, Jair José Wolschick, 30, a mulher Joice, 27, e os dois filhos – uma menina de 7 anos e um menino de 2 anos – voltavam para casa de carro por volta das 20h quando foram abordados pela Brigada Militar (BM). O homem tentou fugir por estar sem CNH, e acabou baleado. Essa foi a quinta morte decorrente de abordagem policial nos últimos anos.

A comoção tomou conta de familiares e amigos. No sepultamento, realizado na sexta-feira à tarde, surgiam perguntas do que ocorreu para tal desfecho. De acordo com informações da Polícia Civil (PC), Wolschick conduzia um automóvel Del Rey em Linha Sete de Setembro, Forquetinha, quando se deparou com uma viatura. Os dois policiais de plantão, de Forquetinha e Sério, deram ordem de parada, mas foram ignorados.

Neste momento, eles começaram a perseguir a família. Dez quilômetros distantes, o carro enguiçou em uma estrada de Arroio Alegre, próximo à divisa do município com Sério. Com a aproximação dos PMs, informa o delegado Juliano Stobbe, Wolschick teria saído do Del Rey e começado a arremessar pedras contra a viatura. Os policiais revidaram com tiros e, em determinado momento, houve luta corporal. Novos disparos foram efetuados e o homem morreu.

Segundo testemunhas, foram pelo menos dez disparos. Alguns atingiram o automóvel onde estava a família. As investigações preliminares foram feitas pela delegada de plantão, Márcia Scherer.

De acordo com ela, as versões apresentadas pela mulher da vítima e pelos dois policiais são parecidas. Wolschick não tinha antecedentes criminais e, segundo vizinhos, tinha uma boa relação com a comunidade onde vivia. Em outras duas ocasiões, ele teria sido pego dirigindo sem a CNH.

Polícias apuram os fatos

Dois inquéritos foram instaurados para apurar o caso. Um de origem da PC e outro por parte do Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Taquari (CRPO-VT), esse para averiguar a atuação dos policias na abordagem.

Segundo o delegado Stobbe, testemunhas são ouvidas a fim de averiguar os fatos. “É uma situação complicada. O caso ocorreu em lugar de difícil acesso, com pouca iluminação”, aponta ao citar a projeção de concluir as investigações dentro do prazo de 30 dias do inquérito. “Os policiais da delegacia já estiveram no local.”

Comandante do 22º Batalhão de Polícia Militar (BPM), o major Inácio Caye prefere não se posicionar sobre a atuação dos PMs antes da conclusão do inquérito, procedimento instaurado para apurar os “fatos, as circunstâncias e as responsabilidades dos policiais”. O resultado deve ser conhecido em 40 dias. São levadas em consideração provas levantadas pela investigação, tanto materiais como testemunhais.

No caso de ser identificado excesso por parte dos PMs, o inquérito da BM será encaminhado ao Ministério Público, que decide sobre oferecer denúncia à Justiça Militar, em caso de culpa, ou à Justiça comum, quando houver dolo. Os policiais passarão por acompanhamento psicológico e, dependendo da avaliação, podem ser afastados.

Faltam armas não letais

Embora Caye não se manifeste sobre a ação dos policiais, reconhece que o caso poderia ter tido outro resultado se a guarnição tivesse em mãos uma arma não letal. No entanto, em todos os 22 municípios de cobertura do 22º BPM, existem apenas cinco pistolas de choque, as chamadas “taser”. Há anos, a BM solicita junto ao Estado e ao escalão superior maior número desses armamentos, que custam em média R$ 2,8 mil. “Cada viatura deveria ter uma taser.”

O comandante da BM alerta para o crescimento de casos em que o cidadão reage à abordagem. Segundo ele, muitas vezes, a reação envolve armamentos. “Temos em média duas prisões por dia no BPM e, em muitas delas, enfrentamos esse problema.” Por isso, aponta, a corporação trabalha no sentido de não deixar que policiais atuem sozinhos.

Em todas as situações em que a parte abordada não corresponde, os policiais são orientados a fazer o uso progressivo de força. Há casos, no entanto, em que o PM não tenha à disposição no momento a ferramenta de trabalho adequada para conter a situação. “É precipitado falar nesse caso de Forquetinha em específico. Seria até antitécnico da minha parte fazer um juízo de valor antes que as investigações forem concluídas.”

Cinco mortes em três anos

O caso dessa quinta-feira reabre a discussão sobre o formato de abordagem da polícia. Desde julho de 2013, Wolschick e outras quatro pessoas foram mortas.

Em janeiro, o frentista José Carvalho Neto, 29, tentava ajudar um militar à paisana, em Roca Sales, que havia sido gravemente ferido por uma outra pessoa, e acabou confundido pelos PMs com o agressor e foi morto a tiros.
No dia 14 de julho do ano passado, o adolescente Miguel Osório Alves da Silva, 17, foi morto por um disparo de espingarda calibre 12 durante uma abordagem.

Paciente com diagnóstico de esquizofrenia, ele estaria sofrendo um “surto psicótico” quando foi morto em frente à sua casa, no Florestal, em Lajeado. O jovem tinha ameaçado a mãe com uma faca durante o surto e, ao avistar a guarnição, partiu em direção aos PMs.

Em janeiro de 2014, uma perseguição resultou na morte de Lucas Abel Knecht, também de 17 anos, de Arroio do Meio. O adolescente pegou a motocicleta do pai para ir até a casa da namorada. Ao passar por uma blitz, furou o bloqueio. Na fuga, foi atingido por um golpe de cassetete e colidiu contra uma árvore.

No dia 14 de julho de 2013, Lorran Rodrigues Diniz, 19, foi atingido com um tiro na perna, disparado por um policial militar em serviço em Santa Clara do Sul. A bala atingiu a artéria femural e a vítima morreu no HBB. Lorran e dois amigos estavam no centro por volta das 3h30min quando teriam se envolvido em uma briga com o policial, que utilizou spray de pimenta para afastar os envolvidos. Conforme a versão da BM, após chamar outra viatura, o agente teria recebido um golpe no pescoço e atirado contra a vítima.

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