Lajeadense se destaca em congresso nos EUA

Comportamento

Lajeadense se destaca em congresso nos EUA

Caroline Bücker saiu de Lajeado aos 16 anos, após se formar no Ensino Médio. Logo ingressou na UFRGS e se tornou aluna de Publicidade e Propaganda

Lajeadense se destaca em congresso nos EUA

A mente agitada e a vontade de inovar a fizeram buscar novas especializações e áreas para trabalhar. Sua experiência a levou a ministrar oficina na South by SouthWest, feira considerada uma das mais inovadoras da atualidade. Radicada em Porto Alegre, Caroline é referência no design thinking, metodologia aplicada na solução de problemas e busca por melhorias.

[bloco 1]

Toda primavera, a cidade de Austin, no Texas (EUA), se prepara para receber o congresso South by SouthWest (SXSW). Evento consolidado faz 30 anos, reúne música, cinema, interatividade e educação. Pessoas de todo o mundo se encontram, interagem e dividem conhecimentos durante palestras e workshops.

Figuras ilustres, referências e líderes mundiais, como Barack Obama, integraram a lista de participantes. Entre eles: a lajeadense Caroline Bücker. Hoje especialista em Design Thinking e diretora da Idealiza Tools & Methods, teve carreira iniciada no marketing. Foi junto a empresas que começou a aplicar a metodologia.

Durante o mestrado, teve contato com a área da educação. “Algo despertou em mim, foi quando encontrei meu propósito.” O trabalho voluntário realizado na ONG Abaquar, que encerrou as atividades em 2014, ajudou na decisão. Lá, aplicava o design thinking com crianças do bairro Santo Antônio. “Percebi que o trabalho estava de acordo com meus valores pessoais.”

Caroline ainda aproveitou para se inteirar das tendências e inovações apresentadas na SXSW ao lado da também lajeadense e gerente de projetos de marketing digital Fernanda Jung Antoniazzi.

A ideia da participação de Caroline na feira partiu de uma professora intercambista na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), vinda da universidade de Austin. A design thinker teve então de montar projeto para avaliação da comissão organizadora do congresso. Depois da aprovação, era hora de arrumar as malas rumo ao Texas.

A experiência foi única, relembra. A dinâmica montada por Caroline tinha como mote a ideia de se colocar no lugar do outro. Utilizando fotos, mapa da empatia e exercícios, ela fez o grupo se integrar. “Minha intenção era instigá-los a pensar sempre ‘fora da caixa’.” O público foi diversificado, com diretores, alunos e professores de museus. Representantes de empresas focadas em aprendizado também estiveram lá.

Caroline focou a atenção nas atividades voltadas à educação. Desde universidades a escolas, todos os segmentos americanos deste setor estavam presentes, lembra. A discussão era sobre o formato de ensino e melhorias necessárias, independentemente do papel do governo.

Na parte da educação, as atividades eram realizadas em sua maioria por meio de oficinas e mesas-redondas, relata Caroline. “As pessoas queriam participar das decisões tomadas.” O sistema era aberto e democrático, define.

Para guardar na memória

A palestra na área de educação mais marcante para Caroline foi da Ideo, empresa de design thinking. Serviu para ver que sua forma de trabalho, com sistema aberto e participativo, é igual a da grande corporação. “Deu para sentir: estou no caminho certo.”

Caroline ressalta ainda o Girls Lounge, um ambiente todo feito de fibra, semelhante a um aquário. Nele, estavam presentes executivas de grandes empresas. As apresentações eram feitas por jovens empreendedoras, contando como conseguiram consolidar empresas sendo mulher. A ação teve apoio de grandes nomes como Facebook e Unilever.

Todas as pessoas presentes no local estavam abertas a conversas e discussões, não importava a hierarquia. O espaço foi dedicado a todos que queriam se ajudar, define Caroline. “Em vez da disputa de egos, o aprendizado era o mais importante.”

No início, Fernanda se questionou por que da necessidade de ter um lounge feminino. “Eu pensava: se a busca é por igualdade, deveria ter um lounge masculino.” Essa foi uma das perguntas feitas para uma das palestrantes na ocasião.

A resposta foi: autoafirmação feminina será necessária enquanto se usar o corpo feminino para vender produtos e a mulher for vista como um objeto. “Ainda existe machismo nas empresas, onde mulheres recebem salários menores em comparação aos homens. É necessário mostrar que somos tão capazes quanto eles”, diz Fernanda.

Ela ressalta também a parte tecnológica vista na feira. A rotina de quem depende da tecnologia será bastante otimizada em cerca de 20 anos, diz. Uma das palestras pregava que em breve as pessoas poderão receber implante de chip para armazenar os dados desejados.

Metodologia inovadora

Caroline é especialista em Design Thinking. Trata-se de uma metodologia criativa usada para solucionar os chamados “complexos”. Esses são problemas diversos, em que se usa visão de várias áreas para encontrar elucidação.

O processo é dividido em quatro etapas. A primeira é empatia. Para exemplificar, Caroline cita a construção de um espaço infantil. Nesse momento, é preciso pensar como a criança quer se sentir e o que é importante para ela. “Vamos além de nossos próprios julgamentos.” Para o exercício, chamam o usuário para trabalhar junto.

Depois, vem a etapa de redefinição do problema. Utilizando ainda a visão do usuário, se perguntam qual o real entrave. A seguir, ocorre a ideação criativa, em que o grupo deve dar ideias sem nenhum tipo de censura. O próximo passo é reorganizar os tópicos e colocar o espaço infantil para funcionar. “Na prática, reparamos os erros e alcançamos o resultado mais rápido.”

A metodologia do design thinking pode ser usada na saúde, moda, comportamento e nas mais diversas áreas. Depois de trabalhar com empresas, Caroline teve contato com a educação por meio do mestrado. Apesar de focar nessa área hoje, não tem restrições. “A visão ampliada garante agregar conhecimentos. Tudo se completa.”

O design thinking tem o papel de quebrar algumas regras, diz Caroline. “Nos questionamos o porquê de continuar fazendo as coisas da mesma maneira de sempre.” Destaca estudos realizados na Inglaterra que concluíram que 7h é muito cedo para as crianças iniciarem os estudos.

“Isso é resquício da Revolução Industrial, quando os pais precisavam de um local para deixar os filhos.” Hoje, principalmente em cidades maiores, os trabalhos iniciam por volta das 9h. Por isso, o horário escolar será alterado futuramente.

Na implantação do método, Caroline às vezes encontra percalços. Os professores têm medo de inovar, pois são cobrados pelos pais, diz. “Vivemos em uma época em que os pais têm pouco tempo com os filhos. Então, todo o processo é delicado.”

Mas a maioria aprova e se anima ao participar do sistema de construção das mudanças. A intenção é que possam se empoderar e buscar por si mesmo as melhorias necessárias.

Acompanhe
nossas
redes sociais