A falta de manutenção e a dificuldade em manter os telefones públicos pode gerar a terceira sanção contra a empresa Oi em pouco mais de um ano.
Após ter sido obrigada a fornecer ligações gratuitas nos orelhões da marca para telefones fixos, nova determinação da Anatel exige que os aparelhos possibilitem ligações também para celulares da mesma área.
A medida vale a partir do dia 1º de maio em 14 estados, inclusive no RS, que conta com 44.764 orelhões. O motivo da punição é o não cumprimento dos índices de funcionamento dos aparelhos exigidos pela Anatel, de 95% para cidades que tenham apenas o serviço de telefonia pública e 90% para os demais municípios.
As cinco maiores cidades do Vale (Lajeado, Encantado, Teutônia, Arroio do Meio e Estrela), que juntas somam cerca de 183 mil habitantes, têm 30.887 orelhões. A Anatel alega que por defeitos no sistema não há como tabular o índice de funcionamento dos aparelhos na região.
As gratuidades, no entanto, não animam o comerciante Mário Spoelsa a retomar as ligações em orelhões, necessidade abandonada há mais de 20 anos. Dono de uma lancheria na av. Benjamin Constant, próxima de um telefone público, considera que com a universalização do serviço ficou mais simples ter telefone fixo ou celular.
Aos 53 anos, guarda lembranças dos orelhões. “Eu usava direto, mas depois que instalei um fixo nunca mais atravessei a rua para fazer uma ligação”, conta o comerciante que trabalha faz 31 anos no mesmo ponto. Relata ter vendido fichas e cartões de orelhões, dois itens que, segundo ele, “são raridade hoje.”
De acordo com os dados da Anatel, a cidade com maior número de aparelhos no Vale é Estrela, com 15.406 orelhões para os 32.748 habitantes. Já Lajeado tem apenas 311 telefones públicos à disposição dos 78.486 moradores.
A reportagem do A Hora foi ao centro comercial de Lajeado testar o funcionamento dos orelhões. Foram encontrados cinco aparelhos entre as ruas Júlio de Castilhos e Bento Gonçalves e na Av. Benjamin Constant. Desses, apenas um, localizado na Bento, estava funcionando. Os outros quatro, dois na Benjamin e dois na Júlio, estavam mudos.
O baixo índice de funcionamento é justamente o fato pelo qual a Oi vem sendo punida desde abril de 2015. No RS, dos mais de 44 mil aparelhos, 70,8% estão funcionando, de acordo com os dados colhidos pela Anatel em fevereiro de 2016.
Oi culpa vandalismo
Em nota, a Oi afirma cumprir as gratuidades determinadas pela Anatel. Questionada a respeito da nova obrigatoriedade da Anatel, a empresa disse ter sido notificada e afirmou que a decisão está em análise.
A Oi defende que, em razão de os telefones estarem colocados em vias públicas, “sofrem, diariamente, danos por vandalismo”. A empresa garante manter um programa de manutenção permanente em seus orelhões, além de disponibilizar um canal de atendimento pelo 10314.
Avanço tecnológico deixa orelhões obsoletos
A telefonia pública foi de grande importância para facilitar a comunicação durante muitas décadas no país e no mundo. Porém, com a popularização da telefonia fixa e o avanço da telefonia móvel e da internet, o uso e o número dos orelhões vem sofrendo redução constante.
Levantamento realizado pelo portal de notícias G1 em 2014 apontou que em dez anos o número de aparelhos caiu de 1,3 milhão para 875 mil em todo o país. Em 2015, a Anatel anunciou a desativação de 538 mil aparelhos em todo o país.