“Do convívio diário nasceu uma relação de confiança”

Vale do Taquari

“Do convívio diário nasceu uma relação de confiança”

Em um Fusca, com um retroprojetor e força de vontade, o engenheiro agrônomo Nilo Cortez ajudou agricultores a melhorar de vida.

“Do convívio diário nasceu uma relação de confiança”
oktober-2024

Foi no Vale do Taquari que Nilo Kern Cortez, engenheiro agrônomo, técnico agrícola e professor, escreveu sua história.

Nome ligado à agricultura e, por consequência à Emater, empresa pela qual se aposentou após mais de 37 anos de trabalho. Hoje, ele recebe do Legislativo o Título de Cidadão Lajeadense, honraria proposta pelo vereador Círio Schneider (PP).

Ele assumiu o escritório municipal de Lajeado em 1º de abril de 1977. Com auxílio de outros 13 colegas, prestava orientação técnica para 15 mil propriedades do Vale do Taquari. Em localidades afastadas, em ma época em que as informações eram escassas, sem energia elétrica e estradas precárias, o rádio era o único meio de comunicação entre os técnicos e as famílias.

“Avisava onde e que horário iria chegar aos municípios. Criamos um elo de amizade e de confiança muito grande, mantido até hoje.” As visitas eram feitas a bordo de um Fusca amarelo. Os produtores recebiam orientação sobre como encaminhar projetos para obter crédito bancário, melhorar a produtividade e acessar novas tecnologias.

Idealizador das agroindústrias

Em 1999, com a criação do Programa Estadual de Agroindústrias Familiares, Cortez passou por treinamento para atuar na área. Um ano após, foi inaugurado o primeiro empreendimento em Maratá.

Três mulheres criaram a Agroindústria Amigas da Nadir, especializada na produção de cucas. “Até me aposentar, mais de 300 agroindústrias foram instaladas”, orgulha-se.

Entre as frustrações, cita a ausência de uma central de compra de insumos e venda de produtos na região. “A ideia era ter uma miniCeasa. Me frustro até hoje por não ter conseguido implantar, mas ainda está em tempo.” Outra sugestão é instalar um ponto de comercialização na beira da BR-386.

Após deixar a Emater em 2013, Nilo passou a se dedicar à família e a trabalhos manuais como a confecção de casas de passarinhos. “Foi difícil parar, aceitar o fim de um ciclo. Mantenho apenas uma participação semanal em programas de rádio. No restante do tempo, aproveito para estar mais com minha família.”

“Estabelecemos uma relação de muita confiança e amizade”

Natural de Santa Cruz do Sul, Nilo Cortez se formou em Agronomia pela UFRGS. Em 1973, trabalhou durante seis meses em Minas Gerais (entre Pirapora e Unaí), em uma fazenda de 25 mil hectares, onde era responsável por melhorar a infraestrutura, desde pontes, casas, galpão e campo para pouso de avião.

Na volta, foi contratado pela Cedic de Porto Alegre, empresa responsável pela legalização de áreas industriais do RS. Prestou concurso na Ascar e foi admitido em 1º de dezembro de 1976. Fez estágio durante um mês em Arroio do Meio, Viamão e depois foi encaminhado para Crissiumal. Em 1º de abril de 1977, começou a trabalhar no escritório municipal de Lajeado.

A Hora – Como era atender as famílias do interior na época?

Nilo Kern Cortez – As estradas eram precárias e em muitas comunidades nem tinha energia elétrica. Os cursos eram ministrados em salões. O projetor de slides funcionava com bateria. Era o cinema da época. Em uma ocasião, a fiação estava pronta e quando cheguei no pavilhão preparei tudo para apenas ligar o projetor na tomada. Na hora da palestra, o aparelho não ligou. Nem tinha ligado a rede ao sistema de transmissão. Tive que improvisar. Isso me marcou muito. Com poucos restaurantes, a saída era almoçar na casa do agricultor ou levar um lanche. Estabelecemos uma relação de muita confiança e amizade.

Durante esta trajetória de 37 anos, o que mais lhe frustrou?

Cortez – Queria ter feito uma central de compra e venda de produtos, ter uma miniCeasa. Ter um ponto de comercialização na beira da BR-386. Hoje não temos uma estrutura para divulgar o potencial das agroindústrias e conseguir novos clientes. Mas o que mais me frustrou e talvez tenha sido o grande motivo pelo qual aceitei a proposta de me aposentar foram as questões envolvendo as áreas de legalização, ambiental, sanidade e fazendária. Em cada projeto, era a mesma briga. Sempre esbarrava no mesmo ponto. A coisa não evoluía. Chegou um momento em que isso passou a me irritar e eu perdia a calma. Como profissional e pela minha reputação, isso não poderia ocorrer. Aceitei sair.

O que significa receber este título?

Cortez – Nada disso eu conquistei sozinho. A boa relação com os agricultores, as entidades representativas das mais diversas áreas da região, os meios de comunicação, tudo ajudou para dar mais visibilidade ao meu trabalho. Dedico esta menção a todos que me ajudaram durante toda a minha vida profissional.

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