Da aldeia de Miraguaí, na reserva dos Guarita, indígenas viajam por diversos países para vender os mais de 90 tipos de chás medicinais.
Em Lajeado, ficam até sábado, na Praça da Matriz. A cultura milenar permanece viva para as duas mil famílias da Região Norte do estado.
A principal divulgação da cultura se dá pela venda das ervas. Garantida pela Funai, a comercialização dos chás não tem dedução de impostos. Ido Galvão, 58, veio da aldeia das Bananeiras.
Cultiva ervas desde criança, quando acompanhava o pai pelas matas. Sabe reconhecer o poder medicinal de cada planta. Já viajou pela Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. No Brasil, estados como o Tocantis, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná são os mais visitados.
Assim como todos da tribo, Galvão aprendeu desde cedo os benefícios das plantas. “Como o agricultor, que leva o filho para a roça, nós também aprendemos acompanhando os pais.”
O conhecimento passado por gerações é feito no contato com a terra. “A natureza pertence ao índio e o índio, à natureza.”
Galvão afirma que os chás têm poder de cura. “Tudo o que tem nos remédios é retirado da nossa natureza, das nossas ervas”. O aprendizado nunca termina. Segundo o índio, quanto mais velho, mais respeito é gerado.
Os segredos das plantas são passados desde a infância até a velhice. Na cidade desde a semana passada, a família diz ter sido bem recebida e recebeu alguns agradecimentos por consumidores que compraram chás e obtiveram melhoras.
Tratamentos naturais
O agricultor Gilmar Vieira de Carvalho, 38, veio ao centro pagar contas e fazer compras. Ao se deparar com os chás, parou para comprar. A mulher, Roselaine, queria comprar algo para emagrecer. “Prefiro chá do que tomar remédio, que sempre tem reações depois.”
De acordo com Galvão, a procura aumentou nos últimos anos. “O povo está optando mais pela natureza e deixando os remédios para último recurso.”
Entre as ervas, o índio afirma que o viagra natural é uma planta bem procurada. Semelhante à batata, adquire propriedades que aumentam a libido. “Quem mais procura são os jovens, principalmente mulheres.”
As ervas são indicadas para combater diabetes, dores estomacais, problemas na próstata e nas articulações. Para Galvão, não se pode negar o poder de cura natural, mas é preciso respeitar a doença. Nem sempre é possível resolver tudo por meio de chás. “Quantos antes iniciar o tratamento, melhor. Mas uma infecção avançada, por exemplo, é preciso ajuda médica”, conclui.
