Alta nos remédios preocupa aposentados

Vale do Taquari

Alta nos remédios preocupa aposentados

Reajuste de 12,5% é válido desde o fim de março e abrange cerca de 19 mil itens

Alta nos remédios preocupa aposentados
Vale do Taquari
oktober-2024

Com pouco mais de um salário mínimo, Eracy Azambuja, 81, e a mulher Adelina, 76, mantêm a casa e destinam cerca de 16,6% do orçamento familiar para compra de remédios.

Os medicamentos são para diabetes, pressão e coração. São gastos cerca de R$ 150 mensais, faz cerca de 20 anos. O índice pode aumentar com o reajuste de 12,5% nos medicamentos autorizado pelo Ministério da Saúde.

Conselheiro de Saúde faz 9 anos, Azambuja vê o aumento com preocupação. Mesmo com o uso de genéricos e com o recebimento de remédios gratuitos, a variação deve ser significativa no orçamento. Na avaliação dele, com o aumento do custo de vida, muitos idosos já apresentavam dificuldades financeiras.

De acordo com ele, é comum os medicamentos passarem por revisão de preços, mas o deste ano causou surpresa pela disparidade em comparação aos benefícios.  O controle do aposentado é rigoroso. Em uma pasta, guarda receitas, exames e recibos das compras.

Já os medicamentos são separados em caixas individuais, com o nome do casal. “Tu tem que ser um administrador ou não dá. Sempre tentar economizar em algum remédio.”

Azambuja ressalta a contribuição dos aposentados para o desenvolvimento regional e a participação da renda gerada pela categoria no comércio local. A constatação fica exposta em levantamentos sobre o tema.

De acordo com matéria publicada no jornal A Hora em julho do ano passado, 25,2% dos idosos do Vale do Taquari são responsáveis por custear as despesas familiares. Já segundo dados da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), pessoas com mais de 60 anos movimentam R$ 1,8 bilhão na economia do estado.

Entidades preveem impacto

A fixação de 12,5% no reajuste do preço dos medicamentos aos fabricantes deve ter impacto em diferentes setores da economia, queda no consumo e na qualidade de vida dos idosos. Essa é a projeção dos representantes da Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do estado (Fetapergs).

O posicionamento surgiu após a confirmação do reajuste por publicação no Diário Oficial da União (DOU) no início do mês. O índice foi proposto pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e abrange cerca de 19 mil itens. Apesar de oficializar a medida, o reajuste deve ser implantado conforme os estoques de cada item. A lista com os novos preços deve ser divulgada no dia 10.

Segundo resolução da CMED, de março deste ano, o reajuste leva em consideração o acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 10,36%, além de produtividade e custos. Pelo documento, a compensação pela elevação do dólar e eletricidade foi fixada em 2,14%.

Na avaliação do presidente da Fetapergs, José Pedro Kuhn, a medida terá influência direta na economia gaúcha. Para ele, a necessidade de investir mais na saúde deve diminuir a circulação de dinheiro no comércio.“Medicamento não deveria ser comércio. Estes 12,5% não são brincadeira. Vemos isso com preocupação. O benefício das famílias começa a ficar esgotado e isso muda a rotina do aposentado.”

Preocupação com a saúde

Pelas estimativas do presidente, os aposentados gaúchos gastam até 25% do orçamento familiar com a compra de remédios. Com o aumento da expectativa de vida, afirma, a tendência é de elevação nos índices. A categoria, de acordo com ele, costuma priorizar a saúde pessoal e os recursos gerados têm papel importante na economia. No país, cada aposentado sustenta até três pessoas, em média.

Kuhn classifica a falta de investimentos no setor da saúde como um agravante da situação. Na avaliação dele, é necessária uma maior atenção com a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos nacionais como forma de baratear a produção.

Assim como ele, a presidente da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas de Lajeado e Região (Atapel), Sílvia Kuhn, é pessimista quanto aos impactos da medida na rotina das famílias. A tendência, segundo ela, é de adaptação na compra de alimentos, além de maiores índices de endividamento. “As pessoas vão ter que optar e abdicar de outros produtos ou serviços. Isso deve ter resultado direto na qualidade de vida.”

Para ela, o aumento neste ano foi considerável e deve ter reflexos entre os aposentados da região. Entre os 1,3 mil sócios da entidade, a maioria se mantém com cerca de um salário mínimo.

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